O governo de Mato Grosso garantiu contrato firme, por meio de acordo firmado com a Bolívia para fornecimento de gás natural ao Estado. A medida deve beneficiar empresários da indústria, motoristas de aplicativos e transportadores de cargas leves.
Serão construídos 27 quilômetros de dutos para o transporte do gás, segundo o governo estadual. A licitação deve ocorrer ainda esse mês. Isso deve ser positivo para o distrito industrial de Cuiabá, tornando mais barato e atrativo para a indústria. O MT Econômico traz hoje uma entrevista realizada pelo governo sobre o gás natural, com o presidente do MT Gás, Rafael Reis. Veja mais a seguir:
Confira a entrevista na íntegra.
A Companhia planeja fornecer o gás por dutos para as indústrias. Qual a vantagem deste investimento para a MT Gás e para quem compra o gás?
Rafael Reis – A MT Gás existe há 15 anos e temos 1.200 metros de gasoduto, ligando o gás que chega da Bolívia ao nosso City Gate. Hoje, a indústria compra o gás de forma comprimida, revendido por uma terceirizada. Mas, o que dá sustentabilidade, a longo prazo, para a MT Gás é o volume e, para isso, precisamos fornecê-lo por meio de dutos.
Fizemos um estudo no Distrito Industrial e constatamos uma demanda reprimida demais de 3 milhões de m³. Com base nestes dados, lançamos o edital de contratação do projeto do gasoduto. A licitação será na próxima quarta-feira, 13 de janeiro. Para concluir toda a estrutura, com 27 quilômetros de extensão ligando até o Atacadão e todo o Distrito Industrial, serão necessários 18 meses.
Esta análise foi feita, em parceria com o Senai, em todos os estabelecimentos que nos abriram as portas e os que possuem notável potencial para uso do gás.
Com o duto, o gás fica ainda mais barato. Há um custo de R$ 0,89 entre a sua compressão e descompressão. Os mates (cilindros onde é transportado o gás comprimido) são carregados a uma pressão muito alta. No duto, isso não existe. O gás vai direto como se fosse água, como se fosse energia elétrica. A lógica do sistema que torna o gás mais barato e mais atrativo ainda para a indústria é essa.
Nossa necessidade aponta para a construção destes 27 quilômetros. Usamos tecnologias mais modernas e avançadas que as do projeto inicial, pensado há 10 anos, ainda no início do gás no Estado. Hoje pode ser feito muito mais rápido e mais barato. O custo caiu pela metade. Uma obra que custava em torno de R$ 23 milhões, estimamos fazer por R$ 11,5 milhões.
Pela primeira vez, a MT Gás se tornou autossuficiente financeiramente e apresentou lucro. Como a empresa conseguiu se reerguer e acertar as contas com o Estado?
Rafael Reis – Pela primeira vez, nos últimos 10 anos, a MT Gás não se sustenta mais do caixa do governo. Inclusive, acertamos as contas. Fizemos um encontro de contas e organização contábil. Existia um déficit de quase R$12 milhões, resultado de empréstimos institucionais, feitos pela MT Gás, para sua manutenção ao longo destes anos.
A nossa diretoria administrativa financeira, sob o comando do nosso diretor, o Toco Palma, fez este trabalho. Em 2020, obtivemos um superávit e temos recursos para investir nos próximos anos.
Além de termos recebido pelo fornecimento do gás, graças ao contrato firme assinado com a Bolívia, focamos também no recebimento de processos judiciais – neste caso, uma isenção de imposto. O ressarcimento do que foi pago indevidamente trouxe R$ 13,6 milhões ao nosso caixa.
Antes, gastávamos R$ 330 mil mensal sem prestar serviço para a sociedade. Em minha opinião, estatais têm a finalidade de utilizar dinheiro do estado, que é da população, reverter em investimento e devolver com lucro. Caso contrário, não tem sentido.
Para cumprir nossa missão, a gestão se reestruturou em três pilares. O primeiro é o contrato firme – é o que dá a condição para as empresas investirem com segurança. O segundo ponto é o volume. Se não houver uma determinada quantidade de gás, não haverá retorno – por isso, vamos investir nos dutos que levarão o gás às indústrias. Por fim, formatar o preço, que vamos melhorar com a construção dos dutos e em negociação com a Bolívia.
Como o gás se coloca hoje no mercado como uma opção confiável e mais vantajosa para empresas e motoristas, que pretendem utilizá-lo?
Rafael Reis – A MT Gás nunca teve um contrato firme de fornecimento de gás. Como garantir para uma indústria, ou para um posto de combustível, que gasta mais de R$ 1 milhão para colocar os equipamentos necessários, que será abastecida e depois dizer que amanhã não terá o gás?
Hoje, com o contrato firme, sem interrupção, damos a certeza de que teremos gás natural para abastecimento. Até 2029, temos 1,5 milhão de m³ ao mês de contrato firme e mais 1 milhão em m³ de contrato interruptivo. O que precisamos negociar é a reserva de volumes futuros e preços.
O gás é uma matéria energética renovável, menos poluente e traz benefício financeiro a quem o utiliza. Hoje o Gás Natural Veicular (GNV) está quase 76% mais econômico para os motoristas, em relação ao etanol. Quando o preço está equilibrado entre os dois combustíveis, já é possível uma economia de 50%.
Para os motoristas de aplicativo, que possuem o conversor, este momento de alta do etanol representa uma economia entre R$ 1 mil e R$ 1.800 mensais, o que faz toda a diferença dentro de casa. Mesmo que um carro popular rode em média 11 quilômetros com um litro de etanol, com o GNV é possível rodar até 21 quilômetros, quase o dobro.
Com tantos pontos positivos para se usar o gás natural, quais as ações da MT Gás para fomentar esta matriz energética em Mato Grosso?
Rafael Reis – É importantíssimo trazer o combustível para perto da população. Nos dois últimos anos, reestruturamos a Companhia, arrumamos a casa. Conseguimos criar as condições para a abertura de novas convertedoras de veículos em Cuiabá. Fizemos um termo de cooperação com o Senac, para formar mecânicos para essas conversões. São 32 novos mecânicos credenciados no mercado estadual, que podem prestar um serviço de excelência.
Fizemos um trabalho junto com as associações de motoristas de aplicativo para viabilizar a instalação do conversor, chamado popularmente de kit gás; mostrar a economia possibilitada pela conversão e que em nosso cenário atual não haverá mais falta de gás. São cerca de 6.350 motoristas de aplicativos, apenas em Cuiabá e em Várzea Grande.
Estamos trabalhando também na conversão de caminhões de carga leve para transformados em veículos híbridos, com tanques separados. Seremos vanguarda nesse projeto – esta tecnologia tem apenas dois anos. Queremos criar um corredor de logística colocando postos em Sinop, Rondonópolis, Cuiabá.
Por enquanto, será somente para quem tiver caminhão de cargas leves, como bebidas. Não vamos colocar o sistema em um caminhão bitrem. De acordo com o estudo, que está sendo feito em parceria com o Senai, previsto para ser finalizado nesta semana, o ponto de equilíbrio, para que possamos trazer esta solução, é em torno de 520 caminhões,
Qualquer dúvida de transportadores do setor, motoristas ou empresas sobre o uso do gás natural, podem procurar a MT Gás. Estamos com as portas abertas para atendê-los.
Entrevista: Lorena Bruschi e Jairo Sant’Ana (Secom-MT)
Adaptação de imagem e texto: MT Econômico
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