Óbvio que depois de tantas mudanças na percepção mundial provocadas pelo vírus corona, também os comportamentos sociais sairão modificados. Se o comportamento muda, a política também mudará. Aliás, talvez seja nela a mudança mais profunda.
Como nos artigos anteriores, vamos traçar um breve panorama histórico da política ocidental. Ela vem numa corrente que começa no Egito imperial, atravessou os reinados hebreus e árabes e desaguou na Grécia, onde se discutiu a filosofia de algo novo a que se deu o nome de democracia. Era o novo do novo. Os imperadores argumentavam possuir sangue vindo de sua descendência divina e isso durou até a Idade Média na Europa. Com a queda do absolutismo francês na Revolução Francesa, começam os reais sinais da velha democracia grega que tinha chegado à Europa trazida pelos romanos séculos antes.
No atual momento a democracia é o regime comemorado como o mais adequado ao mundo moderno. Variam as formas de exercício do governo, mas de algum modo todos se baseiam na representatividade popular.
Vamos ao Brasil. Nossa democracia nunca durou tempo suficiente pra se consolidar. Veio de golpes em golpes até os dias atuais. Nunca se consolidou uma hierarquia política com ascendência e com descendência. A cada temporada muda tudo e quem chega crucifica quem saiu. Na verdade, estamos falando de oportunismos. Nunca tivemos e nem temos uma democracia a respeitar o seu conceito real.
Somos uma democracia teocrática, onde os sacerdotes não vem dos templos, mas de uma vasta cadeia de interesses que se construiu historicamente pra assaltar o poder. Em 1988 a Constituição federal ,construída sob o argumento de uma pátria democrática foi, na verdade, um projeto de construção de poder político blindado.
Em 2020 estamos diante de profundas mudanças na economia, nos sistemas de produção, nos comportamentos sociais, conforme falamos no primeiro artigo desta série. A política sairá muito mudada da crise. O seu desgaste é irrecuperável. O voto transformou-se em instrumento de validação de interesses. Jamais das aspirações legitimas de 205 milhões de pessoas. O Estado transformou-se na máquina pronta e acabada pra esse poder conspirar e aprisionar o país dentro de interesses de poder pelos interesses. Jamais o poder para os interesses sociais. Quando se prostituiu os partidos políticos, ao longo dos últimos 25 anos, prostituiu-se junto o exercício da política, assaltada pelos interesses de cartório de dirigentes políticos. Todos aventureiros.
A crise do vírus trará novas ideias, assim como outras crises trouxeram ao longo da História. É inevitável que a roda da História gira pra frente. Agora se repetirá mais um grande movimento da roda.
Eleições serão laboratório de ideias pra gente comprometida com ideias. Ah. Utopia, diria o leitor. Não é. Basta uma volta aos livros da História. Os ciclos começam e terminam. Termina um nestes momentos atuais. Como uma onda!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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