Segundo o economista Vivaldo Lopes, a taxa Selic deve encerrar 2024 em 8,75%. Apesar de ainda ter um caminho a percorrer, os 11,75% hoje já é um pouco satisfatório e deve ajudar a economia do Brasil em 2024, pois tende a ter mais diminuições ao longo do ano.
O MT Econômico entrevistou o economista Vivaldo Lopes, que é formado pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), possui MBA na FIA-USP em Gestão Financeira e Empresarial e possui um livro publicado em 2010, intitulado “Mato Grosso: Território de Oportunidades”.
Vivaldo trouxe as principais perspectivas da economia brasileira em 2024, dentre elas a redução gradativa da taxa Selic e qual seria a taxa ideal para a economia crescer.
No início de 2023, a Selic estava em 13,75%, ao fim do ano, ela foi reduzida para 11,75%, número que perdura até a data de publicação desta matéria. Vivaldo explica que esse fator ocorre devido ao ritmo do Banco Central (BC).
“O Banco Central está estabelecendo o ritmo de a cada reunião do Copom reduzir meio ponto percentual. Dessa forma, nós chegaremos ao final de 2024 com a Selic em 9%”, explica e acrescenta, “pessoalmente, e também alguns analistas e casas de análise, já trabalham com um cenário entre 8,5 a 9%”.
Vivaldo é um pouco mais preciso, “nas minhas projeções, eu já trabalho que nós vamos finalizar 2024 com a Selic em 8,75%”. O que, para ele, é positivo e vai estimular o mercado de crédito no Brasil, ao longo do ano. “Nós estávamos em um cenário muito ruim e ele melhorou um pouco, apesar de ainda não ser o ideal”, complementa o economista.
Juros neutro (taxa Selic ideal)
Na teoria monetária, o que é chamado de juros ideal é o juros neutro, que nada mais é do que uma taxa de juros, como a Selic no Brasil, que é responsável por equilibrar a economia.
Por exemplo, quando o Copom aumenta a taxa de juros, é para inibir o consumo, desaquecendo ele e assim, podendo controlar a inflação.
A taxa Selic não pode ser muito alta para tentar baixar a inflação, pois a economia pode ser levada à recessão, mas também não pode ser tão baixa, que estimule demais e volte a reaquecer a economia daqui a dois ou três anos, pois aí o efeito é o inverso e a inflação aumenta, assim como ocorreu em 2020, na época da pandemia que a taxa atingiu o patamar mais baixo da história, 2% [isso também não é bom]
Ou seja, a chamada taxa neutra (ideal) é aquela que consegue manter os investimentos e o movimento econômico em um bom patamar, sem estimular o crescimento da inflação, mantendo ela sob controle e estimulando os investimentos e o mercado de crédito e de trabalho.
“No Brasil, normalmente a taxa neutra está em torno de 3 a 4,5% acima da inflação. Como atualmente, o país tem uma meta de inflação de 3,25% com tolerância até 4,5% [atualmente em janeiro de 2024 está 4,62%], a taxa neutra ideal seria em 5,5% a 6,5%, baseando pela meta”, opina o economista.
Então, caso o Brasil finalize 2024 com pelo menos 8,5%, do atual patamar de 11,75%, já seria uma boa taxa para a economia crescer de forma mais contínua, com os juros mais adequados para as empresas tomarem crédito, fazerem investimentos e gerarem emprego e renda. Com isso, consequentemente a economia entra numa rota de crescimento.
Inflação
Apesar da inflação ainda não estar totalmente controlada, para o economista Vivaldo Lopes tudo indica que será possível chegar a uma média de 3% em 2025, e 2024 pode ser finalizado com uma inflação de 3,5%.
Vivaldo explica que o mercado também trabalha com fatores que não podem ser controlados, como por exemplo, a possibilidade de espalhamento da guerra no Oriente Médio que, caso ocorra, pode afetar diretamente o preço do petróleo e puxar a inflação para cima.
Ultimamente, os principais produtos que impulsionaram a inflação no Brasil foram combustíveis, como gasolina e diesel, além do gás e alguns produtos de alimentação.
Nos dias de hoje, os principais contribuintes da inflação continuam sendo os alimentos, em especial o arroz e o feijão e as passagens aéreas. O transporte aéreo em 2023 ajudou a puxar o índice inflacionário para cima, com passagens aéreas num patamar mais elevado, sendo considerado um movimento normal das companhias aéreas para recuperar os prejuízos da pandemia.
Vivaldo explica que as passagens áreas puxaram a inflação nos últimos meses. Isso porque, como atualmente existem apenas três companhias operando no Brasil, os valores aumentaram drasticamente com a pouca concorrência. Isso somado com a necessidade das pessoas de voltar a viajar após o período pandêmico faz com que mesmo com os preços elevados, as passagens sejam compradas.
“Eu não diria que a inflação está controlada, ela está mais civilizada, está caminhando mais para ficar próximo da meta do que explodir para 6 ou 7%”, esclarece o economista.
Medidores da inflação
Vivaldo Lopes explica que durante a ditadura militar, o Brasil conviveu com uma alta da inflação. Por conta desse fator, o país desenvolveu boa metodologia para acompanhar e calcular o índice inflacionário.
“É possível afirmar que o Brasil tem um dos melhores sistemas metodológicos para medir a inflação e mais, a inflação oficial é um dos índices calculados pelo IBGE, que é o IPCA. Mas o próprio IBGE calcula outro índice como o INPC”, explica.
Além desses medidores do governo, existem outros institutos que também monitoram a inflação, como a Fundação Getúlio Vargas (FGV), que é totalmente independente, e a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), que é da USP.