Parece estranho, mas a previsão não é nada animadora. Um cálculo da professora da FGV (Fundação Getulio Vargas) Virene Matesco, doutora em economia, estima que caso o PIB (Produto Interno Bruto) avance 1% (previsão do mercado até o momento), o tamanho da economia ainda será 3,8% menor do que em 2014. "Se você imaginar que em 2014 nós produzíamos 100 tijolos, em 2019 teremos produzido 96,2", exemplifica ela.
Segundo a doutora em economia, o PIB encolheu 3,5% em 2015 e 3,3% em 2016. No ano seguinte, a economia voltou a crescer, porém, apenas 1,1%, mesmo resultado registrado em 2018.
O PIB negativo do primeiro trimestre de 2019, em relação ao trimestre anterior, foi mais um indicativo de que o país está, segundo economistas, "andando de lado".
O único setor a registrar alta foi o de serviços (0,2%), puxado principalmente pelo consumo das famílias, que cresceu 0,3%.
"A conjuntura macroeconômica contribui. Apesar da inflação mais alta — 4,1% no primeiro trimestre de 2019 contra 2,8% em 2018 — , tem o crescimento nominal de 12% do crédito neste trimestre. A taxa de juros, embora pouco, também reduziu. O mercado de trabalho avança a passos lentos, mas já observamos uma melhor da massa salarial real", observa Amanda Tavares, economista da coordenação de Contas Nacionais do IBGE.
Recuperação econômica é a mais lenta da história brasileira
Mas isso não é suficiente para reaquecer a economia. A indústria, setor que tem os empregos formais com os melhores salários, amargou queda de 0,7% no trimestre.
O índice de confiança da CNI (Confederação Nacional da Indústria) mostrou em maio que o empresariado prevê uma piora da situação atual do país.
No lado das expectativas, o otimismo registrado de outubro a janeiro já voltou a patamares pré-eleições.
O principal desafio é que, diferente de outras crises, agora o governo não tem como colocar dinheiro para estimular a economia.
A deterioração das contas públicas torna ainda mais difícil a retomada do crescimento.
"O reaquecimento [da economia] depende do empresário, já que o governo não vai conseguir fazer os investimentos necessários neste primeiro momento", diz o técnico de planejamento e pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Leonardo Mello de Carvalho.
Do outro lado, os empresários aguardam a aprovação da reforma da Previdência, mais como uma sinalização do que como uma salvação, acrescenta a professora Virene Matesco.
"O governo é avaliado pelos investidores pela maneira como ele conduz a política fiscal. Se você é um governo que não consegue sanar seus próprios compromissos, eu não confio em você. Então a reforma da Previdência é esse sinal. Ela não é necessária para o crescimento de hoje, mas é o começo."
O técnico do Ipea ressalta que a demora para aprovar a mudança nas aposentadorias, além de travar outras discussões importantes para reestruturar a economia brasileira, alimenta a incerteza.
"A aprovação da reforma muda o humor, sem dúvida, mas em termos de recuperação da produção, isso ficaria para 2020."
Para ele, "é alarmante" a queda dos investimentos no país. No primeiro trimestre de 2014, a taxa de investimento era de 17,7% do PIB. No último levantamento, ficou em 15%.
A professora da FGV destaca que o Brasil acumula 30% de queda dos investimentos desde antes da recessão.
"Ou seja, estamos reduzindo a nossa capacidade de produção de longo prazo. O investimento de hoje é a capacidade de produção de amanhã. Se está caindo sucessivamente nos últimos cinco anos, a nossa capacidade de crescer de forma sustentável é cada vez menor."