No último dia 12, completaram 44 anos da assinatura da Lei Complementar 31/77, que definiu a divisão de Mato Grosso. Tanto tempo passado e a divisão perdeu importância na memória dos mato-grossenses. Em Mato Grosso do Sul, não. É como se fosse o Grito do Ipiranga.
Aos 32 anos participei muito perto da divisão, ocupando a função de direção da Comunicação Social do Governo de Mato Grosso. Gostaria de recordar a trajetória da divisão que se concluiu em 1979 com a separação das regiões Norte e Sul, gerando dois estados.
Em 1973 a França iniciou um movimento defendendo a internacionalização da Amazônia. O governo militar da época, dirigido pelo general Emilio Garrastazu Médici, decidiu, por questão de segurança nacional e soberania do território, ocupar a Amazônia. Criou o programa Marcha para o Oeste, cuja filosofia era “Integrar para não Entregar”. O programa era vasto. Primeiro, a construção das rodovias Transamazônica Ligando o Maranhão a Manaus, e a construção da BR-163, de Cuiabá ao porto fluvial de Santarém. A ideia era rasgar a Amazônia permitindo a sua ocupação humana e econômica.
Outras medidas foram a criação da universidade federal em Cuiabá, a pavimentação de Goiânia e de Campo Grande a Cuiabá, integrando o país por rodovia. E a energia elétrica trazida de Cachoeira Dourada, em Goiás. Outra medida importante foi a colonização da região acima de Cuiabá, que ficou conhecida como o “Portal da Amazônia”. Grandes áreas de terras públicas foram vendidas a grupos de colonização, como o que abriu Sinop, Alta Floresta, além de Canarana, etc.
Para esses projetos, vieram colonos sulistas, descendentes dos imigrantes europeus do século19, com problemas de falta de terra no Sul. O governo juntou a ocupação com a colonização. Criou programas de financiamento para a ocupação produtiva, como o Polocentro, que pretendia a ocupação de 1 milhão de hectares de cerrado. Financiamentos em condições especiais e garantia de compra da produção, além da construção da infraestrutura de estradas, de escolas, de saúde, de assistência técnica rural e de energia elétrica.
Programas semelhantes foram implantados na região Sul do estado. Desse modo, estava pronto o berço da divisão. Embora houvesse poderosa pressão dos políticos do Sul, a verdadeira razão para a divisão acontecer, foi de razão geopolítica, ligada à ocupação da Amazônia.
Na prática, a região Norte era muito maior em território e desprovida de infraestrutura. Já o Sul estava muito melhor, além da próxima vizinhança com São Paulo, Paraná e Minas. Em 12 de outubro de 1977 a Lei Complementar 31 foi aprovada no Congresso Nacional. Iniciaram então os procedimentos da separação, que viria ocorrer em 1º de janeiro de 1979. O primeiro governador de Mato Grosso foi o engenheiro Frederico Campos. O último foi Cássio Leite de Barros, vice de governador Garcia Neto que se desincompatibilizou pra concorrer ao Senado em 1978. Não se elegeu, por conta dos desgastes gerados pela divisão.
Passados 44 anos, não vale mais a pena resgatar as dores, as dúvidas e incertezas de um estado tão grande e quase sem infraestrutura e com a economia muito pobre. A lei da divisão criou um fundo pra 10 anos apoiando os dois estados enquanto não fossem autossuficientes. Mas, durou poucos anos e não foi cumprido. Hoje, nem de longe o atual Mato Grosso lembra aquelas incertezas. Prevaleceram a fé dos mato-grossenses e sua acolhida aos migrantes que vieram. Esses, por sua vez, também acreditaram e alavancaram o desenvolvimento. O mato-grossense de hoje é uma mistura de tanta gente de fé e de coragem. E a divisão assustou, mas foi muito melhor com ela do que sem ela. A relação entre as regiões Sul e Norte era muito turbulenta e hostil.
Lembro-me de toda aquela maratona e sinto profunda gratidão por ter participado dela a partir de 1976 até os dias de hoje, como testemunha ocular da História e como profissional de imprensa que também acreditou no futuro!.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso