É elementar na eletricidade quando fios estão desencapados e encostam um no outro, produzem uma descarga anormal de energia conhecida como curto-circuito. O Brasil está com todos os seus fios desencapados. O Estado brasileiro, os poderes Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério Público, a mídia, as universidades públicas e a própria sociedade.
Aqui vale uma ressalva: a sociedade está isolada no canto do ringue ameaçada por toda a estrutura do Estado. Vamos aos fatos:
1 – neste domingo houve manifestações da sociedade no país inteiro contra o STF e em apoio ao presidente da República. A mídia ignorou ou ridicularizou. A mídia tem o papel de poder moderador da sociedade. Quando se põe contra porque tem lado político, perdeu o seu papel:
2 – Poder Judiciário – absolutamente desconectado com a sociedade e com o seu papel primordial de equilíbrio nos conflitos da sociedade;
3 – Poder Legislativo – há muito, desde a obtenção do direito à reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1998, o Congresso Nacional transformou-se num balcão de negócios e de interesses corporativos, desconectado dos legítimos interesses da sociedade. No período dos governos do PT, o Congresso Nacional foi além da lógica aceitável. Comanda uma amplíssima rede de corrupção;
4 – Ministério Público – um apêndice criado na Constituição Federal de 1988, com poderes absolutos, perdeu-se nas câmaras do absolutismo corporativo. Não fala com nenhum dos poderes e não respeita limites;
5 – Poder Executivo – completamente esvaziado pelas atribuições estabelecidas na Constituição, é refém do Congresso Nacional. São linguagens diferentes. O presidente da República tem o peso das responsabilidades, mas não tem a autoridade pra governar, subordinado às aprovações do Congresso Nacional. Funcionaria como uma espécie de parlamentarismo caipira, se o Congresso não fosse tão corporativo em seus interesses que predominam sobre os interesses da nação;
6 – a mídia – órfã da ideologia adquiria desde FHC e dos períodos petistas, com recursos amplos e sem limite, guarda hoje uma série de recalques: a falta dos recursos públicos e a perda da ideologia esquerdista que a conduzia. Hoje a mídia já não fala a linguagem da sociedade;
7 – O Supremo Tribunal Federal – por omissão do Congresso Nacional, desde o senador Renan Calheiros, presidente do Senado Federal, assumiram um casamento promíscuo. Senado e STF combinaram o jogo de governar. Sem o interlocutor, o arquiteto do casamento Calheiros, o STF rebelou-se, submeteu o Senado e a Câmara, o Executivo e assumiu o mito de governar o país. Pra isso precisou abandonar os cânones diretivos do direito, pra assumir os cânones distorcidos da política partidária. É um grande gerador de conflitos.
A conclusão de tudo isso, é que todos esses sete fios, mais o fio da sociedade estão desencapados. Prontos, pra provocar um incalculável curto-circuito de consequências incalculáveis. Deus nos guarde da insanidade.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso