Prefeito de Cuiabá por duas gestões (1997 a 2005), Roberto França, 72 anos, tenta voltar a ter um mandato político depois de anos de ensaio para se candidatar novamente. Logo após deixar a prefeitura, ainda conseguiu se eleger como deputado estadual, não tendo o mesmo sucesso nas eleições seguintes. Enquanto isso, mantém um programa de tv bastante popular. Neste ano, viu suas chances como candidato crescerem ao se filiar ao Patriota, partido aliado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Também se tornou o candidato do governador Mauro Mendes (DEM), que colocou todo seu partido e administração apoiando o ex-prefeito, com o objetivo de derrotar seu maior adversário político, o atual prefeito da capital de Mato Grosso, Emanuel Pinheiro.
Com a ajuda do governo do estado, Roberto França quer finalizar as obras do VLT e colocar os trens para rodar na capital, conta ele nesta entrevista especial ao MT Econômico. “O VLT é um sonho desde que fui ao Rio de Janeiro com o finado secretário Bento Porto. Vou lutar para que aconteça”, diz o candidato, que se defende das acusações de má gestão, contando que também recebeu na ocasião uma prefeitura “quebrada”.
O candidato tem um desafio enorme pela frente, além da finalização do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT). Quando França foi gestor da capital deixou quatro folhas salariais atrasadas, segundo grupo de 500 servidores questionou à imprensa esse mês, noticiado pelo site Muvuca Popular, ameaçando inclusive fazer um panelaço.
O ex-prefeito da capital se defende das acusações dizendo que herdou uma prefeitura quebrada com seis salários em atraso e rombo de 450 milhões. “Não teve nenhum servidor que pode falar que acabou tendo que pagar. A prefeitura pagou todos os empréstimos em nome de todos os servidores e ninguém ficou com nome sujo na praça, não. Nós quitamos esse compromisso”, ressaltou. Roberto França ao programa Conexão Poder em entrevista no último mês de setembro.
Confira na íntegra entrevista
MT Econômico: O que senhor poderia/saberia dizer sobre a situação financeira da prefeitura de Cuiabá hoje?
Candidato Roberto França: Eu só tenho as informações que são públicas e a transparência não é uma característica da atual gestão. Mas há indícios de que a prefeitura está quebrada, só paga salários e atrasa todos os compromissos com fornecedores e outras despesas. O meu vice Marcelo Bussiki vem fazendo estes levantamentos e tem conhecimento de causa, pois é auditor público concursado e chefiou a Controladoria Geral do Município de Cuiabá na gestão do prefeito Mauro Mendes. Vamos fazer auditorias em todas as contas da prefeitura e encaminhar os resultados aos órgãos de controle, como o Tribunal de Contas e o Ministério Público, para as devidas providências. A atual gestão já teve quatro secretários afastados e um preso por denúncias de corrupção e seremos absolutamente intransigentes neste quesito. Tanto em referência às contas da atual gestão como a minha própria, pois nunca tive um secretário denunciado por corrupção.
MT Econômico: Acha que pode encontrar problemas financeiros no município? O senhor irá encontrar uma cidade com muitas obras a serem concluídas, o município tem caixa para isso?
Candidato Roberto França: Eu penso que com o aumento do endividamento, os custos dos empréstimos para obras foram excessivos, então certamente os próximos gestores terão dificuldades. Existem também muitas obras a concluir, há pelo menos três obras de policlínicas iniciadas no final da gestão anterior e que não foram concluídas pela atual, estão abandonadas no Dr. Fábio, São João Del Rey e Real Parque. O que eu sei é que não cometerei o mesmo erro das minhas últimas gestões, quando herdei uma dívida de R$ 450 milhões, praticamente uma arrecadação anual, e seis folhas e meia de salários atrasados. Desta vez eu vou abrir todos os números e mostrar à população a situação em que se encontra a prefeitura.
MT Econômico: O que o prefeito pode fazer para atrair novos investimentos e negócios para a cidade?
