A indústria brasileira de biodiesel viveu um ano de 2022 desafiador e está à espera de novas medidas do governo para que o setor prospere neste novo ano. A entrevista do Projeto Perspectivas 2023, do Petronotícias, ouviu o economista chefe da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Daniel Amaral, que explicou que o segmento de biodiesel foi fortemente impactado em 2022 – já que a mistura desse biocombustível ao diesel comercial ficou fixada em 10% (B10) durante todo o ano.
Por isso, o especialista sugere a implementação da mistura obrigatória de 14% de biodiesel ao diesel fóssil (B14) a partir de janeiro e do B15 (15%) a partir de março. “Além dos prejuízos econômicos para a cadeia produtiva, essa manutenção da mistura em 10% inibe a geração de empregos, enfraquece a agricultura familiar, traz instabilidade aos negócios, dificulta investimentos, aumenta a poluição e consequentemente a piora da saúde da população”, avaliou.
Se o cronograma do Conselho Nacional de Política Energética – CNPE fosse seguido, teríamos o B14 desde março de 2022 até fevereiro de 2023, e B15 a partir de março de 2023, reforçou Amaral.
De acordo com estimativas da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), esse não cumprimento da legislação impactou diretamente o setor, que apresenta hoje uma ociosidade acima de 50%. Em 2022, a produção de biodiesel será de cerca de 6,4 bilhões de litros, porém, este volume poderia ter sido de 9,6 bilhões. Ou seja, 3,2 bilhões de litros deixaram de ser produzidos, redução de 33%.
“Vale lembrar que a utilização de biodiesel na matriz de transportes reduz as emissões de gases de efeito estufa, em comparação ao diesel fóssil, em até 94%. Outro ponto preocupante é com a inflação gerada principalmente pela importação de combustível fóssil. Tem ainda o impacto direto na oferta de alimentos no Brasil, já que o aumento da produção de biodiesel proporciona crescimento do farelo de soja, proteína essencial nas rações animais”, completou.
Leia também: Teor de biodiesel no diesel continuará em 10% até 31 de março
Em relação às perspectivas para 2023 o setor tem algumas expectativas ss principais são:
– Aumento da produção e uso do biodiesel com previsibilidade e segurança jurídica, garantindo a manutenção e a ampliação de investimentos no setor de biocombustíveis
– Implementação da mistura obrigatória de 14% de biodiesel ao diesel fóssil (B14) a partir de janeiro e do B15 a partir de março
– Aumento progressivo de um ponto percentual ao ano até o B20 em março de 2028
– Adoção do B20 em todo o diesel vendido nas regiões metropolitanas brasileiras a partir de 2023.
A sugestão da Abiove é que o novo governo tenha um olhar estratégico para o setor. Valorize os biocombustíveis em geral e retome o cronograma do CNPE, respeitando os aumentos graduais da mistura de biodiesel. Os benefícios socioeconômicos e ambientais serão enormes e, havendo previsibilidade, o setor estará preparado para atendê-los, pois a capacidade instalada da indústria já dá conta de substituir até 18% do diesel fóssil com biodiesel, um combustível brasileiro, limpo, renovável e que atende as mais exigentes especificações de qualidade. Nesse sentido, com a safra de soja 2022/23 avançando, a definição do mandato em 14% (B14) para janeiro e fevereiro de 2023 e em 15% (B15) a partir de março será decisiva na realização desse círculo virtuoso. “É hora de investir no biodiesel”, frisa Amaral.