Muito em alta no mundo corporativo e no mercado de capitais, o tema ESG ainda não despertou a atenção do setor público, especialmente entre os entes federativos que, assolados por uma infinidade de problemas a serem solucionados para atender às demandas sociais, sequer conseguem planejar como se posicionar nacionalmente e muito menos globalmente para atraírem investimentos produtivos, que geram empregos diretos aos seus cidadãos.
ESG, do inglês Environmental, Social and Governance ou ASG em português, é a sigla que representa os fatores Ambiental, Social e de Governança no mundo dos investimentos, ou seja, são valores éticos para promover e estimular estratégias de gestão alinhadas aos preceitos de um futuro mais sustentável e integrado nessas três áreas.
O Brasil, muito em função da sua própria incapacidade de realizar uma gestão eficiente em nível federal – o que gera muita desconfiança na comunidade internacional, elevando o risco Brasil – e também atingido de forma avassaladora pela crise econômica global desencadeada, especialmente no último ano, pela pandemia da Covid-19, afasta cada vez mais os investimentos estrangeiros.
As novas gerações de investidores são muito ligadas e preocupadas com a responsabilidade e com o impacto social e ambiental, isto é, do comportamento das corporações frente a essas questões. Com os governos não é diferente, pois a sociedade está cada vez mais atenta, começa a não aceitar formas anacrônicas de gestão e está exigindo a mudança de postura de seus governantes para modelos mais sustentáveis de atuação e conectados com os pressupostos do pacto global pela sustentabilidade criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), conhecidos como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Fora algumas grandes capitais, são raros os casos de municípios bem estruturados e com boa capacidade de governança e articulação internacional na atração de investimentos. No âmbito municipal o tema da internacionalização das cidades e a busca por recursos globais, por meio de projetos bem elaborados, é algo tão distante quanto complicado.
Porém, essa é uma exigência considerada por muitos investidores na atualidade, especialmente os estrangeiros, que procuram aplicar seu capital em atividades produtivas capazes de gerar empregos em cidades com alto nível de comprometimento com a sustentabilidade e com a responsabilidade fiscal e, assim, exigem que os governos alinhem seus programas e ações para um futuro próspero e eficiente no uso dos recursos naturais, na redução das desigualdades e no fortalecimento das boas práticas de governança.
É preciso inserir as cidades cada vez mais na lógica mundial dos investimentos ESG, torná-las competitivas, transformando-as em ativos interessantes perante o mercado. Para tanto, o esforço dos gestores públicos deve focar modelos de gestão inovadores, pautados por boas práticas de governança e com um olhar para a sustentabilidade das ações praticadas, pois só assim o processo de internacionalização, por meio da paradiplomacia, terá chances de ser exitoso.
Governos e empresas com boas práticas socioambientais e de gestão representam menores riscos e tornam-se mais competitivos. As cidades atentas a essas novas tendências globais tornam-se melhores lugares para se viver e investir.
Um exemplo de cidade sustentável que se torna cada vez mais atrativa a esses padrões de investimentos estratégicos é o município de Jundiaí, no interior de São Paulo, que vem se destacando em qualidade de governança após a implantação de um modelo de gestão inovador, que preza pelo gerenciamento intensivo de projetos, monitora e avalia sistematicamente seus indicadores socioeconômicos, promove de forma responsável projetos de impacto social e ambiental em parceria com a iniciativa privada, foca atenção especial à primeira infância e atrai investimentos pela própria capacidade de sustentar suas ações, ou seja, sem a necessidade de lançar mão de incentivos fiscais para tal.
E então? Sua cidade é capaz de atrair investimentos?
Fernando Luís Polo é economista pela FAAP, possui MBA em gestão empresarial pela FGV e extensão em investimentos estratégicos e políticas públicas pela Universidade de Chicago. Atualmente é Diretor de Planejamento e Governança da Prefeitura de Jundiaí.