Nas cooperativas de Mato Grosso, as mulheres são 28% dos cooperados, 15% dos presidentes de cooperativas e estão cada vez mais presentes nos cargos de liderança de alto poder estratégico. Atualmente, já alcançaram a supremacia em relação aos postos de trabalho e correspondem a 52% dos funcionários contratados.
Segundo a superintendente nacional da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Tânia Zanella, elas apresentam uma ampliação gradual e consistente da participação no decorrer dos anos. Ela, que no ano passado esteve na lista das “100 Mulheres Poderosas do Agro” pela revista Forbes Brasil, acredita que o protagonismo feminino é fruto de uma batalha longa e marcada pela ousadia, empenho e determinação.
“Todos os dias nós, mulheres, reivindicamos nossos direitos, conquistamos espaços e batalhamos para garantir a igualdade de gênero e o reconhecimento de nossas capacidades profissionais e pessoais”, avalia.
No dia da Mulher, comemorado em 8 de março, Zanella faz o convite à luta e resiliência. Ela defende que é preciso ser persistentes e continuar a jornada com empenho e determinação para que sejam conquistados cada vez mais espaços e haja a ascensão profissional de mais mulheres.
“Sei que nossa presença em cargos de liderança ainda é tímida, mas posso afirmar, sem medo de errar, que fazemos toda a diferença ao promover equilíbrio, sensibilidade e maturidade nas tomadas de decisão”, assegura.
Aifa Naomi sabe o que é ser exceção. Ela é a única mulher a ocupar a presidência de uma central do Sicoob – a União MT/MS – e também a única a integrar o conselho de administração do Sicoob Brasil. Um espaço, que na opinião dela, foi galgado com estudo, sabedoria, humildade e resiliência.
Ela disse que começou sua carreira profissional aos 19 anos na área pública e já em um cargo de liderança. Naquela ocasião, investiu em cursos e capacitações para que os seus liderados tivessem segurança e se sentissem motivados com a atuação dela, mesmo diante da sua inexperiência.
Depois, passou a integrar o sistema cooperativo em um cargo de diretoria, em 1999, e, desde então, avalia que teve um tráfego tranquilo até a diretoria. “Eu sempre segui com muita humildade. Por várias vezes voltei atrás e reiniciei o processo. Avaliar, reavaliar e mudar de ideia faz parte do processo de construção de qualquer líder”, aconselha.
Aifa Naomi defende que as competências e habilidades devem ser o cerne de qualquer seleção para cargo de liderança, porém devido a fatores socioculturais, admite que nem sempre acontece assim. Ela acredita que as cooperativas precisam trabalhar programas mais específicos para equidade de gênero no acesso a alguns cargos. Ela lembra que as mulheres têm grande representatividade nas gerências, mas quando se chegam em cargos de diretoria ou no conselho de administração, a presença fica mais rarefeita.
“Eu vejo que temos programas específicos quando falamos das mulheres cooperadas. Em alguns estados, temos agências específicas para elas, sem contar nos programas, como os destinados a mulheres empreendedoras. Contudo, ainda precisamos de programas que influenciam a mulher a formar carreira dentro do cooperativismo. Trazendo cases de sucesso de fora e que sejam aplicados no dia-a-dia das cooperativas”, argumenta.
Com relação à discriminação, a presidente disse que nunca se sentiu vítima. Alega que já ouviu piada infelizes, mas sempre reverteu a situação apoiando-se no conhecimento e entendendo que o respeito no espaço de trabalho não está necessariamente ligado à amizade pessoal.
“Nunca senti desvantagem por conta do gênero. Acho que tem a ver comigo. Muitas vezes estamos em ambientes em que existe uma certa cumplicidade entre os homens. Mas, eu decidi que nunca vou admitir preconceito. Vou me colocar na hora certa, de forma técnica e estratégica e pronto. Procuro mentalizar que estou para trabalhar e contribuir. Não entro em outros aspectos”.
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Uma liderança de ouro
Solange Luizão Barbuio Barbosa é a presidente da Cooperativa dos garimpeiros do Vale do Rio Peixoto (Coogavepe), que tem mais de 5 mil cooperados, majoritariamente homens. Ela explica que sempre houve a participação das mulheres no garimpo, mas elas ficavam mais restritas a atividades administrativas – geralmente apoiando os companheiros – e nas atividades de escritório e suporte, como cozinha e limpeza.
Contudo, a profissionalização da atividade tem transformado a realidade. Elas ainda são poucas na extração, mas cada vez mais estão presentes na comercialização, nas áreas financeiras e de organização das empresas. “A legalização trouxe uma nova ótica para a gestão, trazendo a necessidade de um olhar mais amplo e não focado apenas na produção”, argumenta.
Ela é uma das pessoas que começaram a trabalhar com garimpo por conta das exigências de profissionalização da atividade. Já tinha experiência com administração de empresas, mas precisou estudar as especificidades da extração mineral para entender e conquistar autoridade na execução do trabalho.
Os resultados obtidos por Solange entusiasmaram os cooperados, que viram nela a melhor opção para presidência, que foi chancelada após a votação. “Houve debates e, às vezes, eu ouvia comentários. Não vai ter força, não vai saber lidar. Mas, a adversidade me trouxe confiança e fez meu trabalho ganhar visibilidade”, argumenta.
Na opinião de Solange, a liderança chegou graças ao esforço e às oportunidades de estudo. “Eu sempre acreditei na frase: Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos”.
Agora, o novo desafio de Solange é trazer mais mulheres para cargos de liderança e também para compor o conselho de administração da cooperativa.
Sobre o Sistema OCB/MT A Organização das Cooperativas Brasileiras de Mato Grosso – Sistema OCB/MT – é uma entidade formada por 3 instituições que fazem papéis distintos e ao mesmo tempo interligados, focados no suporte às cooperativas: OCB/MT – Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras de Mato Grosso; Sescoop/MT – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado de Mato Grosso; e o I.Coop – Faculdade de Cooperativismo.