Os preços pagos ao arrozeiro já subiram. O arroz em casca, tipo 1, a saca de 50 quilos, que vinha em baixa até o dia 06/05, em média a R$ 106,74 a saca (queda de 0,35% no mês), saltou três dias depois para R$ 108,52, como apurou o Cepea/USP, que pesquisa diariamente os preços para o Instituto Riograndense do Arroz, o IRGA.
E a alta no campo já chegou às redes de varejo. Nas gôndolas dos supermercados, os preços sobem. Na Grande São Paulo, pacotes de cinco quilos de arroz branco, tipo 1, que na semana anterior às inundações eram comercializados entre R$ 23,00 e R$ 28,00 no varejo (salvo exceções), saltou em três dias para valores entre R$ 33,00 e até R$ 35,00.
Como as notícias via redes sociais e veículos de comunicação caminham rápido, a procura dos consumidores pelo arroz aumentou com o receio de desabastecimento, o que levou alguns supermercados em diferentes regiões do país a limitar a compra e evitar uma ‘crise’.
Uma crise de desabastecimento está descartada, como asseguram as associações de produtores e das indústrias. Mas as inundações no Rio Grande do Sul causaram muitos prejuízos para o agronegócio do estado e analistas de mercado sinalizam repercussão nos preços em boa parte do país.
No Rio Grande do Sul, que responde por mais de 70% do arroz produzido no país e deveria colher mais de 7,5 milhões de toneladas, estima-se uma produção 1 milhão de toneladas menor como consequência das inundações em áreas ainda não colhidas. Pior: não se sabe ainda o quanto do arroz estocado em armazéns foi prejudicado.
Diante das informações sobre os danos a produção de arroz no sul do país, e antevendo uma disparada nos preços e consequente aumento da inflação, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, anunciou a liberação de importação de 1 milhão de toneladas pelas indústrias, na tentativa de acalmar o mercado consumidor.
Conforme já noticiado pelo MT Econômico, para a safra 2023/24 do cereal, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), são esperadas 7,47 milhões de toneladas (t) de arroz no Rio Grande do Sul, sendo responsável por 70% da oferta nacional.
Conforme a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), o estado gaúcho já colheu pelo menos 83% da produção e afirma que o volume já disponível “garante abastecimento do mercado interno”.
Mato Grosso, que no início dos anos 2000 chegou a ser o terceiro maior produtor de arroz do Brasil, segue liderando a oferta no Centro-Oeste, porém, ocupa atualmente a quarta posição nacional com estimativa de safra neste ciclo de 334,4 mil t, o que se confirmado, será 20% maior que a colheita passada com 277 mil t.
Lideram o ranking nacional da produção o Rio Grande do Sul, seguido por Santa Catarina com 1,13 milhão t e Tocantins com previsão de outras 560 mil t.
Pelos números do ministro, cerca de 1,6 milhão t ainda não foi colhida dos campos. “A grande dificuldade é a estrutura logística, tirar do Rio Grande do Sul e levar aos centros consumidores. Queremos evitar alta exacerbada. Se a gente for rápido na importação, não tem esse estágio. Por isso que já é arroz descascado e empacotado”, afirmou o ministro.
FRANGO E SUINOS – Os preços de suínos aumentaram em outras regiões. Esta semana, o preço médio pago pelo suíno vivo subiu no Paraná, ultrapassando R$ 6,00 por quilo, alta de cerca de 4%, segundo apurou a Agrifatto. A consultoria também constatou aumento de mais de 6% para suíno vivo em Santa Catarina, que avançou em média para R$ 5,88 por quilo, enquanto no Rio Grande do Sul, o aumento passou de 2%, para R$ 5,97 o quilo.
Como o Rio Grande do Sul responde por cerca de 17% da produção nacional de suínos e as áreas atingidas pelas inundações concentram pelo menos metade das criações do estado, os analistas da Agrifatto veem como provável o aumento dos preços em outras regiões.
“Não se trata de especulação de preços, mas problemas de logística, abastecimento e escoamento da produção”, assegura Lygia Pimentel, CEO da Agrifatto. A destruição de pontes, estradas e deslizamentos prejudicou o transporte de produtos e de pessoas no Rio Grande do Sul, alguns frigoríficos ainda estão parados ou operando abaixo da capacidade e granjas ainda tem dificuldade para receber rações, lembra César Castro Alves, analista de mercado Agro do Itaú BBA. E a recuperação não será rápida.
Os preços do frango continuam estáveis por enquanto. Nos três estados do Sul ainda não houve alterações, mas parece também inevitável uma alta, como admite Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal, a ABPA, que representa a indústria processadora de frangos e suínos. “Teremos dias difíceis”, disse ele ao comentar sobre preços em alta.
Ainda não há informações precisas sobre a extensão dos danos a produção agrícola e pecuária gaúcha. Castro Alves, no entanto, espera que acentuada na produção de soja. “O Rio Grande responde por 15% da produção de soja do país e há indicações de impacto potencial das inundações na produção de até 5 milhões de toneladas perdidas”, disse. Se confirmada, teremos aí mudanças de preços também para a soja no mercado brasileiro. (Com R7 e MT Econômico)