As últimas memórias de conflitos envolvendo a sociedade e o Estado com graves desdobramentos para o povo, foram a morte do presidente Getúlio Vargas em 1954, a renúncia do presidente Jânio Quadros em 1961, e a derrubada do presidente João Goulart em 1964. Mas houve outras anteriores.
Cito, porque estamos vivendo outra etapa de conflito de natureza semelhante. Desde a chegada do presidente Jair Bolsonaro ao governo, a divisão interna do país se acentuou de maneira radical. Para uns, trata-se da radicalização oriunda da campanha eleitoral quando se defrontaram petistas versus bolsonaristas. Isso é fato. Mas não é só isso. Se voltarmos um pouco no tempo vamos esbarrar na campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014 quando a divisão do Brasil entre PT e PSDB (leia-se Aécio Neves). Quero lembrar que na época circularam milhares de mapas do Brasil dividido em dois. Um vermelho e outro azul. O Norte e o Nordeste ligados numa linha reta de leste a oeste, vermelha e a parte sul do país em azul. Pior. A ideia transmitida era a divisão do país em duas macrorregiões: uma atrasada, em vermelho, e outra desenvolvida em azul. Já era a radicalização mostrando a sua cara!
Passamos por isso e sobrevivemos como nação. Mas a presidente Dilma não conseguiu pacificar o país porque o seu partido entendeu que poderia sobreviver sem ela. Juntar os pedaços e reconstruir-se para a próxima eleição. Não deu. O que houve todo mundo sabe.
A eleição em 2018 refletiu isso numa outra forma. A radicalização mudou de linguagem. Já não era o PSDB. Um desconhecido PSL e um desconhecido candidato que falava uma linguagem de nacionalismo adequada ao momento. A imagem do Brasil em cor vermelha estava impregnada no imaginário popular. A outra parte também já não era azul. Surgiu como verde e amarela. Estava estabelecido um novo conflito entre os nacionalistas e os não-nacionalista. O lulopetismo simbolizava o vermelho socialista.
O saldo tornou-se rigorosamente radical.
O lulopetismo foi derrotado. O novo discurso oficial verde-amarelo passou ao imediato combate ao vermelho. A origem militar do presidente Bolsonaro trouxe junto as fardas militares, caracterizadas pela defesa do verde e do amarelo que representa o patriotismo. Síntese do novo discurso que ainda vigora: o patriotismo versus qualquer tese que tenha outra cor.
É nesse ambiente que o Brasil entrou. O Estado brasileiro, regulado por uma Constituição Federal que privilegiou as corporações públicas, começou a derreter rapidamente. As corporações precisam se defender porque seus privilégios a caracterizam como pertencente à linha não-patriótica. Não totalmente verdadeiro, mas não totalmente inverídico.
É nesse ponto que estamos neste exato momento. O Estado impatriótico versus o Estado patriótico. Claro que isso não vai terminar bem. Tudo indica…!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso