Conciliar trabalho e qualidade de vida é um desafio quase universal. No caso da mulher, ter tempo para cuidar de si mesma é missão impossível por conta da rotina diária de afazeres do lar e profissionais, acabam afetando a qualidade de vida do ser feminino.
Uma nova pesquisa conduzida por Meghan FitzGerald, professora de saúde pública na Columbia University, mostra uma tendência estranha entre as executivas: quanto mais alto o seu salário, menos saudáveis elas se sentem.
A estudiosa ouviu 369 mulheres norte-americanas de diversos níveis hierárquicos e faixas de remuneração, a maioria empregada por uma das Fortune 500, o seleto grupo das 500 maiores empresas dos Estados Unidos.
De modo geral, quanto maior a renda e a escolaridade, melhores os indicadores gerais de saúde das entrevistadas. As entrevistadas com os menores níveis de obesidade, abuso alcoólico e falta de sono também eram as mais ricas e qualificadas.
No entanto, a mesma pesquisa identificou um paradoxo: quando questionadas sobre o quão saudáveis se sentiam, as executivas com remuneração mais alta davam as respostas mais negativas.
Numa escala de 1 a 5, a nota atribuída ao seu próprio bem-estar pelas mulheres com renda entre 20 mil e 50 mil dólares anuais foi de 2,5. Já aquelas que ganham mais de 1 milhão de dólares por ano se deram a pontuação 1,9.
Por quê?
De acordo com FitzGerald, uma possível interpretação para o resultado está no fato de, embora tenham mais dinheiro para consultas e exames médicos, as executivas mais ricas continuam desprovidas de um recurso essencial: tempo.
Na verdade, quanto mais elas ganham, mais apertadas são as suas agendas. Metade das entrevistadas diz que suas jornadas no escritório excedem 50 horas por semana, e que levar trabalho para casa é rotina. As mais bem pagas chegam a passar até 70 horas por semana na empresa.
Limitadas por essa pesada carga horária, 48% delas dizem que não têm tempo para procurar um médico. O tempo também falta para as atividades físicas: 50% se exercitam apenas duas vezes por semana, ou menos que isso, enquanto 25% não fizeram sequer um exercício no último mês.
Em artigo para a revista Harvard Business Review, a professora sustenta ainda outra explicação para os resultados de sua pesquisa: as mulheres mais ricas e escolarizadas podem ser mais críticas consigo mesmas por não corresponderem às expectativas da sociedade.
Outra possibilidade é a de que, quanto maior o acesso à educação, maior a consciência sobre os riscos de ser sedentária ou dormir pouco. Pode ser ainda porque as executivas com salários mais altos dispõem de mais tempo e energia mental para se preocuparem com sua saúde – já que as contas do fim do mês estão garantidas.
De qualquer modo, diz a professora da Columbia University, uma conclusão parece clara: não importa quanto ganhem, as mulheres estão preocupadas com sua saúde.
“Todas nós estamos trabalhando sete dias por semana, e algumas cuidam de filhos ou de pais idosos até quando moram longe”, escreve ela na HBR. “Com tantas exigências sobre o nosso tempo, não surpreende que tantas mulheres coloquem o seu bem-estar em último lugar, e que até as mais ricas ainda tenham motivos válidos para se preocupar com a própria saúde”.