Os carros populares que há alguns anos atrás estiveram no ranking entre os mais vendidos do país sofreram quase uma extinção, devido à elevação de preços aos consumidores. O MT Econômico traz uma matéria especial sobre esse tema.
Atualmente, comprar carro no Brasil virou quase artigo de luxo, com maior acesso pela classe média e alta, pois, a classe popular não tem conseguido conquistar esse sonho, que também é uma necessidade de locomoção diária ao trabalho e afazeres.
Os carros mais baratos no segmento popular custam hoje em Cuiabá, capital de Mato Grosso, a partir de R$ 69.990 (Fiat Mobi) e R$ 66.990 (Renault Kwid), nas versões de entrada. Os dados foram levantados pelo MT Econômico nas concessionárias locais em 23/5.
Vale ressaltar que boa parte dos valores são referentes a impostos. Segundo matéria anterior publicada sobre o Dia Livre de Impostos (DLI), deste total de R$ 66.990,00 do Renault Kwid, R$ 16.287,37 correspondem a impostos. A alta carga tributária no país foi lembrada em todo o território nacional, ontem quinta-feira (25) e em matérias publicadas também pelo MT Econômico.
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Motivo da alta do preço dos veículos
Em recente entrevista ao MT Econômico, o presidente da Fenabrave-MT, Paulo Boscolo, explicou que um dos motivos do encarecimento de veículos novos foi a falta de insumos ocasionada pela pandemia de Covid-19.
Com a crise sanitária em 2020, as fábricas precisaram parar por conta do alto risco de contaminação da doença, que à época ainda não tinha vacina. Muitas plantas industriais de montadoras tiveram que interromper a produção e dar férias coletivas aos funcionários, devido à falta de insumos e componentes eletrônicos, o que acabou ocasionando um efeito em escala global no curto prazo que impactou o preço final dos veículos.
A falta de matéria-prima encareceu não foi o único motivo do encarecimento dos veículos e consequente desaceleração das vendas. Os juros elevados – puxado pela alta da Taxa Selic, desvalorizaram o real, o salário e o poder de compra dos brasileiros. Paralelo à isso, a inflação geral no mercado, também contribuiu para o desaquecimento da economia. Entre os fatores que mais impactaram, o preço dos combustíveis e dos alimentos puxaram os indicadores econômicos para cima, em especial, o IPCA e IGPM. Os juros mais altos dos financiamentos de veículos também limitam o acesso à aquisição por parte dos consumidores.
Precariedade do transporte público e vias urbanas
Com os preços elevados, muitas pessoas não conseguem adquirir um carro próprio e dependem do transporte público, aplicativos de mobilidade urbana ou carona.
Segundo análise do MT Econômico, o problema é que em Mato Grosso, especialmente em Cuiabá e Várzea Grande, o transporte público é precário. Quem no dia a dia depende dos ônibus sabe o quanto é ruim ter esse meio de transporte como a sua única opção, já que, os veículos demoram a passar nos pontos e estão quase sempre com superlotação (especialmente nos horários de pico).
Quem utiliza carros por meio de aplicativos de transporte para se locomover, enfrenta tarifas elevadas e dificuldade de utilização em determinados horários, devido aos cancelamentos por parte de alguns motoristas ou até mesmo dificuldade em encontrar alguém disponível para realizar o serviço ao passageiro.
Por outro lado, o motorista de aplicativo também possui suas queixas, principalmente em relação às tarifas cobradas pelos aplicativos e manutenção elevada dos veículos, devido aos preços gerais dos produtos e serviços que encareceram no mercado após a pandemia, além das vias esburacadas que encarecem a manutenção dos carros.
Outro agravante analisado pelo MT Econômico é a falta de infraestrutura das vias. Muitas cidades enfrentam problemas com ruas esburacadas e asfalto de má qualidade. Incentivar a venda de carros populares pode até aquecer a economia no curto prazo, mas será que as ruas das cidades brasileiras suportariam tantos carros? Em Cuiabá por exemplo, já virou motivo de chacota os buracos. Um vereador da capital já até promoveu um Festival de Buracos para que as pessoas pudessem mandar fotos das piores crateras encontradas. O vencedor teria até uma premiação.