Candidato Roberto França: A primeira providência, antes mesmo da atração de investimentos, é otimizar a estrutura administrativa tornando a gestão mais eficaz no atendimento às pessoas e às empresas. Vamos facilitar a abertura de novas empresas através da desburocratização de todos os procedimentos, apoiada em um programa estruturado de divulgação das oportunidades locais de negócios. Vamos fortalecer as práticas administrativas de gestão num diálogo franco e democrático com todos os segmentos da sociedade, através de um conselho com as entidades do comércio e indústria, que se reunirá periodicamente com o prefeito. Vamos estimular a geração de empregos, via atração e apoio às indústrias não poluentes que possam explorar as vocações naturais da capital mato-grossense. Nosso plano de governo contempla ainda a criação de um escritório para elaboração de projetos com foco nas parcerias público-privadas em setores não privativos da operacionalização pública como a construção, manutenção e operação de espaços públicos, educação profissional e tecnologia, o que também favorecerá a atração de novas empresas. Também vamos adotar marco legal de ciência, tecnologia e inovação para captar recursos financeiros estaduais e federais e elaborar e implantar o marco regulatório de logística objetivando tornar a cidade referência na cadeia de transporte e logística voltados ao agronegócio. A chegada da ferrovia a Cuiabá também aquecerá muito a economia de toda a região da baixada, atraindo empresas prestadoras de serviços em todos os segmentos. O nosso apoiador, deputado Eduardo Botelho, presidente da Assembleia, propôs e a Assembleia aprovou dias atrás uma PEC que autoriza o Estado a fazer a concessão deste trecho interno da ferrovia. Acreditamos que em três ou quatro anos teremos aqui um terminal rodoferroviário que vai atrair empresas e gerar mais de 4 mil empregos, como já acontece em Rondonópolis e Alto Taquari, por exemplo.
MT Econômico: Como a prefeitura pode ajudar economicamente a população neste momento, em que a pandemia provocou desemprego e o fechamento de negócios, como inúmeros comércios na capital, por exemplo? Quais os projetos e programas que podem ajudar na geração de emprego e renda?
Candidato Roberto França: A pandemia realmente afetou vários segmentos da economia e será preciso priorizar a geração de empregos e a criação de novos empreendimentos. Uma das primeiras providências será a adequação do Código Tributário Municipal à lei de liberdade econômica, que entrou em vigor no ano passado, para facilitar o empreendedorismo no município. Vamos buscar acelerar a implantação do Parque Tecnológico, em conjunto com o governo do Estado, prefeitura de Várzea Grande e os centros de ensino de tecnologia das universidades e outras entidades, que também contribuirá para a geração de novos postos de trabalho. Vamos implantar o programa PROGER de geração de emprego para jovens e adultos. Através de convênios com o sistema ‘S’ e outras organizações, serão oferecidos cursos de capacitação e de formação de jovens aprendizes. O comércio ambulante é importante, pois é fonte de renda de milhares de famílias e não pode ser tratado como atividade marginal. Precisa ser organizado, regulamentado e ajustado para que não haja concorrência ilegal com o comércio tradicional e nem ocupação indevida de calçadas. Foi o que fizemos ao iniciar a construção do Shopping Popular e da cessão de trechos de ruas no centro para este tipo de comércio. Nosso plano de governo também contempla a celebração de convênios e termos de cooperação com instituições que desenvolvam e implementem programas de melhoria de qualidade de vida no trabalho. E resgatar uma legislação de nossa autoria que condiciona a contratação de obras públicas à exigência de geração de determinado número de empregos, especialmente para os jovens. E vamos fazer novos concursos públicos, que também aumentam a oferta de empregos.
MT Econômico: O senhor é o candidato do governador Mauro Mendes, como essa relação irá beneficiar a capital? Quais os projetos para Cuiabá prefeito e governador pretendem tocar juntos?
Candidato Roberto França: O governador Mauro Mendes será com certeza parceiro de qualquer um dos gestores que tomarem posse em janeiro de 2021, na capital ou interior, pois administra com seriedade e sem discriminação. Mas é claro que, no interesse do cidadão, é melhor que haja um alinhamento entre o prefeito da capital, o governador e o presidente da República. Eu sou aliado político do governador, seu partido, o DEM, integra a nossa coligação, e já estudamos várias possibilidade de parceria. Uma delas será a pavimentação de 200 km de ruas em Cuiabá, outra nos projetos de regularização fundiária, na criação de um grande programa habitacional e na substituição da iluminação pública por tecnologia LED, mais econômica, durável e que garante segurança â população. Seremos parceiros também nas obras sociais, que marcaram minhas duas primeiras gestões como prefeito, resgatando e ampliando projetos que atendem diretamente as pessoas mais carentes, as que mais precisam do apoio do poder público. E meu partido o Patriota é aliado de primeira hora do presidente Bolsonaro, então certamente teremos apoio para a conclusão de obras inacabadas como o VLT, por exemplo. Eu sempre defendi o modal desde quando era prefeito e fui ao Rio de Janeiro com o finado secretário Bento Porto, buscar financiamento chinês para o nosso VLT. Infelizmente o processo não se concretizou, mas agora é preciso concluir o VLT. Não podemos jogar mais de R$ 1 bilhão no lixo. O governador está trabalhando para superar as pendências judiciais, a apuração de eventuais irregularidades e com o apoio do governo federal certamente o VLT será concluído.
Veja também nessa série de entrevistas especiais:
Entrevista com candidato Emanuel Pinheiro (publicada 10/11)
Entrevista com candidata Gisela Simona (será publicada 11/11)
Entrevista com candidato Abílio Junior (será publicada 12/11)