O Brasil vive, em 2025, mais um momento de dúvida para o setor produtivo e não tem a ver com assuntos de política externa. Ao olhar para os números divulgados pela Serasa Experian, é impossível ignorar o alerta: só em abril, 167 empresas entraram com pedidos de recuperação judicial. Dessas, quase 80% são micro e pequenas empresas, o coração pulsante da economia brasileira, mas também as mais frágeis diante de um ambiente cada vez mais hostil.
Ao mesmo tempo, os pedidos de falência subiram para 61 no mês, o maior número do ano. Pequenas empresas novamente lideram as estatísticas, mostrando que a crise, muitas vezes, atinge primeiro quem tem menos fôlego financeiro.
De acordo com Marcos Françóia, especialista em recuperações judiciais, é importante que os empresários busquem o mais rápido possível solucionarem a sua situação econômica para que possam superar a crise pela qual passam. “Em processos de RJ há empresas que quase sucumbiram e outras que saíram mais fortes. Ainda outras que patinam pela falta de linhas de crédito para empresas que estão nas relações de recuperandas. A diferença esteve sempre na velocidade de reação”, explica o especialista.
Esse cenário não é obra do acaso. Ele é fruto de uma combinação explosiva de fatores externos e internos que se retroalimentam, testando a capacidade de sobrevivência até das empresas mais sólidas. As causas são múltiplas e interligadas.
Confira a seguir 5 pontos que devem ditar o futuro do empresariado brasileiro com relação às recuperações judiciais.
1) Juros altos e crédito caro
A taxa Selic alcançou 15% ao ano, o maior patamar desde 2016. Para empresas endividadas, isso representa um peso insuportável: cada parcela vencida cresce exponencialmente, transformando uma dificuldade momentânea em um problema estrutural. “Bancos, por sua vez, tornaram-se mais conservadores, limitando o acesso a crédito e elevando as exigências de garantias”, explica o especialista Marcos Françóia.
2) Inflação persistente
O IPCA acumula 5,35% em 12 meses, corroendo margens de lucro e encarecendo insumos, energia e logística. Pequenos negócios, que operam com margens estreitas, sentem esse impacto de forma mais aguda, especialmente no varejo e nos serviços.
3) Endividamento mal estruturado
Muitas empresas recorreram a financiamentos caros e de curto prazo durante os anos anteriores, tentando sobreviver à pandemia e às oscilações de demanda. “Agora, parte significativa do caixa está comprometida com o pagamento dessas dívidas, deixando pouco espaço para investir ou reagir a novas adversidades”, orienta Françóia
4) Gestão deficiente e falta de planejamento
Dados da Serasa revelam que 7,3 milhões de empresas brasileiras estão inadimplentes, somando mais de R$ 170 bilhões em dívidas atrasadas. Mas não se trata apenas de fatores externos: problemas internos, como falta de controle de caixa, estoques desalinhados e estruturas de custos infladas, também comprometem a saúde financeira.
Nessa seara, muitos empresários veem na recuperação judicial a única saída. Às vezes empurrados para a RJ como sendo ela uma bala de prata. E, de fato, ela pode oferecer um fôlego temporário, suspendendo cobranças e renegociando dívidas. Porém, sem um plano estratégico robusto, a medida é apenas um adiamento do inevitável.
“É preciso entender que o sucesso de uma recuperação depende de muito mais do que o apoio jurídico. Ele exige um estudo econômico da situação, que pontuará os motivos da crise muito mais do que textos bem redigidos em pedidos de recuperação judicial”, afirma Marco Françóia.
5) Escolher o caminho certo
Por fim, um estudo que convença o empresário da necessidade de mudança e disciplina operacional, liderança firme e coragem para tomar decisões difíceis: cortar custos, vender ativos improdutivos, repensar o modelo de negócios e até reduzir o quadro de colaboradores. Aí sim a recuperação judicial terá seu valor, pois sobre a proteção da lei, a empresa ganhará fôlego para fazer os ajustes necessários.
Em processos de RJ há empresas que quase sucumbiram e outras que saíram mais fortes. Ainda outras que patinam pela falta de linhas de crédito para empresas que estão nas relações de recuperandas. “A diferença esteve sempre na velocidade de reação e na capacidade de execução”, analisa Françóia.
Para empresários que enfrentam a tormenta de 2025, o especialista deixa algumas recomendações:
Faça um diagnóstico profundo
Mapeie fluxos financeiros, estoque, custos e processos. Descubra onde estão os gargalos e as fontes de desperdício.
Controle rigoroso de caixa
Preserve cada centavo. Adie investimentos não essenciais, renegocie prazos com fornecedores e busque alongar dívidas a custos menores.
Redesenhe o portfólio
Foque em produtos e serviços com margens mais altas. Avalie se é possível eliminar linhas deficitárias.
Otimize operações
Adote práticas de produção enxuta. Reduza estoques excessivos e reavalie sua cadeia logística.
Reforce a comunicação com credores e colaboradores
Transparência evita rupturas e pode abrir portas para renegociações mais favoráveis.
Por fim, sobreviver a 2025 não será questão de sorte. Será resultado de planejamento, resiliência e decisões assertivas. Empresas que esperarem a economia melhorar por inércia provavelmente se verão nas estatísticas de falências do próximo trimestre.
“As que agirem agora — com agilidade, coragem e disciplina — poderão não apenas sobreviver, mas transformar a crise em uma oportunidade de reconstrução e fortalecimento. Em tempos de incerteza, o maior risco é não fazer nada”, finaliza o especialista.
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