Uma das consequências da pandemia do coronavírus foi que as pessoas começaram a se atentar mais para necessidade de controle financeiro e sustentabilidade. Não à toa, a moda circular, que trata da reutilização de peças usadas, ganhou espaço concreto no mercado, impactando na formação de um novo perfil de consumo e venda, trazendo benefícios tanto para quem compra, quanto para quem vende.
Para se ter ideia, de acordo com o Sebrae, a abertura de estabelecimentos que comercializam produtos de segunda mão registrou crescimento de 48,58% entre os primeiros semestres de 2020 e 2021. Somente no primeiro semestre do ano passado, 2.104 empresas desse segmento foram abertas, sendo entre elas, 1.875 Microempreendedores Individuais (MEI) e 229 empresas de pequeno porte.
Gabriela Parra e Mariana Spadacio, proprietárias de uma loja de moda circular voltada para produtos infantis em Cuiabá, a Repitikos, são parte desse mercado que não para de crescer. A dupla abriu esse ano a empresa de outlet infantil e comenta que o que as levaram a entrar nesse mercado, foi justamente a possibilidade de um negócio rentável e que alia a reciclagem de produtos, vantagem financeira e mercado expansivo.
“Nós percebemos que esse era um mercado pouco explorado ainda aqui em Cuiabá e decidimos engajar assim que tivemos a ideia de abrir a empresa. O nosso modelo é poder oferecer produtos de qualidade e acessíveis e participar desse novo modelo de negócios que está se expandindo. E estamos podendo ver já os resultados positivos não somente para nós, mas também para os clientes”, ponderam.
De fato, no mercado da moda, a sustentabilidade e tudo que a agrega, é um conceito que chegou para ficar. O sistema de produção, que antes era linear, e envolvia apenas a distribuição e consumo dos produtos, e que, o de certa forma, valoriza o descarte de peças, está sendo alterado. E as empresas estão atentas à necessidade de mudar essa realidade para conseguir se manter no jogo da disputa pelo consumidor.
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É o que confirma a analista técnica do Centro Sebrae de Sustentabilidade em Mato Grosso, Sara Espírito Santo de Paula. “Hoje se olha muito a sustentabilidade com um viés mais estratégico, sem perder de vista o empreendedorismo e a parte econômica. Quando a gente consegue olhar para dentro desse segmento da moda e traz essa questão da reutilização e reaproveitamento, há um impacto importante”.
E as empresas que já estão trabalhando a moda circular buscam agora cada vez mais incrementar sua cartela de produtos e a experiência agregada que podem oferecer ao seu público, para tentar se manter a frente desse novo cenário. A Repitikos, por exemplo, trabalha com a compra e venda de produtos para crianças de 0 a 12 anos que vão desde peças para enxoval, brinquedos, roupas até puericultura.
“O nosso lema é o pegue, apegue e desapegue. Muitas pessoas têm essas peças paradas em casa e, dessa forma podem desapegar, vender para nós e adquirir com a gente outras peças. E o diferencial é que nós vamos até a casa da pessoa buscar os desapegos dela. A gente faz a seleção bem criteriosa dos produtos para que tenhamos na nossa cartela, somente coisas de qualidade”, diz Gabriela Parra.
No espaço, os clientes podem encontrar inclusive peças de roupa de marcas importadas, com preço de desapego. Uma vantagem e tanto para àqueles que querem adquirir produtos de qualidade – que teriam dificuldade em ter acesso de outra forma – mas sem deixar a economia de lado.
A empresa incrementou ainda o sistema de comercialização com a sua própria moeda, chamada de dineuro, que funciona de uma forma diferenciada. O cliente que for desapegar de um produto, pode receber o valor direto na conta ou pegar essa “cédula”. Dessa forma, quando for de seu interesse, ele pode ir até a loja e adquirir os produtos que estiverem precisando. “Esse é um negócio bom para os pais, para nós, todo mundo sai ganhando. E estamos buscando sempre desenvolver esses mecanismos que facilitem o nosso contato e essa troca com os nossos clientes, para que seja algo constante”, explica Mariana Spadacio.