O governo do Estado está em polvorosa diante dos números sobre o desemprego em Mato Grosso, em torno de 2,6%. É o chamado pleno emprego dos recursos produtivos, a saber: capital, trabalho, instituições e conhecimento (ciência e tecnologia), conforme escrevi, aqui, em 17/12/2023, Mato Grosso no Pleno Emprego. Sem dúvida, ponto para o governador e equipe, que poderá pleitear algo mais elevado na política.
Aliás, há tempo que Mato Grosso não serve ao país, politicamente, desde a última vez com Eurico Gaspar Dutra no processo de redemocratização de 1945, que elevou um plano de longo prazo conhecido como Plano SALTE (saúde, alimentação, transportes e energia), plano este que foi considerado inflacionário, assim como o foi o Plano de Metas de JK.
Nada disso, tanto em um como em outro, o gasto foi direcionado e responsável. Aliás, no Brasil tem sido a rotina política, isto é, quando se tem um plano de longo alcance e neutro (não populista) a oposição vem com força, recordem-se, em passado recente, do Plano Real.
De todo modo, será uma expectativa política interessante, ainda mais, caso o postulante atual do Governo do Estado saiba distinguir socialismo de estatismo, e mais relevante, liberalismo de conservadorismo, mas, – consciente que existe um postulante potencial do estado considerado, por mim, como estado-irmão-mais-velho, São Paulo – com a mesma intenção, no entanto, quiçá, terá espaço para uma vice-presidência?
No mais, cuidado com as obras em atraso e sensíveis, pois, o TCE e o MPMT vêm assumindo um papel de fiscalizador cada vez mais relevante, sem serem asfixiantes..
Vale pensar em novas formas de entregar obras visando futuras eleições.
Em retomada do assunto em epígrafe, uma das relações do desemprego ocorre entre a inflação e o desemprego, que ficou conhecida na literatura econômica como Curva de Phillips, aplicando-se a ideia de que altas taxas de inflação conduzem a baixas taxas de desemprego, ocorrendo também o inverso, que é possível manter um desemprego menor se for aplicada uma inflação mais alta, e que esta pode ser reduzida em função do aumento do desemprego, existindo então um dilema entre as duas variáveis. (DORNBUSCH; FISCHER, 1982, apud, R. SCANDALORA, D. BOURSCHEIDT e P. A. NUNES, 2015)
Outra relação, encontra-se presente entre taxas de desemprego e taxas de crescimento do PIB, conforme prescreve a Lei de Okun, que reza existir uma relação inversa entre desemprego e crescimento do PIB em termos percentuais com taxas relacionadas inversamente, e segundo seu autor, Arthur M. Okun, para cada ponto percentual ao qual a taxa de desemprego encontrar-se acima da taxa natural (de desemprego), o PIB estará 3% abaixo do PIB potencial. (R. E. HALL E J. B. TAYLOR, 1989)
Por fim, tem a taxa de desemprego relacionada ao ciclo econômico, pois, mesmo em épocas de grande expansão, auge do ciclo, com o PIB nominal próximo ao PIB potencial, ainda, assim, existem desempregos friccional e natural. O primeiro decorrente da entrada inicial do empregado na força de trabalho ou saem temporariamente da força de trabalho, isso requer um tempo de para encontrar um emprego; o segundo, resultante do desemprego em períodos normais da atividade econômica. (Ibdem, Ibdem)
Deixemos um pouco essa viagem no creme de pequi, mesmo porque, sou daqueles que acredita que não existe nada mais prático do que uma boa teoria diante dos problemas. Vamos a teoria aplicada.
O leitor atento e “linkado” na temática econômica há de pensar, com razão, que os números para Mato Grosso sobre desemprego e inflação, estão desfocados da realidade teórica, isto é, estamos com taxa de desemprego baixíssimas, mas, com taxa de inflação com tendência de elevação.
Essa situação é explicada pelo fato de que quanto mais uma economia fica aquecida e próxima do PIB potencial, existe o perigo da inflação que pressiona, principalmente, o mercado de trabalho.
Outro ponto que interessa, de perto ao leitor, é sua curiosidade e insatisfação em querer saber para onde está indo todo esse crescimento do PIB mato-grossense com desemprego ladeira abaixo.
É verdade que o PIB nominal do nosso estado tem tido médias de crescimento acima da média nacional, o que proporciona oportunidades de emprego e renda.
Em revista a uma série temporal do PIB de Mato Grosso entre 2002 à 2020, série esta encaminhada pelo meu prezado colega economista Eduardo Matsubara, da Seplag-Mt, verifica-se uma taxa de variação nominal de crescimento no período de 831%, sendo que em 2002 seu valor absoluto era de R$ 19.191.000,00 e em 2020 foi para R$ 178.650.000,00. Quanto ao PIB nominal per capita, nota-se uma variação de 597%, resultado da variação de R$ 7.265,00, em 2002, para R$ 50.663,00, no ano de 2020, em números absolutos.
Todavia, quando trabalhamos o conceito de PIB real (descontado a inflação do período), apontados acima, percebe-se que o montante real do PIB ficou em R$ 58.192.182,00, enquanto para o PIB real per capita a cifra ficou em R$ 16.502,60.
É essa realidade econômico-financeira que deixa as pessoas descrentes quanto aos números grandiosos apresentados em termos nominais no nosso Estado e no País, que terminam corroídos pelo fenômeno perverso da inflação sobre a renda dos assalariados ou qualquer outro tipo de renda.
Concluo dizendo que não se pode permitir que a inflação seja tolerada, tanto na esfera federal, estadual e municipal, daí a razão de orçamentos públicos críveis e equilibrados, buscando sempre que o gasto público impacte positivamente a poupança, a produtividade e a renda, assunto que detalharei no próximo artigo daqui a um mês.
Vale considerar que metodologicamente utilizamos do conhecimento da macroeconomia clássica apresentado neste retalho econômico, ponderando que nem sempre é preciso buscar a fronteira do conhecimento, mesmo porque, estamos num País em desenvolvimento e um Estado emergente.
Ernani Lúcio Pinto de Souza é economista do EIT/UFMT
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