O homem sempre buscou maneiras para a geração de riqueza e a obtenção de uma vida longa. Na antiguidade, os alquimistas ansiavam a transformação de metais inferiores em ouro. Seus experimentos também objetivavam a criação da panaceia universal, um elixir da vida longa que seria capaz de curar todas as doenças de quem ingerisse tal poção. Hoje ainda não existem receitas mágicas para a saúde e a bonança, mas nunca houve tamanha necessidade, justificada por esta crise sem precedentes, como muitos definiram as consequências do novo coronavírus.
O Covid-19 já ceifou milhares de vidas por todo o planeta e carrega a responsabilidade por inúmeros problemas econômicos e sociais que assolam o globo. Quando a pandemia parece uma batalha vencida por não conhecermos a solução para este vírus, todos – dentro de nossas possibilidades – devemos assumir o compromisso de combater os sintomas que prejudicam a saúde, a economia e a sociedade à medida que nos acostumamos com as mudanças de hábitos e comportamentos instaurados por esta doença. Diante desses desafios, o cooperativismo de crédito cumpre seus princípios e pode fazer muito.
O isolamento social é uma das principais medidas para a diminuição do contágio. E esta separação entre as pessoas tem se mostrado meramente física, pois todos os dias temos provas de que a união e a solidariedade nas relações ainda prevalecem em certo grau. Tais exemplos podem ser tomados como inspiração nos âmbitos corporativo e governamental que devem, mais do que nunca, mostrar humanidade, encontrando alternativas justas para manter o equilíbrio econômico sem comprometer o bem-estar social. Não é à toa que estão saindo na frente empresas e governos que entendem que, por trás de cada CNPJ ou circunscrição, existem pessoas, e que todas elas têm a pandemia como oponente. Portanto, cooperar para combater este inimigo comum nunca foi tão importante.
Não obstante, atingir objetivos comuns é um desafio que está cunhado na missão de milhares de cooperativas, de diversos ramos – do agropecuário ao de consumo, da saúde ao crédito etc. – pois esta é uma das razões principais para o surgimento delas. Historicamente, muitas cooperativas nasceram para suprir necessidades coletivas, valorizando o capital humano e atendendo as demandas sociais. Isso faz com que, no cenário em que nos encontramos, o modelo cooperativo de negócio seja um caminho potencialmente exitoso e comprovadamente eficiente na superação de dificuldades e no progresso da sociedade. E, neste momento, as cooperativas seguem em movimento, reforçando o seu compromisso social com ações e soluções que beneficiam seus cooperados e toda a comunidade.
Como forma de praticar este compromisso, cooperativas de crédito, por exemplo, devem dedicar atenção plena e estudar caso a caso na renegociação de dívidas de seus associados e na concessão de crédito. Tais entidades também estão praticando fortemente a sua flexibilidade de atendimento, alterando seus formatos de funcionamento tanto para cumprir decretos municipais e/ou estaduais quanto para oferecer seus serviços de forma mais organizada aos seus associados neste momento que pede cautela. Neste sentido, todas as medidas que cooperam para redução da propagação do vírus são necessárias, como o estímulo ao uso de canais remotos e o atendimento presencial de acordo com as recomendações dos órgãos máximos de saúde.
Os cuidados dessas entidades com a comunidade ultrapassam as portas das agências e as telas de aplicativos. Isso porque as cooperativas de crédito têm uma forte atuação local. Por serem naturalmente mais próximas e envolvidas com a comunidade, elas conseguem identificar as demandas sociais locais com precisão para então definirem e colocarem suas ações em prática de forma pontual e eficaz, no enfrentamento desta pandemia. Esta proximidade também contribui para o suporte aos pequenos negócios locais, na cidade e no campo, que podem sofrer mais intensamente neste período e que, por isso, precisam de alternativas diante de um cenário de mudanças como a redução de atendimento no comércio e o crescente aumento das compras virtuais. Tudo isso nos leva a pensar que esta é, mais do que nunca, a hora de ratificar o verdadeiro pacto que o cooperativismo de crédito e de todos os outros ramos têm com a comunidade onde estão presentes.
A panaceia para a pandemia pode ainda não existir, mas é certo que o caminho para dias melhores está na união entre pessoas, na inovação e na constante busca por soluções justas e saudáveis. O Sicredi segue mais do que nunca colocando em prática sua missão de valorizar o relacionamento, oferecer soluções financeiras para agregar renda e contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos associados e da sociedade. Agora, precisamos estar em ação, mas para superarmos estas dificuldades, devemos atuar da maneira correta, pois como disse o filósofo grego Epicteto, “o que importa não é o que acontece, mas como você reage”. Que saibamos reagir com sabedoria, honestidade, transparência e cooperação.
João Spenthof é presidente da Central Sicredi Centro Norte, presidente do Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop) e vice-presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras em Mato Grosso (OCB-MT).