Depois da alta sobre o frango, o peso da elevação dos custos de produção nas granjas chegou ao ovo de galinha. A proteína alternativa para muitas famílias está cara e os valores cobrados no varejo assustam: em Cuiabá e Várzea Grande já passam de R$ 23. Há menos de dois anos, aquele cartela com 36 unidades podia ser encontrada a R$ 9,90.
Na ponta do lápis, para o consumidor, o preço da gôndola explodiu de 2000 para cá, revelando uma alta de 132% nos últimos dois anos. Já o preço cobrado/pago ao produtor variou menos de 8%, passando de R$ 134,35 a caixa com 30 dúzias de ovos brancos, em março do ano passado, para R$ 145 em fevereiro desse ano. O preço ao produtor e no atacado faz parte de um monitoramento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que para o ovo de galinha teve início no ano passado, portanto, sem uma série histórica que revele a trajetória dos preços.
O MT Econômico buscou junto às entidades do agro e que realizam pesquisas de monitoramento da cesta básica uma série histórica que apontasse a trajetória dos preços dos ovos no varejo, ao menos em Cuiabá. Mas a proteína não integra o rol dos 13 itens que compõe a cesta básica da Capital e por isso, não existem dados.
Conforme analistas, o preço do ovo subiu de preço por causa do aumento de consumo na pandemia e de fatores externos, indicadores que apontam para uma alta firme que deve manter o alimento caro no Brasil ao longo de 2023. A situação no Brasil é diferente do que acontece nos EUA na Inglaterra, atualmente castigados pela gripe aviária. Ainda existe o risco de a doença chegar por aqui, mas especialistas dizem que é remoto.
Os problemas brasileiros são outros: aumento da demanda acompanhado de baixa oferta e custo elevado de produção. Entre fevereiro de 2022 e fevereiro de 2023, o preço de venda no atacado da caixa com 30 dúzias de ovos brancos subiu 28,6%, para R$ 174,89 e a caixa com 30 dúzias de ovos vermelhos ficou 26,9% mais cara, chegando a R$ 198,82, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
A alta no varejo sofre ainda a interferência do período da Quaresma, quando os católicos evitam a ingestão da carne vermelha e optam por alternativas de alimentação, entre as mais buscadas o ovo e o peixe. Esse é um dos fatores que deve manter o preço da dúzia em alta.
Outro fator e vem pesado nas atividades pecuárias como confinamento bovino, avicultura e suinocultura é justamente a valorização das cotações dos farelos de milho e de soja que são a base da alimentação desses rebanhos, que em geral têm 70% da dieta originada dos subprodutos da oleaginosa e do cereal.
O país teve uma produção de 52 bilhões de ovos no ano passado, queda de 5,9% em comparação com os 54,9 bilhões produzidos em 2021, segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).
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O peso no orçamento com o item alimentação é sentido tanto para as famílias como para quem tem na venda de comida, o seu sustento. Janaína Amaral começou a fazer marmitas durante a pandemia, como forma de melhorar o orçamento da família. Como lembra, há cerca de dois anos – quando começou a vender comida, em Várzea Grande – pagava R$ 9,90 na cartela com 36 ovos. Aumentou para algo entre R$ 12 e R$ 14 e de 2022 para cá, as altas se tornaram constantes. “Já estou pagando R$ 23”, reclama ela. E completa: “A alta parece ser algo tão sistêmico que não adianta comprar no mercado perto de casa, na mercearia ou grande atacadistas. O preço aumentou em todo lugar e a diferença entre um estabelecimento e outro é de no máximo dois reais. Ou seja, se a gente for colocar tudo na ponta do lápis, andar grandes distâncias para ‘economizar’ dois reais não vale à pena, pois até os combustíveis voltaram a aumentar”.
Em razão das altas, com o ovo em destaque nesse começo de 2023, Janaína teve de repassar altas aos preços das marmitas no começo de fevereiro: dois reais a mais. “Segurei o repasse ao longo de 2022 inteiro, mas tudo aumentou, de uma cebolinha às embalagens. Hoje tenho opção de três tamanhos às marmitas que estão custando de R$ 12 a R$ 16. Antes eu tinha a partir de R$ 10”.
Para a ‘veterana’ em comida caseira para vender, Diva Costa a situação a alta atingiu seu negócio de forma mais severa. Ela abriu um restaurante no ano passado. Mas não demorou muito para entregar o ponto, em razão dos altos custos tanto para o preparo das comidas como do aluguel, energia elétrica, água. Passou a fazer o self-service em casa. “Aqui em casa não tinha despesas adicionais como mais uma conta de luz e de água para pagar e nem do aluguel. Achei que atender aqui na área, pois tenho um espaço grande e coberto, seria a solução, mas não foi. Não atendo mais em casa. Apenas marmitas para entrega fixa. Fazer comida ficou muito caro e com as marmitas para empresas, que são volume fixo todo dia, planejo melhor as quantidades e não há sobras, nem desperdício. Ganho menos? Ganho, mas praticamente zerei as perdas e sobras de comida”.
Questionada sobre os preços dos ovos, ela brinca e diz que na pandemia a carne bovina era a vilã do cardápio. “A gente inventava receitas a base de frango, carne de porco e usava muito ovo. Agora, olhando o rendimento de uma cartela de ovo para um quilo de carne, a carne se tornou mais acessível. Na semana passada achei o ovo, a cartela de 36 unidades por R$ 24,99. Na mercearia aqui perto, cada ovo sai a um real. Fracionado custa muito mais caro ainda”, completa. (MT Econômico e UOL Economia)