“O mundo passa por um choque único de preços puxado, principalmente, pela guerra”, com essas palavras, o engenheiro agrônomo e especialista Alexandre Mendonça de Barros alertou os participantes durante 10º Simpósio Nutripura, realizado em Rondonópolis (a 220 km da capital de Mato Grosso), sobre a situação econômica mundial, sobretudo o mercado de commodities, no último final de semana.
“O mercado já estava relativamente apertado antes da guerra. Primeiro pela percepção de consumo muito elevado e depois com as perdas nas safras no Sul do Brasil, Argentina e Paraguai. Com o início da guerra, a economia ficou abalada porque há dois produtos muito importantes fornecidos pela Rússia e Ucrânia, que são o trigo e milho”. A exacerbação dos preços, segundo Mendonça de Barros, vem de uma consequência de fatores como consumo elevado, desabastecimento e agora a guerra.
De acordo com o especialista, com a falta do milho ucraniano no mercado, e do trigo produzido na Rússia, que também é utilizado como ração na Europa, aumenta a demanda sobre a produção brasileira, norte-americana e argentina. “Enquanto a guerra durar, a previsão é que os preços se mantenham elevados. Claro que se a guerra acabar amanhã, o mercado deve se acomodar. Mas não tem como estabelecer quando ou o quanto”.
Outro ponto destacado pelo analista foi com relação ao desabastecimento de fertilizantes, isso porque grande parte insumos consumidos pelo agronegócio brasileiro é importada da Rússia e Belarus.
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“Traz uma preocupação se a próxima safra brasileira será normal, pela falta de fertilizantes. Mas também chama a atenção para substitutos como estercos, cama de frango e alternativas que podem substituir pelo menos em parte”, afirma o especialista.
Com relação à valorização do real, Mendonça de Barros explica que isso aconteceu porque muitos investidores que estavam na Rússia estão voltando seus recursos para países com potencial produtivo, como é o caso do Brasil, já que os dois países são produtores de commodities.
“Na hora que ocidente proíbe investimentos na Rússia, isso se volta em parte para o Brasil. Ainda assim, os preços não pararam de subir e isso mostra como a pancada foi forte lá fora. E mesmo que a guerra acabe, isso não acaba tão rápido, ainda vai um tempo para o mercado se acomodar”, conclui o especialista.
VIRADA DE CICLO – O especialista chamou a atenção dos produtores para o momento conhecido como virada de ciclo da pecuária, quando muda o fluxo de oferta e demanda e em consequência os preços na atividade. Alexandre Mendonça de Barros destaca que 2021 registrou um dos menores volumes de fêmeas abatidas e que a oferta de boi magro e de bezerro já está aumentando. “O auge da oferta de bezerros deve acontecer em 2023, mas já percebemos uma desvalorização no preço da reposição”.
Sobre o boi gordo, apesar do valor da arroba permanecer em patamares elevados, Mendonça de Barros reforça que é preciso considerar a inflação do período, que acaba mascarando a desvalorização dos produtos.
O especialista falou para um público de mil pessoas, entre produtores rurais, empresários, investidores e profissionais ligados ao agronegócio, sobre as principais tendências de mercado e chamou atenção para menor oferta de alimentos e fertilizantes e demanda elevada de produtos.
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