O diretor-executivo da Sindipetróleo, Nelson Soares Junior, explicou o motivo dos preços elevados da gasolina nos postos de combustíveis. De acordo com ele, a alta tem muito mais relação com o preço internacional da gasolina e do óleo diesel e das distribuidoras, do que a falta de vontade dos donos dos postos de diminuir o preço nas bombas.
O MT Econômico entrevistou Nelson Soares Junior para entender qual o motivo das oscilações de preço, incluindo o recente aumento de R$ 0,23 por litro da gasolina anunciado pela Petrobras, além dos bastidores do mercado de combustíveis. Essa alta deve elevar o preço acima de R$ 5,00, conforme noticiado pelo portal essa semana.
Atualmente, cerca de 25% a 30% da gasolina consumida no Brasil é importada. Embora o país produza uma quantidade de petróleo que é maior do que o consumo interno, o parque de refino não consegue fazer com que todo esse combustível fóssil seja refinado. Então, é necessário exportar essa matéria prima (petróleo) e comprar gasolina e óleo diesel de outros países.
“Se a Petrobras vender o produto muito mais barato do que o mercado internacional, ninguém vai querer importar esses 25% lá fora para perder dinheiro e vender mais barato. Se ela aumentar o preço com relação ao mercado internacional, todo mundo vai comprar além dos 25%, porque lá fora está mais barato e aí, a Petrobras não vende. Então, há um equilíbrio de precificação no modelo atual adotado pelo combustível fóssil e governo brasileiro no tocante ao petróleo e seus derivados”, explica o Nelson Soares Junior.
A Petrobras sempre tenta manter esse equilíbrio, então quando os valores estão muito distantes, a empresa faz um reajuste ou ela também, pode fazer uma queda para que os preços se mantenham coesos. E é dessa forma que ocorre o aumento, este que é realizado ainda na refinaria, imediatamente repassado para as distribuidoras e quando os postos compram, repassam ao consumidor final e aí todo mundo perde já que o movimento econômico não cresceu.
Distribuidoras
Recentemente o Procon-MT iniciou uma ação de fiscalização em alguns postos de Cuiabá e Várzea Grande, devido a possíveis práticas irregulares. Para Nelson, é importante que o órgão também fiscalize as distribuidoras.
“As informações que chegam para nós é de que, assim que é anunciado o aumento, as distribuidoras entram em regime de restrição. O que é isso? Se você me pedir 10 mil litros, eu vou te entregar 5 mil ou eu não vendo mais e meus pedidos estão suspensos. E aí, o que ela está fazendo? Ela ‘tá’ segurando o estoque que comprou no preço antigo para que possa revender no dia seguinte no preço novo. Isso ajuda ao caixa dela, muitas vezes até a não repassar na totalidade o aumento da Petrobras em um primeiro momento. Da mesma forma, o posto sabendo que amanhã ele vai comprar produto mais caro e vai precisar de dinheiro para isso, ele também tem todo o direito de reajustar o preço dele. Independente se o estoque é velho ou novo. O que ele precisa é manter a atividade dele dentro de um patamar econômico que não o leve a quebrar”, explica Nelson Soares Junior.
O diretor do Sindipetróleo prossegue em sua explicação dizendo que, isso é algo natural do mercado, da mesma forma que o consumidor ao saber do aumento, vai aos postos encher o tanque de combustível enquanto o valor ainda está ‘mais em conta’. Nelson faz uma crítica ao Procon, já que segundo ele, as fiscalizações são todas voltadas para os postos de combustíveis, mas não há ações do órgão nas distribuidoras.
De acordo com Nelson, o aumento dos preços de combustíveis para o dono do posto não é viável, já que, este quer vender pelo menor preço possível para que possa conquistar sua base de clientes.
Redução de Alíquotas no combustível
Em janeiro do ano passado, o governo estadual reduziu o ICMS dos combustíveis para 23%. Em junho, o governo federal sancionou uma lei que determinou que o combustível era um item essencial, e o limite de ICMS era de 17%, o que na época era uma tentativa de conter a inflação. Atualmente, o petróleo está voltando a subir e embora o governo federal tenha determinado a continuidade, até o fim desse mês, do imposto zero nos combustíveis, o preço do petróleo está alavancando de forma rápida. Essa semana, houve um aumento de 7,5% e a tendência é que os preços continuem subindo, especialmente após o fim desse mês, quando finaliza a desoneração tributária, em 28 de fevereiro.
Paridade Internacional
Durante o governo de transição, o presidente Lula anunciou que iria rever a questão de Preço de Paridade de Importação (PPI), que foi implementada ainda no governo Temer. A justificativa usada na época, é que o Brasil é dependente da importação de combustíveis. O governo Bolsonaro continuou utilizando o PPI e agora, para o atual governo, esse sistema será reavaliado.
Sensacionalismo Midiático
Nelson reforçou que muitos veículos de imprensa fazem sensacionalismo midiático. Quando o preço no posto aumenta, tem matérias publicadas do tipo “assalto na bomba”, além de generalizarem como se os donos de postos fossem ‘bandidos’. O diretor-executivo do Sindipetróleo acredita que assim como em outros setores, existem práticas irregulares, porém, isso não pode ser generalizado. O próprio sindicato repudia atos irregulares no setor e constantemente observa a atuação dos empresários de postos de combustíveis filiados ao Sindipetróleo.
Ouça abaixo o áudio com a entrevista completa: