A geração de energia elétrica verificada em 2024 no país – soma da energia efetivamente produzida por todas as usinas conectadas no Sistema Interligado Nacional– totalizou 687.692 GWh (Giga Watts-hora), dos quais 87,1% foram provenientes de fontes renováveis e 12,9% de fontes não renováveis.
O Conselho Mundial de Energia classifica o sistema elétrico brasileiro em seu World Energy Trilemma Index com bons conceitos nos quesitos de segurança energética e sustentabilidade ambiental, mas por outro lado a conta final para o consumidor é ainda muito cara.
A energia elétrica no Brasil possui atualmente uma das tarifas mais altas do mundo, boa parte influenciada pelos tributos, encargos setoriais e pelos subsídios da conta CDE-Conta de Desenvolvimento Energético. Existem subsídios para o carvão, setor de saneamento, consumidor rural, irrigante, consumidor de baixa renda, geração distribuída e para as chamadas fontes incentivadas. Quase 40% da conta refere-se a tributos (ICMS, PIS e Cofins) e Encargos Setoriais.
E ainda surgem as “bandeiras tarifárias” tornando a conta ainda mais cara. Devido a questões ambientais não construímos mais usinas hidrelétricas com grandes reservatórios e os fenômenos climáticos adversos estão aí. Pelo lado do consumo, há um grande potencial a se explorar para reduzi-lo. Por outro lado, as abordagens das empresas distribuidoras de energia elétrica têm sido muito previsíveis no tocante a economia de energia. Estampar frases como “Não deixe luzes acesas sem necessidade” por si só já não despertam mais o interesse dos consumidores.
A gestão do tempo de uso dos equipamentos é um ponto central. A energia consumida é o produto da potência do equipamento em Watts pelo seu tempo de uso, resultando no famoso kWh. Então, a orientação é “gestão”. Gestão do tempo de uso dos equipamentos e gestão para o uso da energia de forma consciente e inteligente. Entendemos, porém, que pelo preço que se paga na conta de energia, o consumidor não pode e não deveria ficar sabendo do tamanho da mesma só no final do mês, com o gasto já comprometido.
O Ministério de Minas e Energia-MME publicou em 23 de junho de 2025 a Portaria Normativa 111, que estabelece as diretrizes para a digitalização gradual das redes e dos serviços de distribuição de energia elétrica de baixa tensão no país. A medida fixa um prazo de 10 anos para a atualização tecnológica das redes elétricas. A regulamentação detalhada ainda será definida pela Agência Nacional de Energia Elétrica-ANEEL. Entre os pontos destacados pela norma está a obrigatoriedade de que os medidores inteligentes-smart meters possuam comunicação remota com sistemas Advanced Metering Infrastructure-AMI e ofereçam recursos como histórico de consumo, registro de interrupções e funcionalidades de corte e restabelecimento remoto — respeitando critérios técnicos e sociais a serem definidos pela ANEEL.
Esses medidores inteligentes podem receber, automaticamente mediante interface com aplicativos de gestão, informações em tempo real sobre o consumo de energia. Com eles, é possível saber quais equipamentos estão consumindo mais energia, e quais são os horários de maior consumo, entre outras informações. A partir disto será possível então criar uma consciência para mudar hábitos e economizar com o consumidor tendo seu consumo na “palma da mão” e on-line.
Uma residência no estado consome em média 40% acima de uma residência média do país. E neste período de agosto a novembro, de temperaturas muito altas e umidade baixa as contas de energia podem chegar ainda mais “salgadas” para os consumidores. Contudo é preciso estar atento para analisar o aumento das contas de energia. Primeiramente o consumidor deve verificar se a leitura da energia foi de fato realizada ou se foi por média de consumo. Importante também analisar seu histórico de consumo, inclusive do mesmo período do ano anterior para comparar. Verificar também na conta o número de dias faturados, que deve ser de 27 a 33 dias de acordo com a legislação.
Estima-se que o calor excessivo nesta época do ano no estado influencia num aumento de cerca de 20% a 50% no consumo de energia dependendo do perfil do consumidor e quantidade de equipamentos que utiliza. Os equipamentos de refrigeração merecem atenção especial e dentro destes, o ar condicionado é o “ator principal”. De acordo com a Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-condicionado e Ventilação-ABRAVA, entre a cada grau que se reduz no controle remoto do equipamento, são cerca de 3,5% de aumento no consumo de energia. Existem alguns estudos da ABRAVA que comprovam que, se o ar estiver em 23ºC e o ajuste da temperatura for aumentado para 25ºC, haverá uma redução de 7% no consumo. De forma análoga, se o ajuste estiver em 23ºC e for reduzido para 21ºC, haverá um aumento de 7% no consumo.
A nossa responsabilidade neste momento só faz aumentar e refletir sobre a necessidade de cuidar mais dos nossos recursos naturais, com preservação e sustentabilidade na sua utilização e diversificar mais a matriz de geração de energia com outras fontes renováveis e implantação de sistemas de armazenamento BESS-Battery Energy Storage System, tornando-nos menos dependentes de ciclos hidrológicos mais favoráveis para armazenamentos mais satisfatórios nas usinas hidrelétricas para posterior utilização no período de estiagem. O momento é de transição energética para reduzir as emissões de carbono e a energia 5 D está na ordem do dia: Diversificada, Descarbonizada, Descentralizada, Democratizada e Digitalizada.
Por fim, para otimização dos resultados, o tripé-equipamentos mais eficientes, hábitos conscientes e projetos inteligentes, deve estar bem alinhado. É preciso agir estrategicamente e com inteligência produzindo equipamentos mais eficientes e elaborando bons projetos congregar todos estes elementos. Agindo desta forma estaremos reduzindo o consumo, o gasto e ainda protegendo o meio ambiente e as futuras gerações, que nos agradecerão. Adicionalmente, é urgente a necessidade da apreciação e aprovação da Medida Provisória MP 1300/2025 em tramitação na Câmara dos Deputados que trata da modernização do setor elétrico e a abertura do mercado livre para todos os 94 milhões de consumidores cativos do país que atualmente somente podem adquirir sua energia das distribuidoras locais, permitindo o poder de escolha dos consumidores e garantindo assim competitividade e regras de mercado aos preços da energia. Atualmente apenas cerca de 70 mil tem acesso ao mercado livre de energia e são principalmente as empresas maiores que representam menos de 0,1% dos consumidores, mas respondem por 43% do consumo de energia elétrica do país.
Formas de economizar energia elétrica em seu dia a dia:
Valorizar a iluminação natural
Trocar as lâmpadas pelas mais econômicas como as do tipo LED
Ar condicionado: a temperatura ideal deve ficar em 23 graus com o ambiente fechado e limpar regularmente o filtro
Chuveiro elétrico: tomar banhos de até 5 minutos e utilizar a temperatura morna no verão
Aparelhos em stand-by: retirar os aparelhos eletrônicos da tomada quando possível
Ter atenção ao estado dos eletrodomésticos
Diminuir o uso de aparelhos como ferro elétrico e máquina de lavar. Juntar a maior quantidade de roupas para utilização em uma única vez.
Teomar Estevão Magri, Engenheiro Eletricista com MBA em Gestão de Negócios e Coordenador de Energia da Sedec MT
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