Em tempos de pós-pandemia e alta da inflação, a Economia Circular pode ajudar as indústrias a reduzirem custos e otimizar processos internos. Atualmente, o desenvolvimento sustentável é primordial para o crescimento econômico e produtivo, visando menor impacto ambiental e melhor preservação dos recursos existentes.
A produção do modelo linear, que ao longo dos anos predominou o sistema produtivo e gerava mais impacto no meio ambiente, reutilizava com menos frequência os recursos existentes. A Economia Circular remodelou a forma como são produzidos os produtos aos consumidores finais. Diante disso, o MT Econômico produziu uma matéria especial sobre esse tema.
Cada vez mais, os consumidores procuram comprar produtos de empresas que tem alguma política socioambiental. Com o avanço das mídias sociais, esse comportamento se difundiu mais entre as pessoas.
Outro fator a ser considerado é o cenário econômico cujo o mundo está passando, em especial, as dificuldades financeiras das indústrias e da população, provocadas pela pandemia da COVID-19 que, somaram-se ao conflito entre a Rússia e Ucrânia, causando desequilíbrio das cadeias produtivas, inflação e aumento de preço dos produtos.
Com isso, é necessário procurar formas de reduzir custos e é isso que o modelo de Economia Circular propõe, com a reutilização de materiais que já foram produzidos e descartados, se tornando resíduo e que por meio da logística reversa voltam às plantas industriais e centros de reciclagem para serem reaproveitados.
Leia também – Opinião: Economia circular: solução para a problemática do plástico no meio ambiente?
Entenderemos a seguir e evolução do processo produtivo desde a Economia Linear até a Economia Circular.
Economia linear
Desde a Revolução Industrial o principal modelo usado na economia é o modelo linear: produção, consumo, descarte. Por conta desse modelo, o planeta vem sofrendo com o aquecimento Global, poluição, esgotamento de recursos naturais, dentre outros danos ambientais.
De acordo com dados da pesquisa UNITED NATIONS INDUSTRIAL DEVELOPMENT ORGANIZATION – UNIDO, 2013, encontrados no artigo da CNI ‘Economia Circular OPORTUNIDADES E DESAFIOS PARA A INDÚSTRIA BRASILEIRA’ publicado em 2018, “O modelo de Economia Linear está atingindo seu limite. Nos últimos trinta anos, apesar dos avanços tecnológicos e do aumento na produtividade dos processos que extraem 40% mais valor econômico das matérias-primas, a demanda de produção neste mesmo período aumentou 150%”. O que significa que não é viável continuar com este modelo linear como principal forma no sistema produtivo.
Economia Circular
Um substituto para o modelo de Economia Linear surgiu entre as décadas de 1960 e 1970 e ficou conhecido como Economia Circular. Esse modelo produtivo mais recente consiste na minimização da extração dos recursos naturais, maximização da reutilização dos produtos já criados pela indústria, além do aumento da sua eficiência e desenvolvimento do processo de produção, reduzindo assim, os custos e resíduos das indústrias e produtos destinados aos consumidores finais.
Com a reutilização dos resíduos, a Economia Circular propõe a transformação dos mesmos em novos produtos, o que na prática, diminui os custos de produção das empresas, gerando novas oportunidades de emprego e negócios, além de beneficiar o meio ambiente já que, boa parte do lixo é reutilizado através de processos de reciclagem.
Os novos produtos criados nesse sistema são projetados para ter uma durabilidade maior, sendo remodelados após o seu descarte, o que não acontecia antigamente com os produtos produzidos na Economia Linear.
Com a Economia Circular, a indústria ‘abraça’ a proposta dos 5 “R”s – Recusar, Repensar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar – o que acaba aumentando o mercado de reciclagem, que não é tão desenvolvido ainda no Brasil. O índice de reciclagem no país é de 4%, segundo Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) em matéria publicada este ano pela Agência Brasil. A expansão do setor pode proporcionar, além da geração de novas indústrias, empregos e renda, também a diminuição dos danos ambientais, já que o bem-estar do planeta é algo relacionado à Economia Circular.
Veja no gráfico a seguir, a proposta do modelo 5 “R”s utilizado por algumas indústrias que já adotam a Economia Circular.
Impasses da indústria brasileira
Hoje, a indústria brasileira enfrenta dois impasses para aderir ao modelo da Economia Circular: o primeiro é a falta de um processo de reciclagem eficiente, de forma que, devido ao modelo precário de reciclagem que o país tem, muitas indústrias precisam arcar com as despesas desse serviço, tornando essa prática menos atrativa. O outro impasse está relacionado às questões fiscais e regulatórias da legislação brasileira.
De acordo com artigo já publicado pela CNI (Confederação Nacional da Industria), que fala sobre os benefícios e as dificuldades enfrentadas pela indústria brasileira que tem interesse em implementar a Economia Circular, “o primeiro passo para a transição do modelo Linear para o Circular consiste em analisar as oportunidades de inovação nas indústrias, possibilitando a criação de melhores processos, produtos e serviços, expandindo assim, a proposta de valor”. A falta de infraestrutura no país para investir nessa nova fonte econômica desmotiva muitos empresários a dar seguimento nesse novo modelo de produção.
Em entrevista para a TV Brasil no final do ano passado, o gerente-executivo de meio ambiente e sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo, mencionou a importância da economia circular na situação econômica ao qual o país se encontra. “Quando vemos esse aumento de custos de matéria-prima, como tem ocorrido nos últimos anos, a empresa, seja de grande, médio ou pequeno porte, tem que utilizar melhor esses recursos, evitando algum desperdício. Então, isso tem sido uma tônica geral”, ressalta o executivo da CNI.
Dessa forma, é possível acreditar que apesar de alguns empecilhos, é viável para o empresário investir nesse novo modelo, já que, a Economia Circular propõe redução de custos, preservação ambiental e responsabilidade social.
Com ações de educação voltadas à conscientização das indústrias brasileiras e melhor adequação da legislação, a Economia Circular pode se desenvolver de forma mais acelerada nos próximos anos.
Veja a diferença entre a Economia Linear e Economia Circular no gráfico a seguir:
Benefícios para as indústrias
Com o modelo de Economia Circular, as indústrias podem ter menos custos, já que não utilizam matérias-primas virgens, que após a pandemia estão com preços elevados devido à alta da inflação, reutilizando assim, os seus próprios produtos descartados para produzir novos.
Isso pode agregar a Lei nº 12.305/10, implementada em 2012, conhecida como Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que atribui responsabilidade as pessoas físicas e jurídicas com relação ao descarte indevido de materiais sólidos e de longa durabilidade.
Segundo a CNI, 76,4% das empresas privadas no Brasil tem iniciativas da Economia Circular, porém, 70% não tem conhecimento sobre esse modelo econômico. Isso ocorre, porque as mesmas até estão preocupadas em reutilizar os seus materiais, seja por redução de gastos, por questões legislativas (PNRS), ou por terem alguma prática voltada ao meio ambiente, mas a falta de conhecimento, faz com que as práticas sejam exercidas de forma incompleta, prejudicando o processo da Economia Circular.
Matéria especial MT Econômico: Isadora Sousa e Alessandro Torres
Leia mais: 76% das indústrias brasileiras aplicam economia circular