Tenho escrito muito pouco sobre política. A atividade degradou muito ao longo dos últimos anos. Não caberia neste artigo avaliar isso. Ficará pra outro momento. Abro uma exceção. Este artigo nasceu de uma conversa que tive com o amigo Ricarte de Freitas. Ele me indagou sobre o porquê do melhor desenvolvimento de Mato Grosso comparando com Mato Grosso do Sul depois da divisão a partir de 1979. Vivi a intimidade da divisão do Estado entre 1976 e nos anos seguintes até hoje, conheço bem o assunto.
Eu respondi que duas foram as razões. Uma a aceitação e incorporação dos migrantes que chegaram a Mato Grosso entre 1973 e 1990. A segunda foi a sucessiva renovação de lideranças políticas. Tanto na direção do governo estadual, como de parlamentares. No mesmo período Mato Grosso do Sul manteve a sequências das lideranças ou dos grupos políticos tradicionais anteriores à divisão. Poucas renovações.
Hoje no nível de governo estadual temos renovado as lideranças em boa frequência. Mas nos municípios não. Especialmente nos municípios da chamada Baixada Cuiabana. Nesses os mais antigos do estado, a pobreza é crônica. O discurso de miséria está ligado à manutenção das mesmas lideranças ou dos seus grupos políticos. Continuadamente. Falta de dinheiro não é. Todos recebem o suficiente pra se desenvolverem com segurança. O problema é o custo altíssimo da péssima gestão ou a roubalheira consagrada. Antes se roubava na boca do caixa. Hoje ficou difícil. Então, rouba-se por diversos caminhos. Mas rouba-se muito! Não escapa nenhum dos municípios históricos.
Já nos municípios de economia dinâmica houve sucessivas renovações das lideranças políticas. A diferença é clara. Nos municípios novos, as novas lideranças tratam os problemas como problemas. Não como discurso para as campanhas. Exemplo, o problema da água em Várzea Grande. Foi e será discurso pra muitas campanhas de vereadores e de prefeitos. Por isso não pode ser revolvido!
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Nos municípios novos a característica principal é a conexão das gestões municipais com os anseios da sociedade. Em vez de construírem uma praça superfaturada com lâmpadas de LED, abrem um distrito industrial onde a economia real pode se instalar. Isso faz toda a diferença.
Neste ano teremos eleições municipais. Nos municípios tradicionais não se fala em desenvolvimento. Fala-se em “resolver” problemas históricos como pintar escolas, reformar praças e as tradicionais queixas contra a falta de recursos.
Pode ser que com o passar do tempo os municípios tradicionais renovem as suas lideranças. E que elas compreendam que seus cidadãos são empreendedores natos, em todos os níveis. Preferem distritos industriais ou programas que tragam desenvolvimento, em vez do velho sistema patriarcal onde poucos nunca saem do poder e se alimentam da miséria política dos cidadãos.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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