A Petrobras anunciou nesta sexta-feira (17) reajustes de 5,2% no preço da gasolina e de 14,2% no preço do diesel. Os novos valores passam a vigorar a partir deste sábado (18).
A empresa informou que o preço médio de venda de gasolina para as distribuidoras passará de R$ 3,86 para R$ 4,06 por litro. O último ajuste ocorreu em 11 de março, há 99 dias.
Para o diesel, o reajuste ocorre 39 dias depois do aumento anterior. O preço médio de venda da Petrobras para as distribuidoras passará de R$ 4,91 para R$ 5,61 por litro. O último ajuste ocorreu no dia 10 de maio.
O preço do gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de cozinha, não sofreu reajuste. Em nota para divulgar os aumentos, a Petrobras afirmou que tem buscado o equilíbrio dos seus preços com o mercado global, mas sem repasse imediato para os preços internos da volatilidade das cotações internacionais e da taxa de câmbio.
“Esse posicionamento permitiu à Petrobras manter preços de GLP estáveis por até 152 dias, de diesel por até 84 dias e de gasolina por até 99 dias. Esta prática não é comum a outros fornecedores que atuam no mercado brasileiro que ajustam seus preços com maior frequência, tampouco as maiores empresas internacionais que ajustam seus preços até diariamente”.
REPERCUSSÃO – Já pelo Twitter, o presidente Jair Bolsonaro fez duras críticas à Petrobras pelo novo reajuste.
“O Governo Federal como acionista é contra qualquer reajuste nos combustíveis, não só pelo exagerado lucro da Petrobras em plena crise mundial, bem como pelo interesse público previsto na Lei das Estatais”, postou o presidente.
Em seguida, ele citou a possibilidade de uma greve de caminhoneiros, em decorrência do preço dos combustíveis. “A Petrobras pode mergulhar o Brasil num caos. Seus presidente, diretores e conselheiros bem sabem do que aconteceu com a greve dos caminhoneiros em 2018, e as consequências nefastas para a economia do Brasil e a vida do nosso povo”.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, também criticou o reajuste anunciado nesta sexta-feira e pediu a renúncia imediata do presidente da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho.
“O presidente da Petrobras tem que renunciar imediatamente”, tuitou Lira. “Ele só representa a si mesmo e o que faz deixará um legado de destruição para a empresa, para o país e para o povo. Saia!!!”
Na última quarta-feira (15), a Câmara dos Deputados concluiu a votação do Projeto de Lei Complementar (PLP) 18/2022, que limita a aplicação de alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre combustíveis, fixando-a no patamar máximo de 17% a 18%, abaixo dos valores atuais aplicados pelos estados.
A medida tem o objetivo de reduzir o preço dos combustíveis para o consumidor, mas os aumentos da Petrobras podem anular os efeitos dessa desoneração. O texto aguarda sanção presidencial para entrar em vigor.
URGÊNCIA DO REAJUSTE – Segundo membros da diretoria, a defasagem entre os preços internacionais e o praticado pela Petrobras supera atualmente os 20% no caso do diesel. Já a defasagem no preço da gasolina caiu para cerca de 5%, depois de medidas adotadas pelos Estados Unidos.
A Petrobras argumenta que é obrigada a praticar os preços internacionais. Se o preço do petróleo e seus derivados subir lá fora, ela deve reajustar os valores aqui dentro também. A empresa alega ainda que, se segurar os preços artificialmente, os importadores privados podem desistir de atuar no Brasil, o que pode levar à escassez de combustível.
CHEGAR A R$ 10 – No começo de junho, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) alertou para o risco de o litro do óleo diesel atingir R$ 10 no segundo semestre do ano, acima dos atuais R$ 7, em média, com impactos ainda mais severos sobre a inflação e às vésperas da colheita da safra agrícola, quando aumenta a demanda pelo derivado.
“A crise está contratada”, afirma o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, ao comentar a inoperância do governo do presidente Jair Bolsonaro diante da iminente ameaça à segurança nacional, provocada pela demora na tomada de decisões de importações e formação de estoques de diesel em tempo hábil.
Análises feitas pela área econômica da FUP indicam que estão dadas as condições para nova escalada de preços dos combustíveis: com estoques globais em níveis historicamente baixos, resultando na valorização das cotações de referência e dos prêmios de exportação, a gasolina e o diesel estão cerca de US$ 60 por barril acima do preço do petróleo.
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Segundo projeções, o barril de petróleo poderá chegar à faixa de US$ 120 nos próximos dias e não está descartada a possibilidade de atingir o pico de US$ 130/US$ 140 no final de junho ou início de julho e de o crack spread (diferença entre o preço do barril de petróleo e o preço do barril do derivado) se valorizar ainda mais. Soma-se a isso o custo do frete, em torno de US$ 9,20 por barril de diesel importado do Golfo Arábico ou da Índia (únicos pontos disponíveis atualmente), para o Brasil, o que elevará o preço do derivado para US$ 196, até US$ 200. Se houver escassez de diesel no mundo, como já se anuncia, o crack spread poderá ser ainda maior.
Bacelar lembra ainda que são necessários entre 45 dias e 60 dias para o produto chegar ao Brasil. Tempo demais. Segundo informações obtidas por ele, os estoques da Petrobras equivalem a 14 dias de produção.
Diante do quadro de restrições de oferta internacional, distribuidoras no Brasil já se ressentem de dificuldades de importações de derivados. De acordo com relatos, em fevereiro (ainda antes da invasão da Ucrânia), quando pedia uma cotação de carga, o distribuidor recebia cerca de 20 propostas comerciais. Agora, dificilmente se consegue mais do que uma cotação por dia.
“Nada mais caro do que não ter”, diz Bacelar, prevendo risco de desabastecimento de diesel no Brasil, probabilidade de adoção de racionamento entre julho e agosto, e importações do produto de origens mais distantes e com qualidades distintas.
Consultorias preveem um segundo semestre mais difícil, não somente pela temporada de furacões nos Estados Unidos (junho a novembro) – que traz incertezas no refino do Golfo Americano e maior volatilidade de preços – como também pelo aumento de demanda do derivado no Hemisfério Norte.
O dirigente da FUP entende que, mesmo sendo o Brasil muito exposto às importações de diesel, equivalentes a cerca de 25% do consumo doméstico, o governo Bolsonaro preferiu “empurrar com a barriga” o problema do abastecimento interno do produto.
“Bolsonaro continua com a política de desmonte da Petrobras, com a venda de refinarias, redução de investimentos no setor e obras que não concluiu (segundo trem da refinaria Abreu e Lima, refinarias Premium 1 e 2 e Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), além da manutenção do equivocado preço de paridade de importação (PPI)”, observa Bacelar, lembrando que, com base no PPI, o preço do litro do óleo diesel bateu novo recorde em maio último, o maior valor em 18 anos (média de R$ 7 por litro).
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