Desde o dia 31 de outubro tem gente nas ruas do Brasil protestando.
Primeiro, foram os caminhoneiros e deram muito trabalho pra serem acalmados. Mesmo assim continuam mobilizados. Nas portas dos quartéis militares não há sinais de pacificação de multidões que só crescem e não diminuem. Nunca se viu coisa assim.
Os órgãos do sistema político e da mídia minimizam os movimentos classificando-os de extrema-direita e de antidemocráticos. O país ainda não se debruçou sobre os movimentos das ruas pra compreendê-los.
A primeira leitura, é que são movimentos de muitas origens e de muitos propósitos. Mas definitivamente são movimentos do nascimento de uma verdadeira direita no país. Pra compreender isso é preciso compreender a história recente do Brasil.
Povo nas ruas significa poder político. Aliás, o único poder que os políticos, os governos e as corporações públicas respeitam. O deputado Ulysses Guimarães, grande líder do PMDB, nos anos 1980 chamava esse poder popular de “a voz rouca das ruas”.
Getúlio Vargas usou bem, pela primeira vez. Depois o presidente João Goulart. Os militares antes de assumir o poder em 1964 e depois da derrubada de João Goulart encheram as ruas de simpatizantes que os legitimaram. Voltamos a ver gente nas ruas de 1984 durante os comícios da Emenda das Diretas Já. Nesses, antecipou-se o fim do regime militar, embora da emenda de Dante de Oliveira não tenha sido aprovada.
Em 2013 os estudantes vieram às ruas contra a presidente Dilma Rousseff. Fizeram um estrago nas ruas que antes pertenciam ao Partido dos Trabalhadores através de continuas manifestações isoladas a partir de 2003, ano da vitória de Lula à presidência da República. Em 2015 o povo nas ruas vestido de camisetas amarelas pressionou o Congresso Nacional a votar o impeachment de Dilma.
Em 2016, no governo de Michel Temer, o povo encheu as ruas novamente. Ainda 2016 o povo nas ruas e os caminhoneiros pararam o país e tumultuaram a economia. Descobriu-se ali uma poderosa força política que ressurgiu em 2022 pós-eleições e não sairá tão cedo do temor do governo dos políticos. Em 2019, 2020, 2021 e 2022 as ruas se encheram com milhões de pessoas defendendo posições diversas no dia 7 de setembro.
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Em 2022 os caminhoneiros e o povo nas ruas em frente aos quartéis militares está mostrando a força de uma direita que o país não tinha. Isso significa dizer que o presidente eleito, Lula, terá uma oposição orgânica para administrar. É gente que ele não se consegue administrar e nem pacificar. Até o momento quem tem apagado os incêndios com gasolina é o ministro Alexandre de Moraes, do TSE. Promete muito ainda até que seja acalmado. Aprendeu a não ter medo.
A esquerda terá que aprender a governar com uma oposição forte. Em 2003 a esquerda domesticou o Congresso Nacional. O escândalo resultou no Mensalão que abalou profundamente as bases do governo Lula e derrotou as principais lideranças petistas e um grande grupo de aliados de outros partidos.
Então, neste momento quem está nas rodovias e na frente dos quartéis do Exército? São pessoas do Brasil inteiro, sem filiações partidárias, dando recados ao Sistema político brasileiro de que está nascendo uma forte oposição orgânica de direita. Neste momento, ela defende eleições, o presidente Bolsonaro, critica o TSE, o STF, o Congresso Nacional, duvida do resultado das eleições e a corrupção. Mas poderá daqui pra frente criticar qualquer coisa e ocupar as ruas quantas vezes forem necessárias. Este é o recado. Aliás, um recado claríssimo! Se o Sistema não compreender isso, aí, sim, teremos verdadeiros e imprevisíveis conflitos do Sistema contra “a voz rouca das ruas”.
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Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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