O professor de engenharia elétrica da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Danilo Souza, afirmou no segundo dia do XII Seminário de Energia que o mercado de biocombustíveis é fundamental para a transição energética, e Mato Grosso, tem esse segmento como perspectiva de futuro.
O evento foi realizado pela Sindenergia-MT com apoio da Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt) e patrocinadores. As palestras do segundo dia destacaram mais uma vez a importância na mudança dos hábitos e a necessidade de descarbonização que o planeta possui.
“Quando a gente fala em biocombustíveis, parte do mundo foi para os elétricos na mobilidade individual, mas não há perspectivas na aviação e na navegação em relação aos biocombustíveis, no curto e médio prazo. A não ser que a gente consiga resolver o problema da fusão [nuclear], mas isso ainda está um pouco distante”, apontou Danilo Souza.
Atualmente, a dificuldade é conseguir transformar os navios e aviões de carga que utilizam combustíveis fósseis para motores eletrificados ou movidos a biocombustíveis, e os mesmos continuarem com o mesmo desempenho, já que ambos emitem grande quantidade de CO2 na atmosfera.
Danilo utilizou o exemplo do querosene. “O querosene de aviação é unânime. E para trabalhar, por exemplo, com hidrogênio, há barreiras muito elevadas”, aponta.
Apesar de já existirem pesquisas voltadas a substitutos dos combustíveis fósseis para o setor de transporte, ainda não foi encontrado nenhum que opere com a mesma eficiência.
O professor disse que a mobilidade elétrica no Brasil já é discutida e funciona como um vetor individual de descarbonização no mundo todo. E, apesar de obter resultados a nível individual, não é tão fácil adaptar veículos que percorrem longas distâncias, a exemplo dos navios e aviões.
O professor Danilo Souza acrescenta, “é claro que existem outras vantagens e desvantagens também da mobilidade elétrica. Um veículo eletrificado tem eficiência menor do que um a combustão. Mas o que eu observo é que um dos setores que mais emitem gases do efeito estufa é o setor de transporte”, disse.
Danilo explica que, “o papel de Mato Grosso é fundamental, quando a gente fala em transição energética, que já foi muito dito. O Brasil está tentando fazer sua parte, mas dá para contribuir muito mais com a evolução dos biocombustíveis”, explica.
Atualmente, já existem combustíveis mais limpos para substituir os derivados de petróleo nos veículos a combustão, como explica. “Aqui em Mato Grosso, devido à crise do petróleo dos anos 70, nós conseguimos descarbonizar usando o programa Pró-Álcool, então nós temos aqui basicamente a bioenergia”, afirma.
O Pró-Álcool é um programa nacional que foi criado no governo de Ernesto Geisel, em 14 de novembro de 1975, com o objetivo de estimular a produção de álcool derivado de cana-de-açúcar ou qualquer outro insumo para atender as necessidades do mercado interno e externo em relação aos combustíveis automotivos.
A produção de etanol no país é majoritariamente feita a partir da cana-de-açúcar, porém nos últimos cinco anos, tem crescido também a importância de Mato Grosso na produção de biocombustível, devido à implantação de usinas de etanol que utilizam a base do milho, auxiliando assim, a sustentabilidade ambiental e a transição energética.
Mato Grosso é o segundo maior produtor de etanol de milho no país, segundo dados da Indústrias de Bioenergia de Mato Grosso (Bioind MT) e Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). Na safra 2024/25 devem ser produzidos 6,30 bilhões de litros de etanol proveniente do milho no Estado.
PETROBRAS – O Professor Fernando Siqueira, vice-presidente da Associação de Engenheiros da Petrobras, também discursou no segundo dia do XII Seminário de Energia.
Fernando apontou os problemas que a Petrobras vem enfrentando para manter seu lucro no Brasil.
O vice-presidente explicou que no período de 2005 a 2020, a relação de dividendos versus investimentos realizados foi muito menor, ou seja, a Petrobras tinha mais despesa do que lucro.
“Antes, um investimento de cerca de 40 bilhões de dólares por ano distribuía dividendos muito menores. Essa relação hoje é extremamente desfavorável, porque a Petrobras está investindo pouco e pagando muitos dividendos para os acionistas”, explica Fernando Siqueira.
Fernando ainda aponta que, “a maioria dos acionistas, cerca de 67% são privados, o governo fica apenas com 36% dos dividendos distribuídos. E esses acionistas [privados] não se dão conta que se não houver investimentos, não se descobre novas reservas, portanto a Petrobras deve ter um lucro cada vez menor no futuro”, afirma.
Quando o governo de Fernando Henrique Cardoso assumiu a presidência do Brasil em 1995, o Estado tinha 84% do capital social da Petrobras, hoje 29 anos depois, possui 37%. Ou seja, grande parte do lucro vai para os acionistas privados (em maioria estrangeiros) ao invés de ir para o povo brasileiro.
“Para gerar esse dividendo, a Petrobras tem cobrado muito dos combustíveis. Por exemplo, o óleo diesel custa um real para ser fabricado e ela [Petrobras] chegou a vender por R$4,50. Agora está vendendo por R$3,20. Mas ainda assim é um lucro de mais de 200%”, aponta Fernando Siqueira.
“A população sofre duplamente, paga caro pelo transporte e pelo combustível e tem uma inflação alta provocada pelos combustíveis. Por exemplo, nos últimos dois anos os produtos de alimento básico subiram 30%, principalmente em face do preço alto do óleo diesel que impacta a logística que leva os alimentos para a mesa dos brasileiros”, conclui.
Apesar do Brasil possuir a matéria-prima da gasolina, petróleo, até fevereiro deste ano, os Estados Unidos exportaram quase 70% (US$ 1,4 bilhão) do combustível para cá [Brasil], de acordo com dados da Fazcomex. Uma transação que financeiramente não beneficia o povo brasileiro.