O poder público precisa incentivar a economia com cautela senão outros problemas podem vir, na opinião do MT Econômico, incluindo o aumento de custo com manutenção dos carros em ruas com baixa qualidade de asfalto, aumento de custo para as prefeituras e governos estaduais na recuperação das malhas viárias, que apesar de obrigação do poder público, o mesmo não tem verba suficiente para suportar aumento expressivo de veículos nas cidades e rodovias.
Seria importante ficar alerta também ao endividamento da população, pois na gestão anterior do governo Lula, quando o setor automotivo recebeu incentivos de redução do IPI para aquecer as vendas, a economia do país até melhorou no curto prazo, porém problemas de endividamento da população, em especial da classe mais baixa se agravaram e o sistema financeiro registou aumento na inadimplência. E quando isso ocorre é ruim tanto para as famílias quanto ao mercado em geral, pois o sistema financeiro faz sua autorregulação com aumento de juros para filtrar melhor a concessão de crédito. E juros altos todos pagam a conta, tanto quem precisa de crédito quanto o poder público, que aumenta o déficit da dívida pública, analisa o MT Econômico.
Endividamento da população
De acordo com dados da Serasa Experian, no mês passado, o Brasil contava com 71,44 milhões de pessoas em situação de inadimplência. A Confederação Nacional do Comércio e Bens, Serviços e Turismo (CNC) aponta, que o percentual de famílias que possuíam parcelas de financiamento em 2022 caiu para 10,6%, uma diferença de 2%, com relação a 2021 (12,6%). Isso mostra desaquecimento na aquisição de crédito por meio de financiamentos.
Queda nas vendas dos carros populares
Segundo dados da Fenabrave, na última década, houve um aumento expressivo na procura do modelo SUV e uma queda vertiginosa dos carros populares. Até 2012 as vendas de SUVs representavam cerca de 8% e em abril desse ano, esse número subiu para 46%. Enquanto os carros populares tiveram quedas expressivas; em 2012, esses veículos representavam 31% das vendas, até o mês passado esse número tinha caído para 9,3%.
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Carros mais vendidos em Mato Grosso
O MT Econômico analisou dados da Fenabrave sobre os automóveis mais vendidos em Mato Grosso. Em abril deste ano foram comercializados, 1572 veículos, sendo que a lista aparece apenas 4 modelos entre os “populares”, ainda caros (Onix, Argo, Hb20 e Mobi). O Mobi apareceu em antepenúltimo lugar em vendas. O Renault Kwid, outro popular conhecido nem entrou na lista de carros mais vendidos no mês analisado.
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Em maio, até o dia 24, a quantidade de carros vendidos no Estado foi de 1094, sendo 5 modelos entre os “populares”, ainda caros (Onix, Mobi, Argo, Hb20 e Kwid) conforme é possível ver na imagem abaixo:
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Redução de tributos para carros de até R$ 120 mil
O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) divulgou ontem (25) em Brasília, após reunião entre Lula e representantes do setor automotivo, medidas governamentais para estimular o setor automotivo com a redução de tributos aos veículos que custarem até R$ 120 mil. Os impostos que devem ser reduzidos serão o IPI e o PIS/Cofins. O percentual de redução deve ser de 1,5% até 10,96%, segundo o governo. As faixas de valores ainda serão divulgadas em breve.
O principal objetivo da medida governamental é que sejam fabricados carros que custem aos consumidores entre R$ 50.000 a R$ 60.000, visando retomar o acesso da classe menos favorecida à aquisição de um veículo próprio.
Entre os critérios para a redução gradual dos impostos nessa nova medida governamental estão:
1) O valor atual do veículo: quanto mais barato o carro, maior será o desconto tributário;
2) A emissão de poluentes: quanto mais limpo for o motor e o processo produtivo, maior o desconto;
3) A cadeia de produção: quanto maior o percentual de peças e acessórios produzidos no Brasil, maior o desconto.