Diálogo, disciplina e orientação são ingredientes essenciais para lidar com as finanças a dois, sem deixar de lado os sonhos individuais.
Ter um carro, uma casa, dinheiro guardado para emergência, aplicações financeiras e poder viajar nas férias são desejos de qualquer casal. Para conquistar esses objetivos não há receita de bolo, tampouco segredo. A regra básica resume-se a educação financeira, disciplina e compromisso, que possibilita aos casais a construção de patrimônio e uma vida tranquila no presente e no futuro. Na semana em que é comemorado o Dia dos Namorados, o convite aos casais é para uma reflexão que ainda é tabu para muitos: as finanças, com a ressalva de que, com diálogo, paciência e orientação é possível prosperar e transformar sonhos em realidade.
No Brasil ainda não existem estatísticas sobre a quantidade de casais que possuem investimentos. Em geral os estratos são por gênero, classe social, raça e idade. Mas, a boa notícia é que o número de brasileiros que investem é crescente. A 6ª edição do Raio X do Investidor, divulgada em março pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), aponta que o percentual de brasileiros que investem em produtos financeiros passou de 31% em 2021 para 36% em 2022, o que equivale a cerca de 60 milhões de pessoas. Deste total, 40% são homens e 33% são mulheres, sendo que o produto de investimento mais citado é a poupança, com 26% das menções.
Os objetivos dos investimentos são variados, sendo a compra da casa própria o principal, mencionada por 30% dos entrevistados. Na sequência aparecem a manutenção dos recursos em produtos financeiros (20,8%), a compra de um veículo (11,1%), fazer viagens/atividades de lazer (10,6%), usar na velhice/aposentadoria (9,6%), investir em um negócio próprio (9,5%) e “deixar para os filhos” (6%).
A compra da casa própria e do veículo e ter um negócio próprio foram os objetivos traçados pelo casal Franciele Soares e Luan Gomes, ambos de 33 anos, que moram em Rio Branco (MT). Junto desde os 19 anos de idade, o casal amadureceu e cresceu financeiramente, e atribui o sucesso na área financeira ao diálogo e transparência.
Ela é formada em Letras e ele em História, mas atualmente nenhum dos dois atua na área. Com seis anos de trabalho na área de formação, Franciele teve certeza da vocação para o empreendedorismo e há cerca de três anos tem uma loja de moda feminina. Luan também empreendeu e tem um negócio voltado para energia solar, cuja administração concilia com as funções de policial penal.
“Já trabalhamos de tudo um pouco. Já fui faxineira e ele guarda de escola. Estudamos e trabalhamos muito para alcançar nossos sonhos. Construímos reserva, pois sabíamos que economizar e guardar dinheiro era o caminho para conquistar bens materiais. Temos uma conta conjunta no Sicredi e tudo o que ganhamos é nosso. Separamos apenas os compromissos financeiros das empresas. E o resultado veio, hoje temos nossos negócios, nossa casa, nosso carro, um terreno – já quitados -, viajamos nas férias, temos dinheiro na poupança, tudo que um casal sonha”, afirma Franciele.
No último ano, os planos do casal tomaram outro rumo, com a chegada da pequena Maitê, que no momento da entrevista tinha quatro meses de vida. “Agora temos que pensar na nossa filha, para ela ter um futuro melhor, pensar na educação dela. Trabalhamos muito, abdicamos de algumas coisas para ter uma reserva e um futuro mais tranquilo. Essa é a maior dificuldade, deixar de usufruir de algumas coisas hoje para pensar no futuro”, conta Luan, ao contar que o casal possui uma reserva na poupança, e começou a estudar outros investimentos, como fundos imobiliários.
Adaptação é um desafio
Lidar com as finanças a dois não é uma tarefa fácil. Quando uma parte é gastadora e a outra econômica é ainda mais delicado, um ambiente propício para desentendimentos. É nessa hora que o diálogo, a transparência e sinceridade devem ser priorizados para que os assuntos financeiros não prejudiquem o relacionamento.
A fase de adaptação é vivenciada por muitos casais, entre eles João Victor Coutinho, 24 anos, e Victor Reis, 29 anos, de Araputanga (MT). Com quase quatro anos de relacionamento, moram juntos desde o segundo mês de namoro e oficializaram a união em 2021. Mesmo passado tanto tempo, eles têm dificuldade para lidar com as finanças em conjunto. João Victor é jornalista e mais controlador. Já Victor é bancário e mais “despreocupado”, e essa diferença de comportamento gerava discussões até que João passou para Victor a tarefa de colocar todas as despesas, receitas e investimentos em uma planilha.
