O presidente eleito da Hostelling International Brazil (HI Brazil), Alex Vieira de Deus, assume a direção da entidade com o desafio de fazer o setor superar as perdas de público sofridas nos últimos tempos, especialmente em 2020, com a pandemia do novo coronavírus, que atingiu em cheio o setor de turismo e hospedagens.
Alex é cuiabano, proprietário do Hi Pantanal Backpacker Hostel, credenciado pela HI Brazil em Cuiabá e único no estado, sendo que o espaço já foi eleito pela revista Eco Culture Trip (Maior revista especializada no segmento do mundo), como um dos Dez Melhores Hostels do Brazil. Essa será a primeira vez que um mato-grossense irá presidir a HI Brazil. Alex assume o cargo em janeiro de 2021 para um mandato de dois anos.
Hostel é um tipo de hospedagem que atrai milhares de viajantes em todo mundo, mas ainda se difundindo no Brasil. Antigamente eram chamados de “albergues da juventude”, justamente por atraírem um público, em sua maioria, formado por jovens. Hoje em dia recebe públicos de diversas idades e que buscam uma alternativa mais barata de hospedagem e experiência de convivência local.
A HI define hostel como “um meio de hospedagem descontraído, ideal para quem gosta de viajar e conhecer novas pessoas e culturas. Hostel não é somente um local de hospedagem, mas uma experiência”.
Em entrevista ao MT Econômico Alex Viera de Deus explicou melhor sobre os desafios e impactos do setor de hospedagem e turismo nos últimos anos.
Alex explica que para ser caracterizado como hostel, o espaço deve ter algumas regras, como promover interação social, áreas de recreação e momentos de lazer, espaços compartilhados e promover a cultura e os hábitos do local onde está inserido. Os quartos são compartilhados e a cozinha comunitária, características que garantem uma hospedagem mais econômica. Também está incluso café da manhã.
“Existem regras a serem seguidas para um espaço integrar a HI Brazil, porque a hospedagem deve trazer uma experiência. Temos vários tipos de hostels por todo mundo e no Brasil. Estruturas grandes ou pequenas, mais simples ou mais luxuosas, na praia, no campo, nas cidades como o caso do nosso”, conta Alex.
No Brasil e, em especial, Mato Grosso, os hóspedes de hostels ainda são na maioria estrangeiros, isto porque os brasileiros conhecem pouco sobre esse tipo de hospedagem. “O Hi Pantanal, por exemplo, tem como um de seus hóspedes um senhor inglês, que todos os anos vem para Cuiabá, fugindo do sempre rigoroso inverno europeu, passando seis meses conosco e os outros seis meses na Inglaterra”.
Crise – O novo presidente da HI Brasil explica que desde 2017, antes mesmo da pandemia da Covid-19, o setor enfrenta uma crise que afeta todo o setor turístico brasileiro, a queda de turistas estrangeiros. Queda essa provocada pela imagem negativa do Brasil no exterior, gerada por dois fatores: a crise política interna com o impeachment da ex-presidente Dilma Roussef e a epidemia de dengue e chikungunya que atingiu o Brasil em 2016 e 2017.
“Fatores que afetaram especialmente o turismo dos jovens, principal público dos hostels. Em sua grande maioria, os jovens ainda precisam dos recursos e aval dos pais para viajar, e esses pais olhavam no Brasil como um país que não oferecia segurança para seus filhos”, destaca Alex.
Em 2020 veio a pandemia e, mais recentemente, os incêndios do Pantanal. “Os incêndios afetaram demais a imagem do Brasil lá fora. Afeta especialmente estados como Mato Grosso, que vivem do ecoturismo. Agora, temos que trabalhar para recuperar nossos turistas, que vem para cá ver nossa bela natureza, nossa fauna e flora”.
Quanto a pandemia, Alex explica que não somente os hostels, mas hotéis, pousadas e outros meios de hospedagem já se adequaram às necessidades sanitárias para receber, seguindo regras para evitar aglomerações, contato entre as pessoas, entre outros itens necessários para garantir a proteção dos hóspedes.
“Com a nova rotina de cuidados com a pandemia, os hostels passam por reformulações e cuidados especiais de biossegurança, que permitem uma hospedagem segura, econômica e com a particularidade de uma grande integração cultural com os destinos escolhidos, que é a marca registrada dos Hostels da HI”, completa o novo presidente da entidade no Brasil.
Alex aponta que um dos desafios de sua gestão será a inserção de mais hostels na rede Hostelling International Brazil, já que para fazer parte da rede, os meios de hospedagem necessitam seguir os padrões estipulados pela HI Brazil.
Nem todos os hostels fazem parte da HI. “Ter a classificação HI representa que o lugar tem um padrão, oferece qualidade no atendimento, segue regras no espaço físico e nos serviços, além de uma série de bônus a partir de parcerias formadas entre os hostels e outras empresas”, conta Alex Vieira de Deus. O viajante também pode se associar ao HI Brazil, pagando uma anuidade, e com isso obter descontos quando for se hospedar em todos espaços filiados ao HI.
História – De acordo com o portal da HI Brasil, a ideia da criação do meio de hospedagem “hostel” surgiu na Europa em 1909, através de um educador alemão, Prof. Richard Schirrmann, que viajava com seus alunos para realizar atividades extraclasses. Em uma dessas saídas enfrentou uma tempestade e acabou se abrigando em uma escola, quando então teve a primeira ideia de criar um meio de hospedagem voltado para jovens estudantes.
O movimento dos hostels se espalhou rapidamente pelo mundo e em 1932 foi criada a Federação Internacional de Albergues da Juventude (International Youth Hostel Federation – YHF), que a partir de 2006 passou a se denominar "Hostelling International" (HI).
Os hostels chegaram ao Brasil na década de 1960 como uma iniciativa isolada de um casal de educadores, Joaquim e Yone Trotta, que conheceram os hostels na França e resolveram abrir um hostel na cidade do Rio de Janeiro. Em 1971 foi criada a Federação Brasileira de Albergues da Juventude – FBAJ, hoje denominada "HI Hostel Brazil". No Brasil são mais de 30 hostels HI, encontrados em mais de 30 cidades.
A Hostelling International (HI) é uma organização não governamental, sem fins lucrativos e uma das maiores organizações associativas para jovens do mundo, reconhecida pela UNESCO e associada a OMT (Organização Mundial de Turismo). Possui mais de 3,7 milhões de associados no mundo e cerca de 4.000 hostels em mais de 90 países.
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