Karoli Hindriks é uma empreendedora nata: já era a mais jovem inventora da Estônia aos 16 anos, quando criou refletores de tecido para aumentar a segurança de pedestres. Com o tempo, foi somando ao currículo a fundação de três empresas e a direção de outras cinco antes de criar o Jobbatical.com, plataforma em formato de marketplace que incentiva as pessoas a buscarem empregos de curta duração em outros países.
“Aos 29 anos, eu já tinha uma carreira de sucesso nos países bálticos e queria usar minhas habilidades em outro lugar do mundo, com uma equipe em um ambiente cultural diferente”, explica. Como todas as oportunidades de trabalho que encontrava eram do tipo experiência agrícola ou ensino de inglês, Karoli viu um nicho. “Percebi que havia muito potencial inexplorado, muitos profissionais de alto nível prontos para viajar, e que alguém precisava construir a plataforma que conectaria essas pessoas com equipes internacionais.”
Juntou seu time e arregaçou as mangas. Aplicou o que aprendeu na Estônia (um dos países mais tecnologicamente avançados do mundo) e no Vale do Silício, onde ajudou uma startup a começar seus negócios e foi aceita pela prestigiosa Singular University.
“O Vale do Silício tem uma combinação incrível de paixão pela vida e pelo trabalho”, conta Karoli. “Você está entre pessoas brilhantes e cada conversa eleva seu know how a um novo nível, é um ambiente muito inspirador.” A meta do Jobbatical, diz ela, é levar esse tipo de mentalidade aos pedaços mais remotos do planeta e fazer com que diversos Vales do Silício surjam pelo mundo.
O projeto foi ao ar no fim de 2014 e conta com 30.000 inscritos, em sua maioria americanos e brasileiros. Entre as mais de 2 mil oportunidades de trabalho em 30 países ofertadas até agora, cerca de já 500 deram certo – inclusive para Thiago Pappacena, engenheiro brasileiro hoje em Milão e que recentemente escreveu sobre sua experiência.
Atualmente, os profissionais mais buscados no site são desenvolvedores de software, profissionais de User Experience (UX) e User Interface (UI) e especialistas em marketing com ótimos currículos.
Mundo novo
Muito do sucesso do Jobbatical vem da vontade de fazer diferente dos próprios clientes, cansados do modelo tradicional de trabalho. É um fenômeno cada vez mais reconhecido: do home office aos horários flexíveis, passando por escritórios com cara de campus de faculdade e metas individuais de produtividade, os “Millennials” estão buscando um jeito legal de trabalhar.
“O modelo de trabalho das 9h às 17h tem mais de um século e, quando vemos tudo que mudou durante esse tempo, você se pega pensando por que ainda trabalhamos como se estivéssemos numa linha de produção”, fala Karoli. “Para nossos pais, trabalhar significava ir até dado endereço num dado horário, mas para muitos de nós hoje significa abrir um laptop.”
Ao pensar no futuro, Karoli aposta num modelo menos linear e cada vez mais sob demanda. “Isso significa que ao invés de ter um emprego por vinte anos, as pessoas terão 10 ou 20”, resume. Diz também que será necessário aprender e reinventar talentos para manter-se a par das mudanças tecnológicas. “Por isso, o que mais quero ensinar para minha filha é a habilidade de aprender e se adaptar às mudanças.”
Qualquer lugar é sua casa
A internet também ajudou a diluir as fronteiras culturais e tornar o exótico não apenas interessante como desejável, completa a estoniana. E se fica fácil se conectar com pessoas do outro lado do mundo, indaga, não é ridículo que empresas globais ainda contratem alguém do bairro só porque pessoa perfeita para o trabalho está a um ou dois voos de distância?
“Queremos mudar isso e dar acesso ao talento internacional, que já está pronto para se realocar nos pontos mais distantes do mundo por um certo período de tempo”, resume. Vale lembrar que, em geral, as vagas disponibilizadas pelo Jobbatical – todas selecionadas pela equipe do site – costumam oferecer entre três meses e um ano de emprego.
Como não poderia deixar de ser, Karoli comanda suas operações de lugares inesperados. Há dois meses, vive com o time e a filha pequena em Kuala Lumpur, na Malásia. Isabel Hirama, a americana que lidera a área de marketing, conta que já morou em quatro países desde que garantiu o posto, e em breve parte para a Grécia.
Mesmo quando pensa nos percalços, Karoli é otimista. “Quando se constrói uma plataforma para um modelo que não existia antes, há sempre coisas para fazer”, fala. “Mas sombra nenhuma é grande o suficiente para atrapalhar a alegria das pessoas que já mudaram de vida com nossa plataforma. Ao escutar essas histórias, esqueço de todos os desafios”, conclui.
Direto da fonte
Para facilitar a vida dos leitores brasileiros, Karoli e Isabel compartilham 7 dicas para aumentar suas chances de encontrar o emprego dos sonhos no Jobbatical.
1. Leia atentamente a descrição da vaga. Alguns dos postos só podem contratar cidadãos europeus, por exemplo. E certifique-se que você fala o idioma necessário. Se a língua exigida for o português, como nessa vaga aqui, melhor ainda!
2. Se não houver restrições, aplique. E envie uma candidatura tão incrível que valha a pena o tempo e o esforço que serão necessários para conseguir seu visto de trabalho. Isso é crucial: não adianta enviar um currículo comum, é preciso mostrar que você seria uma adição fantástica à equipe.
3. Quando estiver aplicando para uma vaga em startup, chame as pessoas pelo nome (não seja genérico), explique por que aquela cidade e aquela missão te atraem e mostre o que te faz único.
4. Não deixe que o empregador duvide que você sabe o que ele faz. Em sua candidatura, explique por que você concorda com a visão do negócio, conecte sua experiência com os desafios futuros da empresa e apresente algo novo.
5. Considere a Estônia, um país muito eficiente e aberto ao talento internacional. Garantir um visto de trabalho ali é mais fácil que em quase todos os outros países, garante Karoli.
6. Pesquisa sobre o “Startup Visa”, um programa especial de vistos criado pela Itália e voltado aos talentos internacionais que queiram atuar em startups nacionais. Uma ótima oportunidade!
7. Pense na Malásia, que hoje tem uma animada cena de startups tanto na capital quanto na ilha de Pengang.