A desindustrialização seria identificada não apenas com a perda de importância da indústria no PIB ou no emprego total, mas também a partir de mudanças na estrutura de produção da indústria, em particular pela maior participação de setores mais intensivos em recursos naturais e com menor capacidade de encadeamentos produtivos e tecnológicos vis-à-vis setores mais intensivos em capital, conhecimento e tecnologia e assim com maior capacidade de encadeamentos. (F. SARTI e C. HIRATUKA, 2011)
Relevante mencionar que a desindustrialização é um fenômeno que atinge tanto economias avançadas como economias atrasadas, sendo que os estudiosos da temática têm dado ênfase a questão se a desindustrialização brasileira seja positiva (natural), negativa ou precoce.
A primeira pode ser caracterizada como uma desindustrialização “natural”, em razão de o setor industrial atingir um limiar de trabalhadores empregados nos países desenvolvidos. Isso decorreria do aumento da produtividade setorial pela incorporação intensiva do progresso técnico. Ou seja, existe teto do crescimento do emprego na indústria de transformação associado ao crescimento da renda per capita. A partir de determinado nível de renda, observa-se a queda relativa, e mesmo absoluta, da participação do emprego industrial, e a continuidade, embora com taxas mais reduzidas, do crescimento da renda per capita. A contrapartida desse processo seria a elevação da participação do setor de serviços na economia em termos de emprego e participação no PIB.
Por sua vez, a desindustrialização classificada como negativa inibe o crescimento econômico, com redução do PIB potencial, tendência de estagnação da produtividade e da renda per capita e, principalmente, perda da competitividade internacional da indústria, com redução das exportações de manufaturados, especialmente aqueles de mais intensidade tecnológica.
Já a desindustrialização “precoce” pode ser considerada uma variante da desindustrialização negativa, na qual a perda de participação absoluta e/ou relativa do emprego e do valor adicionado do setor industrial ocorre em países com níveis de renda per capita reduzidos em relação aos dos países desenvolvidos. O principal efeito desse tipo de desindustrialização é a redução do potencial de crescimento do país, que bloqueia a convergência da renda per capita com a dos países desenvolvidos. Isso porque a indústria de transformação pode ser considerada o principal motor de crescimento das economias no longo prazo. É nesse setor que operam economias de escala dinâmicas e estáticas; e ainda a criação e difusão do progresso técnico, em virtude de a indústria apresentar fortes efeitos de encadeamentos de insumo-produto a jusante e a montante com outros setores da economia. (L. C. G. de, MAGALHÃES et. al., 2023)
Do desenvolvido até aqui, vale reconhecer que argumentos, conceitos ou teorias na ausência de números e/ou dados tendem a fragilizar sua capacidade de convencimento.
Para evitar essa desconstrução, menciona-se, conforme IBGE, IEDI, (2020), que os últimos números do PIB industrial brasileiro representam 11% do PIB nacional, sendo que seu auge foi de 36,5%, de acordo com a literatura especializada sobre o assunto. Já a participação do emprego formal industrial no emprego total crava em 48%. (NASSIF E MORCEIRO, 2021)
Nessa toada de números decrescentes, em trabalho de fôlego e dedicação, em 2018, a hoje Mestre, Katiana Toldi, sob orientação do meu prezado Dr. Dilamar Dallemole, no mestrado em Economia da UFMT, averiguou que no período de 2006 a 2016, mais de 15 mil empresas industriais foram fechadas em Mato Grosso, o que provavelmente contribuiu e contribui para que a participação da indústria no PIB mato-grossense fique em torno de 15% nos dias atuais.
Curioso, que a mestranda, à época, em nenhum momento, utilizou do termo desindustrialização em seu trabalho científico, e, talvez, quero pensar, tenha sido pela dificuldade em precisar quando e como foi dado o início desse processo desindustrial no Brasil e, em especial, em Mato Grosso, que busca trilhar o caminho, exatamente, inverso da desindustrialização, desagriculturação, desmadeirização e/ou despecuarização.
Retomando F. Sarti e C. Hiratuka, eles ponderam que, sem pretender esgotar o debate, julgamos que pode ser mais produtivo deslocá-lo para uma outra direção, retomando a discussão sobre as perspectivas do desenvolvimento industrial brasileiro, não sob o prisma da existência ou não de um processo de desindustrialização, ou de suas causas, mas, principalmente, a partir do delineamento de questões que julgamos fundamentais para o correto entendimento dos riscos e oportunidades para o avanço da indústria no Brasil e para a retomada de sua contribuição efetiva ao desenvolvimento econômico, ao que acresço, distinguindo, detalhadamente, o que seja industrialização como processo dinâmico e autônomo de industrialização como agregação de valor ou industrialização primária.
Ernani Lúcio Pinto de Souza, 61, cuiabano, economista da UFMT