No ano de 2015 várias entidades representativas, órgãos governamentais e empresas do setor elétrico fizeram um esforço muito grande para viabilizar uma solução emergencial na questão energética para a Região do Araguaia junto ao MME – Ministério de Minas e Energia, onde um dos fatores era especialmente a demanda reprimida e a qualidade da energia elétrica. A situação estava insustentável com muitos desligamentos diários e oscilações de tensão devido a grande extensão do sistema de transmissão a partir do único ponto de suprimento através da subestação da Rede Básica de Barra do Peixe (cerca de 910 km de linhas de distribuição de energia em 138 kV até Vila Rica e geração hídrica local insuficiente, através da PCH Paranatinga II), além de impedir a ligação de novas cargas na região devido ao esgotamento da capacidade do sistema elétrico.
Importante ressaltar que quantos mais pontos de suprimento significa mais alternativas para suprir a demanda de energia e portanto, mais robusto e melhor torna-se o sistema elétrico do ponto de vista operacional, de confiabilidade, de mais energia e de flexibilidade. Caso um destes pontos por exemplo tenha uma contingência, os outros pontos podem garantir o fornecimento da energia evitando um colapso de abastecimento.
A concepção inicial deste sistema elétrico implantado em 2007 e 2008 foi para possibilitar a desativação de 13 usinas térmicas a óleo diesel da distribuidora de Mato Grosso Rede Cemat que consumiam cerca de 4 milhões de litros de diesel por mês com elevado impacto ao meio ambiente, interligar toda a Região ao Sistema Elétrico Nacional e possibilitando ainda a forte expansão do Programa de eletrificação rural Luz para Todos nesta parte do Estado até então um pouco esquecida, composta por 25 municípios.
Com o passar do tempo o desempenho deste sistema elétrico foi se degradando do ponto de vista de qualidade, continuidade e tendo sua capacidade de transmissão de energia elétrica esgotada. A função inicial de desativar as usinas térmicas a óleo diesel e interligar as diversas localidades ao Sistema Interligado Nacional – SIN tinha sido cumprida, possibilitada graças a muitos esforços e com grandes investimentos que foram necessários, mas agora novos desafios se apresentavam para atender aos anseios dos consumidores por melhor atendimento, qualidade e por mais disponibilidades de energia elétrica.
Neste contexto foi aprovada através da Portaria MME 333 de 21/07/15, a instalação em regime emergencial de uma Usina Termoelétrica em Querência do Norte com capacidade de 20 MW de Potência. Iniciou sua operação já em meados de abril de 2016 e de forma emergencial ajudou a atender a demanda reprimida de energia elétrica e contribuiu para reduzir os desligamentos emergenciais das linhas por oscilação de tensão já que proporcionou maior estabilidade elétrica ao sistema elétrico, que encontrava-se no seu limite técnico-operacional.
Porém, uma das soluções estruturantes para a Região seria com as obras constantes do Leilão de Transmissão da ANEEL N° 13/2015 de 13/04/16 com prazo de conclusão previsto para até 48 meses, onde um novo ponto de suprimento de energia definido pela EPE – Empresa de Pesquisa Energética responsável pelo planejamento do sistema elétrico nacional, via Rede Básica de Operação para a distribuidora seria disponibilizado em Canarana, proporcionando maior confiabilidade e disponibilidade de energia para toda a Região do Araguaia. Anteriormente todos os Leilões realizados não haviam tido interessados, o que agravou e retardou ainda mais a solução para a Região. A vencedora deste Leilão foi a empresa de transmissão chinesa State Grid Holding.
A distribuidora de Mato Grosso Energisa MT neste período executou várias obras de novos circuitos de linhas em seu sistema elétrico (duplicação da Linha Barra do Garças Xavantina 138 KV, a duplicação da linha de 138 KV entre Xavantina e Agua Boa) e instalação de um compensador síncrono em Confresa que juntamente com a Termoelétrica de Querência possibilitaram maior oferta de energia e menos interrupções no fornecimento de energia, principalmente em Vila Rica, Querência, Confresa, Canarana, Alto Boa Vista e outras localidades vizinhas menores.
