A pergunta do título está mal formulada. Deveria ser: “De que Amazônia o mundo precisa?”. Ou ainda, “Como o mundo deseja ver a Amazônia?”. Este é um tema muito delicado na atualidade. Delicadíssimo. Um pouco de história pra podermos contextualizar a atualidade e o futuro. Na década de 1970 a França estava num grande caos político, social e econômico e abriu um discurso paralelo pra desviar a atenção. O presidente francês, Georges Pompidou, começou a defender que a Amazônia deveria ser internacionalizada. Junto, que as águas internacionais do Brasil no Oceano Atlântico deveriam ser internacionalizadas e permitir que a França pescasse nelas lagosta e camarão.
O governo militar brasileiro decidiu então ocupar a Amazônia para garantir a sua soberania. Foi a grande onda de migrações do Sul, Sudeste e Nordeste, aí incluindo a divisão de Mato Grosso. O tema amansou. Mas a Amazônia foi ocupada sem um plano de longo prazo. Talvez esteja aí o grande pecado. Houve muitas transgressões ambientais, embora o tema econômico prevalecesse na época. Hoje, passados quase 50 anos, o mundo é outro e o planeta Terra está pagando um alto preço pelo desenvolvimento econômico mundial que se fez às custas das explorações dos recursos naturais.
Em 2020, definitivamente acendeu a luz amarela nos países ocidentais a respeito da gradual exaustão do planeta. Como a maior área homogênea do mundo, alcançando o Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa, a Amazônia chamou a atenção do mundo exaurido nos seus recursos naturais. Bom lembrar que é a última área nova utilizável do planeta. Em 2020, com incêndios imensos e desmatamentos, a França, com o presidente Emmanuel Macron levantou de novo a tese da internacionalização da Amazônia.
O Brasil não se defendeu bem. Não soube construir uma defesa política e nem um contra-ataque pra dar garantias ao mundo de que a Amazônia brasileira estaria bem protegida
Ficou mais grave em 2021 quando o mundo amanheceu com a nova tese do ESG. A sigla é o conjunto de práticas ambientais, sociais e de governança realizadas por empresas. É uma inevitável tendência mundial daqui pra frente. Aqui o Brasil peca feio por não ter construído antes de 2021, durante e nem depois uma garantia mundial de que saberá usar, preservar e conservar a Amazônia. Bastaria a abertura de um diálogo nos foros internacionais tipo grupo do G8, Nações Unidas, etc.
O grande risco para o Brasil é que daqui pra frente o mundo feche mercados e as portas para o país, usando como argumento os perigos ambientais na Amazônia. O fato concreto é que o Brasil precisa debruçar-se sobre o futuro da Amazônia e oferecer garantias ao mundo de que será capaz de gerenciá-la com segurança ambiental. O mundo econômico terá que se adequar à nova equação do ambiental em primeiro plano em todas as políticas. Não se repetiria hoje e nem no futuro o tipo de ocupação humana, econômica e territorial semelhante àquele dos anos 1970.
Concluindo: defender apenas a soberania do Brasil já não basta. Há que se defender a soberania ambiental, social, econômica e gerencial da Amazônia.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
Lei também – Opinião: Tempo ferroviário – Série de artigos 3/3