Em janeiro de 2021, enquanto o Brasil ainda passava por maus bocados com a pandemia do novo coronavírus e com a economia do país em crise, já prevendo uma queda significativa no Produto Interno Bruto, resolvi encarar mais um grande desafio em minha vida e assumi a presidência do Fórum Agro MT. A empreitada para quem vê de fora pode assustar, representar várias entidades do setor agropecuário do maior estado produtor do país é uma tarefa que exige muita resiliência e determinação, mas ao lado de uma equipe muito empenhada e extremamente técnica, evoluímos e conquistamos importantes metas para o setor.
Logo de cara uma pauta que há quase quatro décadas alarma produtores rurais, industriais, comerciantes e a classe política como um todo: o Zoneamento Socioeconômico Ecológico do Estado de Mato Grosso (ZSEE-MT). Foram muitas reuniões, debates, estudos e documentos apresentados mostrando a necessidade de ajustes na proposta de zoneamento. A importante ressalva é a de que os poderes Legislativo e Executivo estiveram sempre prontos a ouvir o setor, a analisar as demandas e buscar avanços na construção da proposta.
Prova disso foi a criação, na Assembleia Legislativa, de uma Comissão Especial para debater o assunto, que percorreu o Estado buscando ouvir a população, solicitando estudos e buscando o ponto de convergência entre preservação e conservação. Aproveito para parabenizar os parlamentares e a Assembleia Legislativa pelas inestimáveis contribuições nesse debate. Entendo que é necessária a organização territorial e que nela sejam verificadas potencialidades e fragilidades, mas também que devam ser levados em consideração todos os avanços tecnológicos para esse diagnóstico. Avanços tecnológicos tanto no que diz respeito aos estudos quanto aqueles referentes ao sistema de produção.
Com uma relação próxima e objetivos comuns para fortalecer ainda mais o agronegócio, que é a principal engrenagem da economia do Estado, apoiamos a criação da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que é coordenada pelo deputado estadual Xuxu Dal Molin (PSC), que tem trabalhado ao lado dos outros integrantes da FPA visando o desenvolvimento e defesa das pautas do setor.
Ainda no primeiro semestre uma importante discussão sobre a logística, a construção da Ferrogrão, foi mais uma vez colocada em debate, obra fundamental para a melhoria das condições de transportes em Mato Grosso e essencial para a competitividade da nossa produção no mercado mundial. O projeto prevê 933 quilômetros de trilhos entre Sinop (MT) e Itaituba/Miritituba (PA), com investimentos estimados em R$ 12 bilhões. É considerado um dos mais relevantes e ousados projetos de expansão da malha ferroviária de Mato Grosso, idealizado pelo agronegócio e avalizado pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas.
O projeto foi alvo de uma ação impetrado junto ao STF e, mais uma vez baseados em estudos e informações técnicas que apontam que o impacto da linha férrea no meio ambiente será ínfimo, pois seu traçado é paralelo ao da BR-163, o que a torna uma obra ambientalmente sustentável, ingressamos na condição de amicus curiae no processo, com o objetivo de acompanhar e subsidiar de informações a Côrte. Defendo a conclusão da ferrovia, que é tida como parte da solução para os problemas logísticos enfrentados pelos produtores, principalmente da região norte do Estado, no escoamento da produção. Não bastasse o ganho na logística, a ferrovia ainda irá aquecer a economia de 27 municípios, com a geração de emprego e renda na região contemplada pelos trilhos.
Já no último semestre entrou em nosso radar mais uma pauta preocupante e de repercussão nacional, o Marco Temporal na demarcação das terras indígenas. O assunto, que estava pacificado, voltou ao debate em virtude de uma ação judicial e chegou ao STF, com o julgamento já iniciado e, enquanto escrevo esse artigo, com pedido de vista pelo ministro Alexandre de Moraes. O setor aguarda essa decisão com apreensão, uma vez que a modificação do entendimento promoverá insegurança jurídica no campo, com reflexos muito fortes na economia do país como um todo.
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Para encerrar o ano, buscamos espaço para colaborar com o Projeto de Lei 5.482/2020, que propõe a criação do Estatuto do Pantanal. O Fórum Agro em parceria com a Assembleia Legislativa buscou ouvir os produtores da região, que não tiveram oportunidade de se expressar em evento realizado em Cuiabá pelo Senado Federal. Acreditamos que para que o PL contemple e atenda às necessidades do bioma é fundamental que os moradores e trabalhadores daquela região possam contribuir com o projeto. E assim como em todas as outras pautas de interesse do agronegócio no país, vamos nos posicionar e buscar alterações na redação legislativa visando sempre a melhor combinação entre produção e preservação.
Foi, enfim, um ano de muito trabalho e dedicação, sempre com o intuito de fortalecer e desenvolver nosso segmento. Agradeço profundamente o apoio da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat), Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat) e a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato). Que neste ano de 2022 continuemos a caminhar juntos. Há ainda muito o que ser feito e estamos juntos para a realização.
Itamar Canossa é suinocultor, presidente do Fórum Agro MT e da Acrismat