Contudo esta solução estruturante com o novo ponto de suprimento da Rede Básica em Canarana dependia da conclusão da Linha de Transmissão Paranatinga-Canarana 230 KV com extensão de 262 KM a cargo da Transmissora State Grid. E finalmente em 03/06/18, esta linha foi energizada e entrou em operação num tempo relativamente curto, cerca de dois anos após o Leilão, superando as expectativas iniciais de previsão de conclusão em até 48 meses.
Assim, este novo ponto de suprimento da Rede Básica de Operação através da Subestação Canarana 230/138KV reforçou o suprimento para a Região do Araguaia que se conectou ao sistema da distribuidora através de uma interligação na tensão de 138 KV na Subestação Canarana desta empresa. Com isto a Usina Termoelétrica de Querência de 20 MW montada emergencialmente na Região foi desativada, após cumprir seu papel como uma solução emergencial rápida, em função da situação à época enfrentada pelo sistema elétrico.
Um dos grandes problemas de suprimento de energia no Estado, foi desta forma amenizado, pois havia muita demanda de energia elétrica reprimida na Região (cargas que não podiam ser ligadas em função da falta de disponibilidade de energia) e com indicadores de qualidade que estavam aquém do esperado e que precisavam ser melhorados para atender aos indicadores da regulação. Adicionalmente outros investimentos necessários e importantes eram necessários para atender as projeções de mercado e o potencial desta parte importante do Estado, como a duplicação do circuito entre Agua Boa e Canarana na tensão de 138 kV, executada pela distribuidora em 2019.
Porém, uma outra solução estruturante muito importante seria um terceiro ponto de suprimento de energia via rede básica através do extremo do estado em Vila Rica por de dois circuitos de linhas de 138 KV a partir do Pará via Santana do Araguaia. Desta forma, o Grupo Energisa finalizou dia 02 de novembro, o lote 26 de transmissão arrematado em leilão da ANEEL entre 2017 e 2018. Este lote, construido no sul do Pará, recebeu R$ 318 milhões em investimentos. O empreendimento da Energisa Pará Transmissora de Energia I (EPA I) incluiu 296 quilômetros da linha de transmissão subestação Xinguara II – subestação Santana do Araguaia (230 kV em circuito duplo), a nova subestação Santana do Araguaia 230/138 KV com capacidade de 300 MVA e a ampliação da subestação Xinguara II no Pará.
Em conjunto com este empreendimento, a distribuidora Energisa Mato Grosso concluiu a linha de distribuição de alta tensão em 138KV circuito duplo de 145 km entre Santana do Araguaia-PA e Vila Rica-MT, bem como a adequação da subestação neste município, com investimento de R$ 82 milhões, com energização da mesma ainda na primeira quinzena de novembro.
Importante ressaltar a necessidade destas obras estruturantes elencadas bem como as obras executadas pela distribuidora ao longo dos últimos anos para consolidar a Região do Araguaia como a nova fronteira agrícola de Mato Grosso. Esta região conta agora com três pontos de suprimento via rede básica, dando maior confiabilidade e segurança energética para atrair os investimentos em toda a Região.
Espera-se ainda o atingir dos níveis desejados de continuidade e qualidade dentro dos limites estabelecidos pela ANEEL- Agência Nacional de Energia Elétrica para vários conjuntos elétricos da Região e possibilitar a expansão do sistema elétrico de distribuição sem restrições, bem como atender os anseios da população. São cerca de 155 mil unidades consumidoras que a muito reivindicam um atendimento digno e de qualidade por parte da concessão da distribuição de energia elétrica no estado de Mato Grosso.
Teomar Estevão Magri, Engenheiro Eletricista com MBA em Gestão de Negócios, Especialista em Energia e membro do Conselho de Consumidores de Energia Elétrica de Mato Grosso-Concel MT.