Neste domingo Cuiabá completou 304 anos. Conheci-a em 1976. Pequena, provinciana, mas com um ar de metrópole. Outra gente, outras ruas. Outras avenidas. Outra cara. Fala, jeitos, cultura. Tudo diferente de agora. Adorei a fala mansa e pontilhada de esses e erres e o prolongamento de algumas sílabas. A ironia da linguagem pra descrever algumas situações. Era uma cultura muito diversa na sua simplicidade.
De 1979 em diante a separação de Mato Grosso do Sul trouxe outra dinâmica pra Cuiabá. Edifícios residenciais, bairros novos, movimento econômico novo. Uma revolução muito grande pra cidade que tinha em 1970 só 100 mil habitantes. De cidade tradicional, no novo cenário passou à condição de matriz cultural do Centro-Oeste.
Aquela ocupação intensiva dos anos 1970/1980, nos trouxe à cidade atual com 618 mil habitantes (censo de 2022). Mas essa não é a principal questão. O estado de Mato Grosso da época tinha pequena população e economicamente era insignificante pro país. No seu discurso de posse como governador em 1995, Dante de Oliveira lamentava a pequena participação de 0,7 do PIB nacional e a população menor do que 1%.
O crescimento e a tecnificação, o sistema de exportações produziram um enorme salto pro Estado. Hoje os cenários mato-grossenses são totalmente disruptivos. Mesmo que internamente segmentos da população mais atrasados contestem esse fato incontestável.
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O que teria isso a ver com Cuiabá? Esta é a questão. Por mais que os municípios próximos e distantes cresçam e se desenvolvam, estarão amarrados à dependência dos serviços públicos e dos serviços políticos obrigatoriamente concentrados na Capital.
Nos cenários do futuro, as tecnologias dominarão tudo. Mas a matriz cultural, mesmo que seja só filosoficamente no meio dos trilhões contínuos de bytes, será o ponto de convergência de Mato Grosso. Cuiabá tem uma missão espiritual e filosófica de centro de unificação de espíritos humanos de todo o Estado, e de unificação do extraordinário DNA construído nas cinco últimas décadas. Portanto, Cuiabá não é só uma cidade de ruas, avenidas e prédios. É uma construção humana de grande porte. Porém, lamentamos amargamente que seja dirigida por gestores ultrapassados e focados em métodos do século 19.
Mesmo assim, quando as cidades têm missão, elas cumprem. De um jeito ou de outro. O futuro é uma constante que virá na proporção das transformações. Quem duvida dessa missão fantástica de Mato Grosso? E quem duvida de Cuiabá nesse olhar mais profundo?
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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