O preço do cobre se estabilizou no mercado internacional esta semana depois da divulgação dos dados da balança comercial chinesa – analistas esperavam que as exportações de maio ficaram em 32,2% – contra o número registrado, de 27,9%. Além disso, a importação de cobre refinado e produtos de cobre pelo seu maior consumidor global caíram 8% no comparativo mês a mês – pelo segundo período consecutivo.
Mesmo assim, claro, a China ainda é o maior importador de cobre – com as exportações chinesas ainda aumentando lentamente, as importações líquidas começaram a diminuir. Além disso, houve também resistência a alta dos preços, com os fabricantes reduzindo as operações – já que muitos produtores chineses acabaram arcando com a alta dos preços.
Porém, essa baixa de preços pode ser apenas passageira. Mesmo com a queda, o preço ainda está longe das máximas registradas antes – o que pode indicar que estamos diante de um superciclo do metal. Análises feitas especialistas dos últimos 120 anos mostram claramente que estamos diante de um possível período no qual os preços ainda podem subir mais, inclusive. As causas são inúmeras, e alguns outros fatores, que nem sempre são discutidos tão abertamente pelo mercado, podem ter um papel crucial.
Um desses aspectos é o esgotamento das reservas. Um relatório da Goehring & Rozencwajg, divulgado neste ano, aponta que tanto as reservas de minério quanto a qualidade do metal extraído estão em declínio pronunciado. Soma-se a isso as “reservas em papel” – assunto pouco discutido na indústria – que é quando os produtores do metal aumentam suas reservas com uma manobra simples – mineirando primeiro o metal de melhor qualidade – e reduzindo esses teores de corte quando os preços sobem.
Outro ponto de atenção são as turbulências políticas na América do Sul, sobretudo no Peru e Chile, grandes produtores de metais não-ferrosos, sobretudo o cobre. Apesar de ainda ser cedo para dizer o impacto das eleições peruanas ou da nova constituição chilena no setor, a incerteza ajuda a manter preços elevados para os metais.
O relatório da Goehring & Rozencwajg também apontou que, na última década, novas descobertas de cobre diminuíram drasticamente – o que fatalmente vai impulsionar os preços nos próximos anos.
Alumínio é uma ameaça?
O cobre é o principal metal por excelência em termos de condutividade elétrica, mas não é a única solução para a transmissão de energia. Apesar de a condutividade do alumínio ser cerca de 30% menor que a do cobre, alguns analistas veem uma troca crescente dos metais por ser uma opção mais barata. Esse cenário pode ajudar a compensar a demanda do mercado brasileiro, já que as exportações podem encontrar alguma resistência nos próximos meses, com algumas tarifações sobre importações que ainda estão sendo analisadas pelo governo de Joe Biden.
Na verdade, devido ao seu custo mais baixo, o alumínio vence o cobre em praticamente qualquer cenário realista de preços de longo prazo. A única desvantagem do alumínio é o preço da pegada de carbono, mais elevada no caso do alumínio -porém, comparado aos valores atuais do cobre, os preços são competitivos.
A cobrança por uma economia verde, principal bandeira do atual governo dos EUA, deve, ainda, ajudar a elevar os preços das commodities sociais de energia limpa e reciclável, principalmente pela questão da eletrificação dos veículos, que impulsiona a demanda por níquel, zinco, alumínio e cobre, impactando a balança comercial.
Embora tenha havido uma alta no consumo do alumínio -bem como nos preços—no mercado global, ainda estamos longe de considerar uma substituição em larga escala.
No final do ano de 2020, o preço do cobre atingiu cerca de U$7.750/mt (por mil toneladas) no mercado internacional, enquanto o alumínio ficou em U$2.000/mt. Já em 2021, os preços chegaram em maio a cerca de U$10.200/mt e U$2.400/mt para o cobre e alumínio respectivamente, com uma expectativa de que os preços se mantenham estáveis se não ocorrer grandes mudanças no mercado, porém ainda acima da média. O acumulado do ano deve alcançar por volta de U$10.500/mt para o cobre e U$2.500/mt para o alumínio.
Considerando que o Brasil é altamente dependente das exportações, a alta dos preços pode representar um entrave para futuras negociações. A salvação passaria, necessariamente, pela retomada da economia e vacinação da população, que elevaria também o nível de produção e novos investimentos, equilibrando assim oferta e demanda.
Artigo Rodrigo Scolaro, economista da Costdrivers