O plantio de soja, em Mato Grosso, agora pode ser realizado até o dia três de fevereiro de 2022, tendo janela iniciada no dia 16 de setembro. A novidade traz boas expectativas aos produtores rurais que podem utilizar o maior tempo de plantio para poder produzir a própria semente, o que deve reduzir os custos com a compra do insumo e com a quantidade de defensivos agrícolas utilizados em seu cultivo.
O presidente do Sindicato Rural de Vera, Rafael Bilibio, explica que o custo por quantidade de semente suficiente para o plantio de um hectare, quando comprado das sementeiras tem girado em torno de R$ 500 a R$1 mil. Com o plantio dessas sementes feito pelos próprios produtores rurais, esse custo deve se situar em torno de R$ 400, incluindo o pagamento do royalty. “A alternativa de plantio vai trazer enorme benefício, criando estoque regulador no mercado, e garantindo liberdade para os produtores produzirem sua própria semente”, pontua.
A extensão de prazos na atividade está autorizada por meio da Portaria nº 389, de 1º de setembro de 2021, publicada anteriormente pelo Mato Grosso Econômico, atendeu ao anseio da maioria dos produtores representados pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT).
Para o presidente da Aprosoja/MT, Fernando Cadore, a nova regra é uma grande conquista para o produtor de soja do Estado. “A calendarização anterior foi estabelecida em 2015, não representava a realidade prática vivida pelo produtor no campo, o que foi comprovado cientificamente, inclusive mostrando uma sanidade e uma qualidade melhor do grão, quando plantado para semente em fevereiro”, afirma.
Para o presidente do Sindicato Rural de Canarana, Alex Whish, essa possibilidade de plantio da soja até fevereiro deve ampliar o número de agricultores que vão produzir a própria semente, grupo que hoje é formado por pelo menos 30% dos sojicultores mato-grossenses.
“Existe uma lacuna com a falta de sementes em Mato Grosso, além de encontrarmos problemas de germinação e vigor nos grãos para plantio disponíveis no mercado. Para a agricultura mato-grossense, plantar a soja para semente será fundamental para o desenvolvimento da nossa cultura”, avalia.
Whish destaca que uma das vantagens do plantio até fevereiro é que se reduz a necessidade de utilização de defensivos agrícolas, principalmente, fungicidas, já que é um período de menor umidade. Essa possibilidade de menor custo tem gerado interesse em muitos produtores, principalmente, em razão da precificação do custo de produção influenciado pelo dólar em alta, e pelos problemas de produção de insumos já anunciados pela China, que podem encarecer ainda mais os defensivos.
O produtor rural em Matupá, Leonardo Luiz Oss, também aposta na redução direta de custos com a nova janela de plantio. Ele ainda avalia se já vai plantar soja para semente ainda nesta safra, e que a decisão dependerá também da oferta do grão no mercado. Ele reforça que outros fatores também pesam em torno dessa questão, como a estrutura para armazenar a semente.
CIÊNCIA DIZ NÃO – Entidades, na maior parte ligada ao segmento de pesquisa do setor, elevaram a pressão sobre o Ministério da Agricultura pela revogação da norma. A Fundação Mato Grosso com o Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), a CropLife Brasil, entidade que representa empresas de biotecnologia e defensivos agrícolas e a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) pedem a imediata revogação da portaria que instituiu o calendário que permite o plantio de soja até fevereiro.
Em carta enviada à ministra Tereza Cristina, associações, cientistas e lideranças do setor, como o ex-ministro Roberto Rodrigues, defendem que as novas janelas com até 140 dias para semeadura da oleaginosa, instituídas pela Pasta, “elevam o risco fitossanitário com a proliferação da ferrugem asiática no País” e “colocam em xeque a sustentabilidade do sistema de produção da cultura da soja no Brasil”.
As entidades também sugerem a criação de um Comitê Nacional de Fitossanidade, de caráter consultivo, com a participação de especialistas do ministério, órgãos estaduais de defesa sanitária vegetal, Embrapa, entidades públicas e privadas, com o objetivo de implementar o Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja (PNCFS) e definir uma nova calendarização do plantio de soja ao Brasil. Ainda não houve nenhum retorno do Mapa.
Leia também: Mapa confirma receita recorde do agronegócio de Mato Grosso graças à soja, milho e boi