Transformar o resíduo orgânico em gás de cozinha e fertilizante líquido pode ser a solução para os estabelecimentos comerciais de Cuiabá que enquadram na Lei Complementar nº 364. A lei prevê que grandes geradores de lixo da capital, como shoppings, supermercados, condomínios e restaurantes, contratem uma empresa privada licenciada para coleta dos resíduos e transporte para um aterro sanitário adequado.
A lei 364 foi aprovada no ano de 2014, mas somente este ano a prefeitura de Cuiabá começou a notificar os estabelecimentos a cumprirem a norma. A partir do dia 16 de maio, todos devem estar enquadrados na lei, o que fez os empresários buscarem soluções para a questão.
Esta semana, um encontro realizado na sede da Fecomércio-MT (Federação do Comércio, Bens, Serviços e Turismo de Mato Grosso), apresentou aos empresários do setor de restaurantes, bares e hotéis, o HomeBiogás, um equipamento portátil que transforma resíduos orgânicos em biogás e fertilizante líquido, uma forma de dar uma destinação útil, sustentável e econômica para o resíduo produzido por cada estabelecimento. O MT Econômico esteve presente no evento e traz para você como funciona essa novidade e os benefícios gerados com os restos de resíduos orgânicos.
Com tecnologia avançada, de origem israelense, o equipamento pode ser instalado em pequenas, médias e grandes empresas, com fácil manutenção e utilização.
O equipamento foi criado há 10 anos para atender comunidades e famílias carentes, que vivem, especialmente, em localidades distantes dos grandes centros, fazendo parte de um programa da ONU (Organização das Nações Unidas) para levar energia a populações em situação de pobreza. Hoje está presente em mais de 100 países, sendo usado também por empresas privadas e Ongs que buscam atuar com sustentabilidade. O equipamento chegou ao Brasil há menos de um ano.
O HomeBiogás utiliza bactérias presentes no próprio alimento ou no esterco animal para transformar o resíduo em gás e fertilizante. A capacidade de produção é de até três horas de gás de cozinha diariamente, recebendo até 12 litros de resíduos de alimentos ou 36 litros de esterco animal, processando todos os tipos de alimentos como carnes, laticínios, vegetais, óleos, entre outros.
O tamanho do estabelecimento é que irá definir a quantidade de unidades a serem instaladas. Cada equipamento tem um custo de R$ 5.900,00. Um restaurante no município de Primavera do Leste, distante a 237 quilômetros de Cuiabá, é o primeiro do mundo a instalar um sistema integrado, com seis equipamentos instalados essa semana. O gás produzido será utilizado na cozinha do próprio restaurante, enquanto o fertilizante líquido irá para a área rural dos proprietários do restaurante.
“A sustentabilidade não é mais uma opção, hoje é uma necessidade. O lixo e o resíduo orgânico devem ter a destinação correta, porque já não dá mais para manter lixões e aterros sanitários, e também valem dinheiro. A gestão correta do lixo promove a economia circular e preserva o meio ambiente”, destaca o palestrante sobre o HomeBiogas, Leandro Toledano.
“Diariamente, 1,3 bilhões de toneladas de alimentos são desperdiçados no mundo, sem que tenham uma destinação correta, sendo que poderiam estar sendo transformados em energia”, aponta Toledano.
Cuiabá
Cuiabá produz diariamente 350 toneladas de lixo. O setor de bares e restaurantes calcula que aproximadamente 100 toneladas são de resíduos orgânicos produzidos pelos grandes estabelecimentos.
“Esta pode ser uma das soluções mais inteligentes, simples, baratas e viáveis do que simplesmente destinar o lixo ao aterro sanitário. O equipamento traz uma tecnologia de vanguarda. Estamos discutindo a ideia de forma macro e depois vamos analisar a necessidade e capacidade de cada estabelecimento. Já temos um restaurante em Primavera do Leste que implantou o sistema e está dando exemplo. Nossa ideia é, ao longo do tempo, implantar uma usina de biogás em Cuiabá”, explica Fernando Medeiros, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes Seccional Mato Grosso (Abrasel-MT).
Também participaram do encontro representantes da Fecomércio MT, Acomac, Associação Comercial de Cuiabá, CDL, FCDL, técnicos ambientais, consultores e empresários de vários setores.
Em relação ao material ou lixo reciclável, a Homebiogas e representantes do setor firmaram um acordo com a prefeitura e o Ministério Público Estadual, no qual os estabelecimentos farão a separação do material e a prefeitura fará o recolhimento e encaminhamento para as cooperativas de catadores do aterro sanitário.
Segundo apurado pelo MT Econômico, além do gás e fertilizante, a Homebiogas estuda a possibilidade de gerar energia elétrica com o equipamento num futuro breve.