O ano de 2015 foi marcado pela instabilidade política e econômica do Brasil, que viu uma aceleração da inflação, com o dólar chegando a mais de R$ 4,00 em outubro, (fato que se repetiu em dezembro), queda na geração de emprego, redução do consumo, aumento dos encargos tributários, queda nos investimentos. Tantos impactos negativos atingiram todos os setores da economia e todas as classes sociais, mesmo que em diferentes níveis.
Autoridades no assunto preveem que a crise deva piorar em 2016, mas fazem avaliações menos alarmantes quando se trata do cenário mato-grossense.
No campo do agronegócio, o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Decio Zylbersztajn, avalia que para 2016, todas as perspectivas são boas, especialmente ancoradas na taxa de câmbio, o que motivou muitos produtores a fazerem vendas antecipadas. “Quem deixou para vender depois, poderá colher ainda algum benefício cambial, a depender de como progredirá o espetáculo circense em Brasília”.
No cenário local, o pesquisador é otimista e afirma que “os impactos regionais, nas áreas produtoras, costuma ser positivo. A expectativa de boa renda alavanca negócios, investimentos e consumo. Ou seja, tudo aquilo que desejamos ver na economia brasileira, nós vemos acontecer no agronegócio. Mesmo sem o crédito do qual necessitamos, mesmo sem uma fiscalização sanitária adequada, mesmo com um aparato de defesa agropecuário capenga, a agricultura brasileira dá o seu recado”, pontua.
Opinião semelhante é a do vice-governador do Estado, Carlos Fávaro, que também é agricultor e pecuarista. “Certamente, o Brasil vive uma crise sem precedentes. Mas nosso estado se sai muito bem neste cenário por conta da vocação pelo agronegócio, setor responsável também por puxar o desenvolvimento de vários outros setores. Será um dos poucos estados que terá um panorama positivo para o ano que vem. O país teve o Produto Interno Bruto (PIB) negativo em torno de 4% em 2015, e Mato Grosso gerou um PIB positivo de quase 3%. Nosso PIB tem a média de crescimento de 9,9% ao ano”, afirma.
Já para o professor de Economia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e especialista em Economia Regional, Antônio Humberto de Oliveira, não existe crise econômica e sim crise institucional no país, o que não deixa de prejudicar a economia devido à falta de credibilidade que acaba provocando junto aos investidores internacionais. “Eu não vejo essa crise econômica, eu vejo uma crise institucional. Sob o foco da taxa de câmbio, tem um fator muito promissor para a região em função do agronegócio. Eu tenho dito que Mato Grosso tem uma blindagem, eu vejo o estado bastante protegido em relação a esse cenário desenhado até porque nós não temos um potencial de desemprego porque nós não temos indústria”, explica o professor.
Ele continua dizendo que o setor industrial com maior foco de desemprego no país é o automobilístico, o que não existe em Mato Grosso. “Quando você não tem indústria, quem é vinculado ao mercado de trabalho está no setor terciário, que são os serviços, e no setor primário, que é o grande produtor. No setor primário, todo mundo já plantou soja e está esperando a safrinha pra voltar a plantar. Agora, o que nós temos que discutir é o estoque mundial. Se o estoque mundial crescer, o que vai muito em função da economia norte-americana, a tendência nossa é que o preço da soja caia”, prevê.