“Tivemos um período de adaptação difícil e ainda estamos lidando com isso. Temos uma conta conjunta e investimentos. Pesquisamos, temos aplicações em renda fixa e gostamos de testar outros produtos como fundo de ações cambiais – com aportes menores – para ver como funciona, quanto rende. Essa parte fica mais comigo, mas ambos trazemos nossas visões sobre tudo”, conta João Victor ao comentar que mesmo com as divergências, o casal tem colhido resultados positivos. Ano passado trocaram de celular, este ano viajaram no carnaval para Fortaleza – que era um sonho de ambos e onde ficaram oficialmente noivos -, e recentemente adquiriram um veículo novo. “Outro sonho nosso é o casamento na praia, daqui uns quatro anos”, anuncia Victor.
Desentendimentos acontecem
Assim como ocorreu com João Victor e Victor, milhares de casais têm dificuldade de lidar com as finanças, assunto que muitas vezes gera discussões. Para evitar que isso aconteça, Djully Mantoani, consultora de Investimentos da Central Sicredi Centro Norte, afirma que o diálogo é a chave do equilíbrio. “Uma conversa franca sobre os recursos do casal e o entendimento das prioridades é essencial. Uma dica simples é reservar o recurso como se fosse o pagamento de uma parcela, assim os dois investem na mesma proporção e possem recursos livres para gastar como quiserem”, aconselha.
Ela acrescenta que é importante que um entenda o perfil do outro, porque são pessoas diferentes, com ambições diferentes e disposição para investir distinta. “Não existe certo ou errado e sim sentimentos e sensações que devem ser levados em consideração e cada um terá que ceder um pouco para que haja equilíbrio”, resume a especialista.
Antes mesmo do casamento
Se o casal lida bem com dinheiro, o compartilhamento das finanças entre pode ocorrer mesmo antes do casamento. Quando ambos têm objetivos em comum, as coisas fluem naturalmente. É o que acontece com os noivos Lucile Mayeron e Victor Gouveia, de 25 anos. Ela mora em Canarana (MT) e ele no distrito de Garapu (a 20 km do centro da cidade). Em maio completaram um ano de namoro e deram um passo a mais no relacionamento: o noivado, celebrado no Rio de Janeiro, em uma das várias viagens que o casal fez.
Desde que decidiu se casar, o casal – que já mora junto -, passou a compartilhar as receitas e despesas mirando o casamento, que será em maio do ano que vem, em Trancoso (BA). Por enquanto dividem os gastos, organizados em uma planilha e aplicam as economias na poupança. Após o casamento, pretendem abrir uma conta conjunta e administrar as despesas juntos, sempre pensando em uma reserva para que possam desfrutar do que gostam como experiências gastronômicas e viagens. “Também queremos comprar um terreno para construir nossa casa e investir na construção de imóveis, para ter uma renda no futuro”, planeja Lucile.
Casal que não investe, por onde começar?
Independentemente da fase do relacionamento, sempre é tempo de investir. Na opinião de Djully, a primeira coisa a fazer é conversar para entender como estão as finanças do casal e definir prioridades. “Após esse momento, caso o casal não possua uma reserva de emergência, é indicado começar por ela e ir criando o hábito de investimento” diz ela ao frisar que é importante ter em mente que “o dinheiro de um é dinheiro dos dois, e cada um vai investir de acordo com a disponibilidade de recursos que possui, além de entender que a quantia guardada será utilizada por ambos, para que nenhum dos dois se sinta prejudicado”.
Djully adianta que no Sicredi, os associados têm um portfólio completo de produtos financeiros e que antes de investir é preciso compreender o perfil do casal, o objetivo e a previsão de necessidade de utilização. “Se estamos falando de um início de investimentos e único recurso do casal, o indicado é um produto com mais liquidez que rentabilidade. Isso quer dizer que o objetivo do investimento sempre irá sobrepor o perfil investidor do casal. E os assessores de investimentos do Sicredi estão à disposição dos casais para ajudá-los em todo o processo”, finaliza a consultora de Investimentos.
(Com assessoria)