Os prêmios atrativos e a alta demanda por soja convencional no mercado europeu trazem otimismo aos produtores rurais brasileiros. O Instituto Soja Livre (ISL), entidade que fomenta a produção de soja não-transgênica no Brasil, projeta área de 3% do total no Brasil e Mato Grosso deve plantar 60% do total que será oferta do novo ciclo, já que é Estado maior produtor do grão convencional.
O produtor rural e diretor de Relações Internacionais do Instituto, Endrigo Dalcin, destaca que este nicho de mercado está pagando prêmios remuneradores. “A Europa já começa a demandar um volume de soja convencional que não encontra no mercado. Com a pandemia, a Índia, nosso maior concorrente, deixou de exportar e abriu esta oportunidade para os agricultores brasileiros”.
Ele reforçou que o papel do Instituto Soja Livre é chegar a um ponto de equilíbrio para que toda a cadeia da soja convencional seja adequadamente remunerada e possa existir planejamento. “Atualmente, há falta de produto porque durante três safras os prêmios foram desanimadores. Queremos que os compradores europeus definam contratos mais longos, de dois a cinco anos, para que todos os elos da cadeia possam se planejar, desde o sementeiro até as empresas de armazenagem e logística”, frisa Dalcin.
O diretor revelou que, atualmente, os prêmios chegam a até US$ 6 a saca e este é um valor interessante para o produtor rural. “Esse prêmio já foi de 10 ou 15 reais por saca o que desincentivou o plantio da soja convencional. No entanto, hoje o mercado está demandador e o agricultor pode fazer parte da lavoura para a próxima safra”, pontua.
Com a alta exponencial nos preços de insumos, o diretor avalia que se abre uma brecha para que os agricultores migrem para a soja convencional. O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) já calculou que, apesar do custo de produção da soja convencional ser 4% maior, a rentabilidade chega a sete sacas por hectare frente à transgênica. “Aqui em Mato Grosso temos utilizado tecnologias muito alta em fertilizantes, temos uma base boa que dá para trabalhar um ano com menos produto, sobreviver a esta elevação de custos e ver como será o mundo pós-pandemia, que atrapalhou toda cadeia”, pondera.
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Outro desafio, segundo o diretor do Instituto Soja Livre, é abrir novos mercados para a soja convencional. Ele explicou que a China está no radar dos agricultores brasileiros, mas há um entrave em relação à tolerância. “A soja convencional produzida no Brasil e exportada para a Europa tem um nível mínimo de contaminação por soja transgênica tolerada, que é de 0,1%, produzimos uma soja 99,9% livre de transgênicos. A China quer 100% convencional e isso, em um mercado que produz muito transgênico, é impraticável. Tem que haver uma tolerância na entrega e estamos tentando negociar isso com as autoridades chinesas”, explica.
A soja convencional exportada para a China será utilizada para consumo humano porque, apesar de o país produzir 13 milhões de toneladas, não é o suficiente para abastecer o mercado interno. “Esse despertar pode ser revertido em pagamento de prêmios, pois já explicamos aos chineses que precisam pagar mais pela soja convencional, pois é mais difícil de produzir e tem todos os percalços de um nicho de mercado. E é soja totalmente rastreada. Em cada etapa da produção é verificada se aquela carga de soja está dentro do padrão de soja convencional”, relata Dalcin.