Reajustes pontuais que começam a ser feitos sobre os preços de bomba do etanol hidratado em postos de Cuiabá e Várzea Grande. Em um flagra realizado pelo MT Econômico, no mesmo dia – na última quinta-feira – um revendedor localizado no início da Avenida da FEB, em Várzea Grande, aumentou o preço do litro do biocombustível em R$ 0,44.
Pela manhã, o MT Econômico registrou o valor (em foto) a R$ 3,13. A noite, o mesmo posto fixava o preço de R$ 3,57. No posto, que é bandeirado, a explicação dos frentistas é sempre a mesma: “o patrão mandou aumentar”, disse um frentista ontem pela manhã, à reportagem do MT Econômico.
Essa alta, mesmo que indigesta, já era esperada pelo mercado. Sempre que há reajustes autorizados pela Petrobras aos derivados de petróleo, há uma espécie de reposicionamento de valores para reduzir a diferença de preços entre o etanol e a gasolina, que são as matrizes mais consumidas nas duas cidades.
A alta de preços tem elevado gradualmente o valor de bomba do biocombustível, no entanto além das máximas de R$ 3,59/3,57, a reportagem encontrou o litro e ainda a R$ 3,07. Todos esses registros são de Várzea Grande, cidade mato-grossense que costuma a ter os menores valores dos dois combustíveis ao consumidor.
Nessa semana, a Estatal brasileira anunciou reajuste sobre a gasolina e diesel. A gasolina A – produzida pelas refinarias de petróleo e entregue diretamente às distribuidoras – teve preço médio aumentado em R$ 0,41 por litro e passando a ser vendida às distribuidoras por R$ 2,93. O aumento é de cerca de 16%. Para o diesel, a alta sobreo preço médio de venda foi de R$ 0,78, chegando a R$ 3,80 por litro. O reajuste representa 26%.
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QUEM ENTENDE? Esse novo movimento de alta ao etanol contrasta com a realidade vivenciada no Estado, que é o maior produtor de grãos do País. Mato Grosso é o maior produtor de milho, cultura que se tornou a principal matéria-prima para produção de etanol de milho. Nessa safra, cerca de 75% de todo etanol produzido no Estado – originado na cana e no cereal – vêm do milho.
Conforme dados recentes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Mato Grosso vai ofertar 5,45 bilhões de litros de etanol (anidro e hidratado), dos quais 4,38 bilhões de litros são produzidos do milho e em indústrias instaladas no Estado. Detalhando a oferta do biocombustível, o total previsto, se confirmado, será 25,7% superior ao da safra passada, e adiciona mais de 1,11 bilhão de litros ao consumo mato-grossense. Serão 4,38 bilhões de litros de etanol de milho e outros 1,07 bilhão de etanol de cana. A safra de cana também está maior na comparação anual: passa de 15,87 milhões de toneladas (t) para 16,95 milhões, alta anual de 6,8%.
Em relação ao milho, a safrinha mato-grossense vai colher resultados históricos: mais de 51 milhões t são esperadas. Também conforme dados da Conab, a oferta de milho supera a da soja no Estado. Mato Grosso, com safra consolidada de soja desde o final da colheita em abril, ampliou a produção em 9,9%, passando de 41,49 milhões t para 45,60 milhões t. O milho registra a melhor evolução anual, crescimento de 23,4% entre uma safra e outra. Sai de 41,10 milhões t para 50,73 milhões t.
Nesse contexto de superoferta, e com a necessidade de vender o cereal para abrir espaços nos armazéns, os preços do milho seguem sob pressão baixista. Segundo os dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o preço da saca do milho, em Mato Grosso, registra desvalorização anual de mais de 43%, até a virada de julho para agosto.
O cereal vem exibindo fortes quedas desde o início de 2023, baixa essa que se intensificou ainda mais nos últimos meses. “Para se ter ideia, o preço médio disponível na semana do último dia 28 {julho} ficou cotado a R$ 33,23/sc e apresentou desvalorização de 43,18% ante o mesmo período do ano passado, quando havia fechado em R$ 58,48/sc. Esse cenário é em decorrência do aumento da disponibilidade do cereal no mercado interno, do déficit de armazenagem e da perspectiva de uma produção de 50,15 milhões de toneladas, 14,39% a mais que a safra 2021/22”, explicam os analistas do Imea.
Ainda que o milho seja cultivado e industrializado dentro de Mato Grosso, o preço do etanol nunca esteve tão caro como nos últimos anos. A desvalorização da cotação da matéria-prima, ainda não chegou às bombas e nessa reta final de colheita tanto do milho, quanto da cana – que vai até no máximo a outubro – não há fundamentos para se esperar por reduções de preços nos postos.