Os dados do crescimento do PIB brasileiro, divulgados pelo IBGE na última sexta feira (01), confirmaram a boa notícia já esperada pelos economistas, casas de análises econômicas, bancos e academias: a economia cresceu 2,9% em 2023, tendo como principal propulsor o setor agropecuário. Lembro que em janeiro de 2023, a média ponderada das expectativas dos mesmos analistas, bancos e casas de análises indicava um crescimento de apenas 0,7% para o ano passado, conforme levantamento publicado semanalmente pelo Banco Central (pesquisa Focus).
Do lado da oferta, o protagonismo do crescimento de 2023 ficou, mais uma vez, com a agropecuária, que cresceu 15,1%, enquanto o setor de serviços cresceu 2,4% e a indústria 1,6%. A safra recorde de 320 milhões de toneladas de grãos, bons preços das commodities e exportações aquecidas ditaram o ritmo do forte crescimento nos dois primeiros trimestres do ano. Mesmo com a desaceleração nos dois últimos trimestres, a força sazonal do primeiro semestre garantiu o bom desempenho anual da economia.
Na ótica da demanda, o consumo das famílias apresentou crescimento de 3%, o que ajudou a tracionar a economia. O aumento dos gastos familiares foi alavancado pelos programas sociais da administração federal, aumento real do salário mínimo, aquecimento do mercado de trabalho, inflação dentro do intervalo da meta, início do ciclo de redução da taxa básica de juros pelo Banco Central, que por sua vez, ajudou a melhorar o mercado de crédito.
O bom desempenho da economia em 2023 torna-se especialmente expressivo, ao ser comparado com a base alta de 2022 e confirma tendência de crescimento continuado desde 2021 (4%), 2022 (3%) e 2023 (2,9%).
Com os dados já conhecidos do PIB de 2023, surge a pergunta: como será 2024?
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As expectativas são de crescimento menor em 2024. Todavia, o crescimento virá com melhor qualidade. Trabalho com a estimativa de crescimento de 2,5% em 2024, mantendo a sequência de bom desempenho da economia brasileira que vem desde 2021, após a queda brusca de 2020, ocasionada pelos efeitos da pandemia da covid-19.
Enquanto em 2023 o desempenho econômico foi muito tracionado pela agropecuária, mais concentrado nos dois primeiros trimestres e estagnado nos dois últimos, em 2024 o crescimento deve ter participação mais equitativa dos três setores (serviços, indústria, agropecuária) e também será mais “espalhado” ao longo dos quatro trimestres do ano.
A agropecuária não terá o mesmo excepcional desempenho de 2023, mas mesmo assim, contribuirá de forma expressiva, pois colherá a segunda maior safra da história do país, estimada em 300 milhões de toneladas. A indústria receberá estímulos de vultosos investimentos nas áreas de saneamento, construção civil e automotiva. As cinco maiores montadoras de veículos já anunciaram que investirão aproximadamente R$ 100 bilhões em 2024/2025 para ampliação de plantas industriais e expansão de algumas já existentes. O setor de serviços continuará contando com os estímulos tributários da redução dos custos previdenciários das folhas salariais, além do programa Perse que reduz tributos federais para o segmento de eventos. A continuidade do ciclo de redução das taxas de juros e a inflação próxima da meta aumentam a oferta de crédito para o consumo de bens e serviços. O desemprego em queda também aumenta a renda, expandindo o consumo das famílias.
Partilho da visão de que a economia brasileira manterá a tendência de crescimento mediano continuado dos últimos três anos, próximo de 3%, estabelecendo as condições macroeconômicas para voos mais altos a partir de 2025.
Vivaldo Lopes é economista