Não é de hoje que se discute a necessidade de maior representatividade e participação feminina nos mais diversos setores da sociedade, desde a ciência e tecnologia, até os cargos públicos e políticos de alto escalão, e para o empreendedorismo não seria diferente. Foi com o intuito de ampliar o debate, além de celebrar e fomentar a geração de oportunidades nesse sentido, que a ONU criou em 2014, o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino.
O MT Econômico traz nessa matéria especial exclusiva, como o empreendedorismo feminino está em expansão no país e sua importância no contexto social.
O Empreendedorismo Feminino pode ser caracterizado pela liderança feminina em diferentes cenários, sendo estes, negócios idealizados ou comandados por uma ou mais mulheres, bem como sua presença em altos postos de trabalho, como por exemplo, gerência ou presidência e até mesmo a frente da coordenação de entidades não governamentais e ligadas à temas sócio-políticos, com o chamado empreendedorismo social.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, (PNAD Contínua) de 2019, as mulheres são a maior fatia da população no Brasil. Enquanto homens representam 48,2% desta parcela, as mulheres são 51,8%. Além disso, as mulheres possuem mais acesso à educação superior e mais anos de estudo, sendo cerca de 19,4% das graduadas com nível superior de ensino, ante 15,1% dos homens, entre a população com 25 anos ou mais, de acordo com o IBGE. Contudo, elas ocupavam 37,4% dos cargos gerenciais e recebiam apenas 77,7% do rendimento dos homens em 2019, segundo a pesquisa “Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”, divulgada em 2021, também pelo IBGE.
Por que dar espaço para o Empreendedorismo Feminino?
Segundo a Cientista Social e Gerente do Instituto Rede Mulher Empreendedora, falar de empreendedorismo feminino também é falar de mulheres se apoiando, inovando, transformando a sua realidade e a de seu entorno. “É por tudo isso que falamos de empreendedorismo feminino”, pontua em um artigo publicado on-line.
Ao reivindicar as mesmas condições de trabalho, como salário e cargos de relevância, ao passo que evidencia a discrepância entre homens e mulheres no cenário trabalhista e corporativo, a luta pelo Empreendedorismo Feminino representa um movimento tão importante para a sociedade. É a partir do trabalho que milhares de mulheres vivendo em situação de vulnerabilidade passam a ter acesso a garantias básicas como saúde e educação, o que também as garante mais liberdade e autonomia, nos âmbitos individuais, como as finanças, e os coletivos, como na participação democrática por meio do voto.
O Empreendedorismo Feminino se apresenta, assim, como uma ferramenta para a construção de uma sociedade mais equânime e justa, além de acelerar inovação e uma nova percepção de cenários, bem como oportunidades de negócio mais diversificadas e competitivas, uma vez que inclui mais pessoas nas operações comerciais, e também aumenta o número de oferta e demanda de produtos e serviços, que não seriam oferecidos por homens.
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Como está a participação feminina no mercado empreendedor nacional?
Desde o início desta década as mulheres têm ganhado mais destaque em cargos de chefia e já são a maioria em cargos de coordenação, afirma um levantamento da Catho, plataforma nacional de classificados de empregos. Ainda de acordo com outro estudo do Sebrae, o Empreendedorismo Feminino deu os primeiros sinais de recuperação no último trimestre de 2021, após uma retração durante os primeiros meses de isolamento social causado pela pandemia do novo coronavírus.
Em 2020 o número de mulheres empreendedoras no Brasil, chegou a 8,6 milhões, enquanto que no quarto trimestre de 2021 o índice chegou a 10,1 milhões, mesmo resultado registrado no último trimestre de 2019, antes da pandemia. A pesquisa ainda mostra que a participação feminina subiu 3 pontos percentuais nos setores de informação e comunicação, e 4 pontos percentuais nos setores de saúde e educação, sendo a maior presença das empreendedoras no nicho de serviços, com 50% da fatia de mercado.
Contudo, dados da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), apontam que em 2020 mais de 30 milhões de mulheres lideravam negócios no país, e a Rede Mulher Empreendedorismo afirma que o percentual de mulheres que se viram obrigadas a investir no empreendedorismo por necessidade durante a pandemia, cresceu 40%.
“Sem dúvida, esses dados são positivos a partir de um ponto de vista mais geral, afinal apontam para um crucial avanço da mulher como protagonista de suas histórias e de seus próprios negócios. Porém é muito importante olhar mais atentamente ao que está por trás disso, justamente para construirmos um futuro melhor para a força feminina empreendedora no Brasil“, declarou a vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo e idealizadora e gestora do FAAP Business HUB, Alessandra Andrade, em entrevista ao Portal Terra.
Qual é a tendência para o Empreendedorismo Feminino no mundo?
Uma vez que a presença de mulheres em posições de liderança está associada à quebra de paradigmas, e a geração de um mercado voltado para o futuro com foco em desenvolvimento sustentável, bem como a promoção de justiça social e o fomento de ambientes mais diversos, plurais e democráticos, a tendência é de que o número de empreendedoras cresça ainda mais nos próximos anos. – Sem deixar de lado, é claro, a necessidade.
Essa tendência de crescimento também se relaciona com os critérios ESG, três pilares que significam de maneira geral, Meio Ambiente, Sustentabilidade e Governança, cada vez mais valorizados no ecossistema empreendedor e corporativo. As operações de captação de recursos no mercado internacional por meio de títulos de dívidas vinculados a critérios ESG estão cada vez mais movimentadas. A maior parte das medidas da pauta se está ligada às práticas ambientais, entretanto já surgem as primeiras propostas no âmbito social, como maior percentual de mulheres em cargos de liderança, por exemplo.
Cases de Sucesso: Grandes exemplos do Empreendedorismo Feminino no Brasil
Quando se fala em empreendedorismo feminino no Brasil, uma das figuras mais memoráveis é sem dúvida, a presidente da rede de lojas de varejo Magazine Luiza, Luiza Trajano, que hoje atua na liderança do Conselho de Administração da empresa. Em 2021, Luiza foi a única brasileira a entrar na lista de 100 pessoas mais influentes do mundo, da revista Time, e no mesmo ano apareceu na 529ª classificação de bilionários globais da Forbes, contando com um patrimônio líquido de 1,5 bilhão de dólares, já em 2022, ainda segundo a revista. A frente do Magazine Luiza, Trajano ajudou as pequenas empresas a se adaptarem ao comércio digital, fornecendo uma plataforma para vender e entregar seus produtos, e também fomentou a presença de pessoas negras em suas lojas, com processos seletivos exclusivos.
O MT Econômico já teve a honra de entrevistar Luiza Trajano, quando veio à Cuiabá, capital de Mato Grosso em 2016, antes mesmo da abertura e expansão da sua rede varejista no Estado. Veja mais aqui
Outra brasileira renomada no cenário empreendedor é Eliane Potiguara, que se destaca pela defesa das mulheres indígenas. Tendo ganhado em 2021 o título doutora honoris causa pela UFRJ, ela já foi nomeada como uma das “Dez Mulheres do Ano de 1988” pelo Conselho das Mulheres do Brasil ao ser a responsável pela criação da primeira organização de mulheres indígenas no país: o GRUMIN ( Grupo Mulher-Educação Indígena) e por ter trabalhado pela educação e integração da mulher indígena no processo social, político e econômico no país. Eliane também colaborou na elaboração da Constituição Brasileira de 1988, uma das mais avançadas em direitos humanos do mundo.
A cearense Josefa Adecilda, mais conhecida por Sylvia de Araújo, proprietária da rede de lojas de móveis Sylvia Design, também é um grande exemplo e inspiração para mulheres empreendedoras. Aos 16 anos, ela se mudou para São Paulo e conseguiu um emprego como empacotadora, mas não parou por aí. Com um espírito naturalmente empreendedor e muita habilidade com a comunicação, Sylvia conquistou uma posição de vendedora em uma tradicional loja de móveis da capital, ganhando cada vez mais destaque na carreira, até se tornar gerente, e com 12 anos de experiência, lançar o seu primeiro empreendimento, a loja Sylvia Design.