A União Europeia (UE) entrou em ebulição nas últimas semanas. O tema não é novo: o agronegócio europeu. Há um universo de questões envolvidas lá. Tem semelhanças conosco no Brasil.
Na França, a maior produtora europeia de alimentos, os subsídios são enormes aos seus agricultores, ao ponto de serem considerados “quase funcionários públicos”. O volume de subsídios e protecionismo gerou um comodismo crescente na produção. Basta ver a quantidade, a qualidade e o tamanho das máquinas que estão protestado nas ruas de Paris e de mais 5 países europeus. Aqui, só grandes produtores donos de grandes áreas têm máquinas semelhantes. Lá são pequenas propriedades. Sem contar o diesel subsidiado, os juros baratos e a proteção de mercado. Baixa competitividade com os produtos vindos de fora, principalmente do Brasil.
Neste momento apertaram lá as exigência ambientais, mas muito menores do que as que eles exigem dos outros países fora do continente. Custos subiram em torno de 20% e bateu o pânico. Não é coisa que se resolva de um dia pro outro. Com a perda de competitividade da indústria e da economia de modo geral, provocada pela energia cara e escassa depois da guerra da Ucrânia, a União Europeia tem no agro um âncora econômica.
E nós no Brasil? O ambiente é de tensão crescente, por várias razões. Um, a pressão ambiental e a incapacidade política do governo brasileiro se posicionar. Segundo o governo brasileiro tem tendência ideológica de obedecer à UE e sacrificar o agro brasileiro. A identidade ideológica do governo brasileiro favorece a UE.
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Porém, dois fatores são cruéis para o Brasil. Primeiro: o déficit fiscal do governo elimina possibilidades de apoiar o agronegócio nessa travessia difícil dos mercados mundiais. Segundo, a queda de 30% na produção na safra 2023/24, vai impactar profundamente a economia brasileira. Não só a do agro. Impostos, desemprego, inflação mais déficit fiscal, desemprego, etc. Tudo que uma recessão acarreta. Se não houvesse déficit fiscal crescente ficaria mais fácil lidar com tudo isso. Cenário muito ruim!
O passo seguinte é a chance do agro brasileiro ir para as ruas como foi o europeu. O governo brasileiro é fraco politicamente e não terá condições de seque negociar à altura da crise. O cenário que pode resultar de um movimento desses é muito difícil de ser imaginado. O setor está muito endividado e pressionado pelo clima e pelas falências e recuperações judiciais. Sem falar na redução das áreas de plantio. Mas não dá pra descartar uma imensa crise econômica, política e social, ao longo de 2024.
O governo brasileiro não possui condições políticas pra negociar com o setor mais forte da economia que puxa todos os demais.
O olhar mais ao futuro é desanimador e desafiante ao mesmo tempo. A economia precisa sair de debaixo das asas dos sucessivos governos incompetentes ou aparelhados ideologicamente. Será uma chance!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso