Dados do Ministério do Trabalho e Emprego apontam que a participação feminina nas empresas industriais cresceu 14,3% em 20 anos. Enquanto em 1995 elas ocupavam 22,5% dos postos formais do setor, em 2015, esse percentual foi de 25,8%. Os segmentos com maior crescimento de mulheres empregadas no período são mineração (65,8%), material de transporte (60,8%), alimentos e bebidas (49,3%), madeira e mobiliário (39,3%), indústria mecânica (37,3%) e papel e gráfico (24,7%).
No mercado de trabalho em geral, em 20 anos, a participação de mulheres cresceu 17%: de 37,4% dos postos de trabalho em 1995 para 43,7% em 2015. De acordo com o diretor de operações do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Gustavo Leal, algumas atividades industriais ainda inibem a presença feminina por exigir requisitos como força física. “À medida que os processos produtivos vão se automatizando, menos a força física é preciso, o que propicia o aumento das mulheres trabalhadoras na indústria”, destaca Leal.
Essa tendência é constatada em ocupações predominantemente masculinas, como na construção civil e na metalmecânica. No período pesquisado, a proporção de postos de trabalho ocupados por mulheres apresentou alta de 39,9% na metalurgia, de 37,3% na indústria mecânica e de 31,1% na construção civil.
QUEBRANDO BARREIRAS – Para a vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE), Paula Frota, a dedicação, a organização e a atenção aos detalhes são os grandes diferenciais femininos nos canteiros de obras, que têm levado ao aumento na procura por trabalhadoras. “Um grande desafio para elas hoje é exercer papel de liderança e gestão, principalmente por ser um ambiente ainda predominantemente masculino”, destaca a dirigente.
No início da carreira, há dois anos, a brasiliense Jessyka Rocha sentiu na pele esse desafio de assumir o papel de gestão em uma construtora. Enfrentou preconceito ao ter de supervisionar o trabalho de uma equipe de 20 pessoas, sendo 16 homens. “Isso me obrigou a buscar mais conhecimento do trabalho para ganhar o respeito e a credibilidade do time, além de desenvolver habilidades de relacionamento para delegar tarefas e me impor como gestora”, conta Jessyka, que hoje faz curso de mestre de obras no SENAI de Taguatinga (DF).
CURSOS TÉCNICOS – O interesse das mulheres por ocupações industriais também tem crescido. Prova disso é o aumento significativo da procura delas por formação na área. De 2006 a 2015, a participação de mulheres em cursos técnicos do SENAI teve um crescimento de 65%. No início da série histórica, a parcela das mulheres que fazia cursos na instituição era de 20%. No ano passado, foi de 33%.
Entre as áreas de cursos com mais proporção de mulheres em relação a homens estão têxtil e vestuário, com 83% de mulheres matriculadas em 2015. Setores com elevada participação de alunas são alimentos e bebidas (63%), couro e calçados (56%), química (50%) e gemologia e joalheria (49%).
Segundo Leal, essa alta significativa do ingresso de mulheres em cursos técnicos industriais é fruto de diversas vantagens que o segmento oferta aos trabalhadores, como melhores salários e maior qualificação técnica. Ele destaca que a procura por cursos do SENAI deve crescer nos próximos anos, sobretudo porque o Brasil terá de qualificar 13 milhões de trabalhadores em ocupações industriais nos níveis superior, técnico e de qualificação entre 2017 e 2020.
“Entre as áreas que mais demandarão a formação profissional serão construção, meio ambiente e produção, metalmecânica, alimentos, vestuário e calçados, tecnologias da informação e comunicação e energia”, informa Leal, citando dados do Mapa do Trabalho Industrial 2017-2020, elaborado pelo SENAI.
OPORTUNIDADE PROFISSIONAL – O boom na indústria da construção na última década fez com que profissionais se interessassem por uma qualificação em ocupações do setor. É o caso da paraense Carla da Silva Miranda, de 37 anos, que até 2011 era apenas dona de casa. Mas quando viu muitas obras surgindo no Pará e salários atrativos, resolveu fazer cursos técnicos de instalação hidráulica e de técnicas de construção a seco (dry wall) no SENAI.
Já no mercado de trabalho, resolveu se especializar em desenhos arquitetônicos, buscando um curso de educação a distância também do SENAI. “Hoje trabalho em casa, cuidando da minha família e filhos, fazendo desenhos arquitetônicos para obras e ganho, em média, R$ 500 por projeto, que levam três dias para ficarem prontos”, comemora.