Não é preciso ser formado em ciências naturais, história ou filosofia para compreender que a vida é feita de ciclos. Quase tudo tem seu início, seu meio (com um auge) e um declínio em direção ao fim, nos ensina a natureza. E com a economia as coisas não são diferentes.
Olhando qualquer setor ou segmento da economia, os ciclos são uma constante na linha do tempo. Estejamos tratando de nações, atividades econômicas ou domínio geopolítico, a história nos ensina que o fim de um ciclo é, em geral, o início de outro. E que quase sempre quem viveu o auge de um ciclo tem forte resistência a abraçar o nascimento do próximo.
Todo este preâmbulo é necessário para entendermos que assim como as pessoas, as companhias e os governos tendem a se comportar da mesma forma. A Kodak, dominante em filmes fotográficos, resistiu à câmera digital e foi engolida pelo tempo. A poderosa Microsoft não enxergou o ocaso dos Computadores Pessoais para o nascimento da era dos smartphones, e perdeu este ciclo da tecnologia. E no Brasil, desde o ciclo da borracha ou do café esta resistência se fez presente.
Este, infelizmente, é um diagnóstico a que muitos ainda resistem, mas que talvez represente o momento atual da tradicional indústria brasileira. Em tempos em que a manufatura se deslocou para países com um baixo custo trabalhista, energia barata e políticas agressivas de atração de investimentos (coisas que o Brasil falhou em oferecer nas últimas décadas), a tradicional indústria nacional sobrevive respirando por aparelhos em um ambiente altamente tóxico ao empresário. A combinação de atrasos de agendas estruturantes com a inexplicável obsessão brasileira por burocracia e ineficiência formam o chamado Custo Brasil, que asfixia a todos empresários que não conseguem um balão de oxigênio para chamar de seu. Estes balões em geral vieram das últimas décadas de desonerações, subsídios, proteções tarifárias e incentivos diversos, mas esta fórmula se esgotou quando o estado brasileiro perdeu a capacidade de manter incentivos na quantidade e intensidade necessários para sustentar a todos. As altas taxas de juros e o baixo crescimento econômico podem ser o tiro final na velha economia industrial brasileira.
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Mas então tudo está perdido? A julgar pelas recentes declarações do Governo Federal, nem tudo. Novos pacotes de estímulo e socorro estão sendo estruturados, visando a reindustrialização (guardem bem este termo) do país. O problema com esta estratégia é que todos nós sabemos que são medidas paliativas e pouco duradouras. Voltando à introdução deste artigo, nos parecem medidas de adiamento de um inevitável e claro fim de ciclo.
E como para cada ciclo que termina há um novo em ascensão, qual seria este novo ciclo industrial brasileiro? Bom, a resposta parece estar nascendo bem no nosso quintal, no estado de Mato Grosso, que fechou 2022 com a indústria que mais cresceu no Brasil segundo o IBGE. É a NEOINDUSTRIALIZAÇÃO, termo que ouvi pela primeira vez nesta semana em uma reunião na Confederação Nacional da Indústria com o Ministro de Indústria e Comércio e também vice-presidente da República, Geraldo Alckmin. Surge uma nova indústria brasileira.
A conversa lá em Brasília acendeu a fagulha que eu precisava para deflagrar um incêndio de ideias e visões que merecem ser compartilhadas e discutidas. E é sobre este tema e outras tendências de futuro que pretendo dedicar este espaço com você, meu caro leitor. Falar da nova economia que surge enquanto a velha agoniza, e de como podemos nos preparar para esta nova economia que surge, com vigor e rapidez, bem diante dos nossos olhos, e de seus desafios.
Gustavo de Oliveira é empresário e inovador. E-mail: gustavo@britaguia.com.br ou @gustavopcoliveira
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