A Americanas S.A, uma das maiores empresas de comércio eletrônico do país, decidiu optar por uma recuperação judicial após admitir uma inconsistência contábil de R$ 20 bilhões. A empresa solicitou uma tutela cautelar para evitar a antecipação de vencimento de dívidas que somam R$ 40 bilhões. O modelo de recuperação escolhido já havia sido previsto por especialistas do setor.
Segundo Juliana Biolchi, advogada especializada em recuperação de empresas, o caso Americanas tomou essa proporção pela quebra de confiança dos credores. “Os credores se sentiram traídos pela mudança inesperada no balanço da empresa. Com isso, eles acionaram mecanismos contratuais de liquidação de dívidas. A pressão subiu e levou ao momento que agora observamos, tendo como escolha uma recuperação judicial“, afirmou a advogada.
Enquanto em setembro de 2021, a Americanas possuía cerca de R$ 3,4 bilhões em empréstimos com prazos de até 12 meses, um ano depois esse valor caiu para menos de R$ 900 milhões. Em contrapartida, os créditos de longa duração aumentaram significativamente, ultrapassando de aproximadamente R$ 8 bilhões para R$ 15,5 bilhões, quase o dobro do valor anterior.
Apesar da situação financeira complicada da empresa, é importante lembrar que a recuperação judicial é uma medida para proteger a continuidade das atividades e preservar o potencial e relevância econômica das Americanas. Porém, Juliana explica que esse modelo pode ser mais impactante do que a recuperação extrajudicial.
“Uma analogia possível é que a recuperação judicial é um remédio mais amargo. A recuperação extrajudicial é mais rápida e evita custos adicionais, como a nomeação de um administrador judicial. Além disso, oferece mais flexibilidade nas negociações entre as partes. Entretanto, a recuperação judicial tem um impacto maior na imagem da empresa e é uma opção a ser considerada quando a recuperação extrajudicial não é viável, principalmente para aumentar o grau de intervenção do judiciário para proteger mais a atividade”, completou Biolchi.
A especialista avalia que “o ataque dos credores fez subir tanto a temperatura que foi preciso partir para essa ferramenta, onde o Judiciário estará mais presente”, além disso, “a recuperação judicial pode ser vista com resistência por alguns, mas na verdade é uma medida estratégica para garantir a sobrevivência da empresa”. Além disso, Biolchi destaca que é importante lembrar que essa opção é uma oportunidade para a Americanas se reestruturarem e se reorganizarem, a fim de permitir sua continuidade no mercado.
A especialista também aponta que agora o grau de fiscalização será maior, algo que atenderá aos interesses dos credores em saber o que realmente aconteceu. “A crise da Americanas se tornou em uma crise muito mais do que de liquidez, ela é uma crise de reputação. E é interessante observar como as ameaças à continuidade dos negócios podem vir de questões relacionadas à imagem, e não apenas de resultados operacionais e insuficiência de caixa”, explicou.
Leia também: Opinião: Quais setores mais promissores para a Economia em 2023
A CRISE – A Americanas – controlada pelo trio Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira – entrou com um pedido de recuperação judicial. As dívidas da empresa somam R$ 43 bilhões e envolvem credores financeiros, trabalhistas e fornecedores.
É o quarto maior caso já registrado no país, perdendo apenas para as recuperações judiciais da Odebrecht (R$ 80 bilhões), Oi (R$ 65 bilhões) e Samarco (R$ 65 bilhões).
A crise da Americanas foi detonada por uma “inconsistência contábil” de R$ 20 bilhões descoberta pelo executivo Sérgio Rial, que havia sido nomeado como novo CEO da companhia. Estão em curso investigações para saber se houve uma fraude e se o 3G, do trio de empresários, considerados ícones do capitalismo brasileiro, estavam envolvidos.
Depois do pedido de recuperação judicial, a Americanas vai precisar apresentar um plano de recuperação dos seus negócios, que geralmente envolve venda de ativos e um pesado desconto na dívida. Os bancos vão ter que provisionar as perdas em seus balanços, o que vai afetar a lucratividade. Além do BTG, os principais credores são Bradesco, Safra, Banco do Brasil, entre outros.
Os advogados das Americanas também estão pedindo a Justiça para derrubar a liminar obtida pelo BTG e incluir o banco na recuperação judicial. A dívida da Americanas com o BTG é de R$ 1,2 bilhão.