O Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) acaba de lançar um estudo sobre o mercado voluntário de carbono (MVC) no Brasil. O objetivo é mostrar a realidade atual do mercado, destacando as principais tendências, mudanças e desafios enfrentados entre 2021 e 2023. No ano passado, houve uma queda de 89% no volume de créditos emitidos e 44% no volume de créditos aposentados, em relação ao ano de 2021, recorde da série histórica.
O estudo constata que o mercado voluntário de carbono no Brasil passou por um crescimento significativo, mas enfrenta desafios críticos que precisam ser abordados para garantir sua credibilidade e sustentabilidade a longo prazo.
Do lado da oferta, as razões para o cenário observado refletem problemas como a dificuldade em garantir que os créditos de carbono representem reduções reais, adicionais e permanentes de emissões de gases do efeito estufa, uma vez que não há padronização e transparência, logo os compradores não conseguem avaliar a qualidade desses créditos.
Do lado da demanda, o problema está na incerteza na forma como as companhias usam os créditos adquiridos para atingir suas metas de zero emissões líquidas. Há pouca orientação sobre a melhor forma de usar os créditos de carbono, resultando em falta de transparência e necessidade de melhorar a credibilidade dos arranjos no mercado voluntário.
Crédito Emitidos e número de projetos no Brasil por ano
Em 2023, houve um pouco mais de 10 projetos e 3,38 milhões de créditos emitidos. Esse resultado representa o menor número de projetos de emissão de créditos nos últimos três anos. Apesar disso, a taxa de 0,28 milhões de créditos por projeto, supera grande parte das taxas observadas em todo o período, sendo a quinta maior.
Por regiões, no ano de 2023 ante 2021, as regiões Norte e Nordeste ainda concentraram os maiores números de projetos, sendo 4 no Norte e 3 no Nordeste. Já o Centro-oeste e Sudeste contaram com dois projetos cada e, o Sul apenas um.
Setores e estados do Brasil
Analisando os setores, em 2021, créditos de energia renovável representavam 29% do total, enquanto projetos de floresta e uso da terra correspondiam a 65%. Em 2023, a participação dos créditos de energia renovável aumentou para 45%, enquanto os de floresta e uso da terra diminuíram para 41%.
Nos últimos três anos (2021-2023), os estados do Mato Grosso, Amapá e Acre, que em 2021 eram casa para projetos de floresta e uso da terra, em 2023, passaram a não emitir mais créditos, dando lugar – de maneira mais tímida – aos estados de Goiás e Rondônia.
Em energia renovável, em 2021, 10 estados abrigavam projetos geradores de créditos de carbono, entre eles, destaca-se Rio Grande do Sul e Piauí, responsáveis pelos maiores volumes no País. No entanto, em 2023, esse número cai pela metade, com Rio Grande do Sul deixando de emitir créditos para o escopo de energia renovável.
Por sua vez, gestão de resíduos é mais discreto no Brasil, concentrando-se, em 2021, apenas nos estados de Santa Catarina, Minas Gerais e Maranhão. Já em 2023, apenas Minas Gerais manteve projetos emitindo créditos nesse setor.
Apesar do imenso potencial, projetos geração de créditos de carbono no âmbito da agricultura ainda são escassos no Brasil. Em 2021, apenas o estado de São Paulo possuía projetos nesta área. No ano passado, apenas Mato Grosso do Sul passou a abrigar projetos deste escopo.
De acordo com a pesquisadora do Centro de Bioeconomia da FGV e autora do estudo, Fernanda Valente, os resultados indicam que o mercado voluntário de carbono no Brasil, embora tenha mostrado potencial de crescimento, enfrenta desafios substanciais. “A redução drástica no volume de créditos emitidos e no número de projetos entre 2021 e 2023 sugere uma instabilidade e falta de confiança no sistema atual. Um dos principais desafios é assegurar que os créditos de carbono realmente representem reduções reais, adicionais e permanentes de emissões de gases de efeito estufa. Isso requer padronização e transparência no processo de emissão e verificação dos créditos”.