Alterações na cena econômica mundial começam a afetar as expectativas de juros e inflação no Brasil. As indicações de membros do Federal Reserve (Fed), Banco Central americano, de que aquela autoridade monetária pode manter inalterada a taxa básica de juros ao longo deste ano diante da persistência da inflação acima da meta de 2% e a elevação das tensões geopolíticas no Oriente Médio. Estes são os principais fatores que estão causando turbulências nas bolsas de valores e pressionando o câmbio no mundo inteiro, com mais força nas economias emergentes.
No Brasil, o reflexo dessa volatilidade da economia mundial aparece no Boletim Focus do Banco Central, na instabilidade da Bolsa de Valores (B3) e alta do dólar.
Analistas de mercado, instituições financeiras e casas de análises econômicas aumentaram as expectativas para inflação, câmbio e taxa básica de juros (Selic). O entendimento é de que a alteração no cenário econômico mundial, aquecimento das tensões geopolíticas e a resiliência da inflação norte-americana vão promover movimento de valorização do Dólar frente ao Real e aumentar os preços internos, pressionando a inflação. Com esse quadro, o Banco Central vai pisar no freio no atual ritmo de redução da taxa básica de juros.
Além dos fatores externos, as dificuldades que a equipe econômica enfrenta no Congresso Nacional para avançar com a agenda econômica coloca em risco as metas de resultados fiscais estimados para 2024 e 2025. O descolamento das metas ocasiona aumento dos riscos fiscais, causando consequências no mercado de crédito e no investimento. Os movimentos do congresso são de aumentos exponenciais nos gastos e parcimônia na aprovação de medidas tributárias para aumento da receita federal. Ao mesmo tempo, o executivo federal tem feito repetidos movimentos de promoção de aumentos de despesas nas áreas sociais e da infraestrutura, a partir do entendimento errático de que expansão fiscal ajuda a promover crescimento econômico.
Do lado mais otimista, agentes do mercado de capitais aumentaram para 2,2% a estimativa de crescimento do PIB em 2024, sinalizando que, mesmo com os cenários interno e internacional mais hostis, a economia brasileira deverá crescer bem acima das expectativas do início do ano.
É certo que não se pode considerar como verdade absoluta a mediana das opiniões dos agentes do mercado financeiro. Até mesmo porque erraram muito nos últimos anos. Mas é possível ler as entrelinhas das mensagens implícitas em suas expectativas: a economia real não responde de forma satisfatória ao grau de aperto monetário do Banco Central para conduzir a inflação à meta de 3% ao ano e que a perda de espaço da equipe econômica para o senado e câmara federal reduz a possibilidade de o país conseguir o tão desejado equilíbrio fiscal.
Como a retomada do crescimento econômico sustentado do país depende da boa sintonia entre a política fiscal, sob a batuta do executivo federal e a política monetária, sob a regência do Banco Central, é de fundamental importância que prevaleça a sensatez entre o executivo, congresso nacional e direção da autoridade monetária.
Vivaldo Lopes é economista