O empreendedorismo sênior – formado por empresários com mais de 45 anos – deixou de ser um fenômeno isolado para se tornar uma força estruturante da economia mato-grossense. Levantamento do Sebrae/MT aponta que o estado concentra mais de 129 mil empreendedores nessa faixa etária, o equivalente a 26% dos negócios formalizados. No Brasil, esse público já ultrapassa 7 milhões de empresários.
O perfil identificado no estudo revela maturidade, persistência e uma taxa de formalização elevada: 92,6% têm CNPJ, 67,8% são mulheres e 71,5% são casados, o que pode indicar maior estabilidade e rede de apoio. No entanto, o principal gatilho para abrir o próprio negócio ainda é a necessidade – realidade para 57% dos entrevistados, que buscaram no empreendedorismo uma alternativa diante da escassez de vagas no mercado formal ou de situações financeiras emergenciais.
Setores e posicionamento no mercado
As áreas mais escolhidas por esse público – alimentos e bebidas, transporte e logística, construção, vestuário e higiene – refletem dois aspectos centrais: a experiência prática acumulada ao longo da vida e a identificação de demandas de consumo que se mantêm estáveis mesmo em períodos de crise. O fato de 58% desses negócios terem mais de 10 anos reforça que, para esse perfil, a longevidade empresarial é sustentada por práticas conservadoras de gestão e conhecimento aprofundado do segmento.
Desafios estruturais e tecnológicos
Apesar da robustez, os empreendedores seniores ainda enfrentam barreiras que afetam a competitividade. Falta de capital e burocracia excessiva lideram as queixas (44% cada), seguidas pela dificuldade de acesso ao crédito (32%) e concorrência acirrada (31%). Embora 83% já estejam presentes nas redes sociais, apenas 35% utilizam estratégias estruturadas de marketing digital – lacuna que limita a expansão para novos públicos.
Segundo Jaqueline Trentino, analista técnica do Sebrae/MT, essa lacuna tecnológica é uma das fronteiras a serem superadas. “Somente 24% investem em capacitação, mas quem busca conhecimento tem mais preparo para decisões estratégicas e inovação. Com as ferramentas certas, é possível ampliar mercados e fortalecer a marca”, explica.
Comparativo e tendências
O crescimento desse segmento em Mato Grosso acompanha uma tendência nacional: o avanço da participação dos empreendedores maduros, impulsionado pelo envelhecimento da população e pelo aumento da expectativa de vida ativa no mercado. De acordo com dados do Sebrae Nacional, a proporção de empresários acima dos 45 anos vem crescendo desde 2014, em parte pela instabilidade econômica, que leva profissionais experientes a empreender como forma de manter a renda, e em parte por uma busca consciente por autonomia.
Nos próximos anos, especialistas apontam que o empreendedorismo sênior deve se diversificar para além dos setores tradicionais, avançando para áreas como economia digital, consultoria especializada, turismo e negócios sustentáveis. Em Mato Grosso, o desafio será integrar esse público às cadeias produtivas emergentes, especialmente as ligadas ao agronegócio e à bioeconomia, setores estratégicos para o estado.
Perspectiva para a economia local
Com um terço dos negócios sob o comando de empreendedores maduros, a economia mato-grossense já sente o impacto desse grupo na geração de empregos e circulação de renda. A combinação de experiência de mercado, visão de longo prazo e capacidade de resiliência frente a crises econômicas torna o empreendedorismo sênior um pilar para a estabilidade econômica do estado.
“O potencial de crescimento é enorme. Se unirmos experiência e inovação, esse segmento poderá não só se manter, mas liderar novos nichos de mercado nos próximos anos”, resume o diretor técnico do Sebrae/MT, André Schelini.
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